Este artigo analisa alguns paradoxos vivenciados por policiais militares evangélicos -membros ativos de congregações instaladas nos batalhões da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) -na busca por diálogo entre a sua fé, as prerrogativas de sua missão e os valores que informam a prática policial dominante. O estudo apóia-se no conceito de "técnicas de neutralização" de Sykes e Matza (1996), bem como na tipologia de Muir Jr. (1977) sobre as respostas policiais dos chamados "paradoxos da coerção". A análise mostra que a retórica maniqueísta da "batalha espiritual" é transposta para o ambiente policial militar e apropriada vigorosamente pela experiência da coerção. Esse resultado parece informar a construção de padrões éticos evangélicos de atuação policial, em que os conflitos cotidianos são encaminhados como expressões visíveis da influência nefasta do demônio, responsável pelo crime, pela devassidão e por toda sorte de comportamentos socialmente reprováveis. PALAVRAS-CHAVE: polícia militar, cultura policial, evangélicos, batalha espiritual, discricionariedade policial. INTRODUÇÃOO processo civilizador submeteu o monopólio do uso legítimo da violência ao Estado, confiando-o a um grupo altamente exclusivo de indiví-duos, responsáveis por resguardá-lo. Estes a quem a sociedade e o Estado outorgam o direito de coibir as formas de violência não-autorizadas -se necessário, com o uso da própria violência -tornam-se seres socialmente ambíguos, vítimas e algozes do poder de que foram investidos. No exercício desses atributos poderosos, submetem-se a riscos constantes que podem levá-los a se tornarem pessoas intelectualmente cínicas e moralmente degeneradas. Sua missão é eminentemente política: operar, nas fronteiras da legalidade, uma determinada ordem social; negociar seus princípios formais e as realidades sempre imperativas da vida social (Elias, 1994;Weber, 2000).Dentre as categorias profissionais autorizadas a desempenhar esse papel, os policiaisbem como as forças armadas, 1 muito embora com enfoques bastante distintos -dispõem do recurso ao símbolo último do poder coercitivo para executar sua missão: a arma. No exercício de seu ofício poderoso, esses agentes enfrentam ameaças constantes, em que frações de segundos podem encenar escolhas -dramáticas e nem sempre conciliáveis -entre vida e morte. Entretanto, diferentemente de seus opositores, os policiais encontram-se constrangidos em suas ações por leis, regulamentos, expectativas sociais, princípios éticos e valores. "Poderosos, mas não absolutamente poderosos" (Muir Jr, 1979, p.4
Pursuing the broader political effects of the relationship between violence, mobility, and inequality, the article describes some of the grounded political-economies (re)producing social inequalities in Brazil and South Africa, and a discontinuous experience of the urban space. This fragmented spatial experience is produced by the simultaneous operation of a discursive apparatus projecting a split ideal of “city”, and grounded social mechanics, in the intersection of values and power relations. In Johannesburg, South Africa, we’ve described the creation of Maboneng, a “urban development project”, to highlight the role of social mobility and growing class aspirations as powerful political vehicles for neoliberal markets reissuing old apartheid socio-spatial divisions. In Rio de Janeiro, Brazil, we’ve explored the relationship between the State and its margins to understand the production of the milícia as a violent anti-modern capitalist venture, aiming to control the circulation of people, capital and political support in the city.
Qual é a política da segurança, para além da política de segurança pública? A polícia justifica sua existência profissional pela atribuição de fiscalizar e garantir a adesão dos indivíduos a um determinado regramento, seja ele legal ou consuetudinário. A lei, entretanto, não é capaz de antever todas as condutas concretas dos sujeitos, e a polícia, por sua vez, também não é sua mera replicadora. Seu espectro de intervenção (o que a polícia de fato faz) supera de longe o argumento que justifica a legalidade de suas ações e seus objetivos manifestos. No caso do Morro do Palácio, uma favela de Niterói, busquei apresentar os efeitos de repercussão da atuação policial para além de suas consequências imediatas sobre o cotidiano da favela, explorando sua dimensão política e seus potenciais rendimentos econômicos, entre o legal e ilegal. Nesse sentido, busquei destacar o papel da segurança no funcionamento de dispositivos de reprodução da estrutura das desigualdades e seus rituais de desigualação em sua operação insidiosa sob o manto da democracia participativa brasileira. Essas forças de conservação na mudança, trabalhando fortemente ancoradas no cotidiano palaciano, participavam da (re)produção do status quo da desigualdade social e da exclusão na cidade de Niterói. Em última análise, como mais tarde se tornou claro, a interação dessas forças resultava em uma elaborada técnica de governo, uma economia que tinha seu lado visível, beneficiando oligarquias políticas e econômicas, mas também jogava uma mão oculta nas sombras da ilegalidade, criando um ambiente lucrativo para todos os tipos de oportunistas da insegurança.
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