Na modernidade, os discursos filosófico e literário tendem a reservar para a arte o papel privilegiado de instância de verdade, terapêutica e pedagogia para a vida e sobre a vida. Ao mesmo tempo, a prática artística frequentemente é legitimada por discursos de verdade sobre a natureza, o social e o sentir. Isso a despeito de, ao contrário de outras formas do pensamento humano como a ciência e a filosofia, a verdade não ser para a arte um objeto central. Essa relação intrincada com a verdade, associada ao seu alegado poder sobre o sujeito, indica uma semelhança entre a arte e a direção de conduta: um discurso ancorado em narrativas de verdade que procura moldar a subjetividade na direção de formas pré definidas do desejo. Papel que a arte parece ser capaz de assumir, mas não completamente e ao custo de seu próprio poder que reside no caos da incompatibilidade entre o homem e a linguagem descoberta pela modernidade, o caos do texto sem um corpo presente que limite suas possibilidades de sentido. Este trabalho investiga as possibilidades abertas ao se pensar a arte, simultaneamente, como direção de conduta e texto sem corpo, e o artista como a personagem que navega essa ambivalência.
O presente dossiê é resultado do “II Encontro Nacional e I Encontro Internacional de Biopolítica: Os desafios da atualidade” realizado pelo grupo de pesquisa “(des)Leitura: Filosofia, Ciência e Arte”, existente desde 2004 na Universidade Estadual de Londrina (UEL – PR). O grupo (des)Leitura já vem atuando, há um bom tempo, em participações de eventos nacionais e internacionais, bem como em publicações. Sobre estas, vale ressaltar, além de artigos especializados, os livros Foucault em múltiplas perspectivas (Londrina: EDUEL, 2013), Michel Foucault: desdobramentos (Belo Horizonte: Autêntica, 2016) e Ensaios de biopolítica: entre caminhos e desvios (Santo André, EdUFABC, no prelo). Além dos integrantes do grupo, de diversas áreas do conhecimento (filosofia, psicologia, direito, música), participam deste dossiê tanto pesquisadores nacionais como internacionais, que trazem novas problematizações e enriquecem os debates em torno da biopolítica.
Este artigo propõe uma análise crítica da relação compositor/intérprete a partir da proposta do intérprete emancipado conforme articulada por Paulo de Assis. Situamos historicamente as configurações e mecanismos de poder que marcam a divisão de trabalho a partir das concepções de disciplina e soberania de Michel Foucault. Posteriormente, analisamos proposições metodológicas e artísticas fundamentadas na atualização da noção de Obra musical concebida por Assis. A fim de compreender os limites e as contradições que marcam tal proposição, traçamos paralelos entre a abordagem do autor e os procedimentos de controle do discurso. Acreditamos que tal via analítica nos possibilite compreender os mecanismos de ordenamento, delimitação e exclusão que marcam as formações discursivas pautadas no eixo da relação compositor/intérprete.
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