Os tanques naturais do Nordeste do Brasil têm sido amplamente analisados em termos paleontológicos. Entretanto, estudos relacionados à origem e morfologia dessas depressões naturais encontram-se estagnados desde a década de 1990. O presente trabalho tem como objetivo apresentar novas interpretações sobre a gênese desses tanques, bem como estabelecer uma nomenclatura correlacionável internacionalmente e propor uma classificação morfológica dessas feições. Foram consultados trabalhos acadêmicos elaborados desde o início do século XIX até artigos mais recentes, incluindo teses e dissertações, sobre a utilização do termo, a importância paleontológica e origem dos tanques naturais no nordeste brasileiro. Este trabalho propõe a utilização do termo tanque natural (raso e escarpado) para as cavidades naturais, de origens não-fluviais, sobre o embasamento cristalino, e manter o termo marmita, ou caldeirões, para aquelas de origem fluvial. Os modelos prévios para a origem dos tanques baseavam-se em três importantes situações, em ambiente subaéreo, para a formação dessas cavidades. Neste trabalho associa-se a corrosão química e a migração e concentração de cargas em subsuperfície como processos importantes para a gênese dos tanques naturais. Ao contrário da necessidade da superfície estar exposta para iniciar a formação da cavidade, o tanque pode ter sua origem e desenvolvimento associado ao ambiente subedáfico.
Los tanques (mega gnammas) de origen natural excavados en roca constituyen formas de tamaño medio muy frecuentes en los relieves graníticos del Noreste de Brasil. El estudio de los sedimentos acumulados en el interior de esos tanques naturales se ha convertido en una fuente de datos de gran interés para el conocimiento de la paleontología cuaternaria de Brasil. Este tipo de cavidades habituales en zonas de sustrato granítico, una vez expuestas en superficie han actuado como depocentros locales para los flujos de agua y sus sedimentos asociados, a veces fosilíferos, lo que ha convertido estas concavidades en auténticas tanatocenosis. El estudio sistemático de las acumulaciones fosilíferas se ha convertido así en la principal herramienta para reconstruir las condiciones paleoambientales y paleoecológicas durante parte del período Cuaternario en la Región Intertropical Brasileña.
Os tanques naturais (stricto sensu) constituem importantes feições geomorfológicas que ocorrem no município de Itapipoca (CE), os quais acomodam, ocasionalmente, sedimentos quaternários com relevante conteúdo fossilífero. O ''Tanque Jirau 01'', situado no Sítio Paleontológico Jirau, tem destaque entre as diversas depressões que ocorrem no município cearense, tanto no aspecto geomorfológico quanto paleontológico. O tanque fossilífero Jirau (TF01) é um tanque natural escarpado, que foi formado no embasamento cristalino, apresentando morfologia de fundo do tipo côncavo. A depressão segue a orientação WNW-ESE e encontra-se, parcialmente, preenchida por depósitos sedimentares areno-argilosos, com conteúdo fossilífero proveniente da megafauna cenozoica. Em relação aos aspectos dimensionais, o TF01 possui uma extensão com mais de 50 metros de comprimento, dispondo de uma largura máxima de 5,30 metros e profundidades de até 5 metros. A conformidade dos aspectos geomorfológicos, além de atribuir ao TF01 uma extraordinária beleza cênica, também permitiu oferecer no passado uma área de estoque e disponibilidade de água para a fauna e, posteriormente, a população local em períodos de estiagem. No interior do tanque é possível verificar o registro de estruturas menores nas laterais, feições semelhantes a favos de mel e/ou alvéolos com tamanhos centimétricos, e indícios de processos intempéricos de contato solo-rocha vinculados à corrosão química. Embora exista no meio acadêmico estudos paleontológicos sobre o material encontrado nas depressões de Itapipoca, ainda há pouco material vinculado aos condicionantes responsáveis pela possível origem e desenvolvimento destes tanques naturais na região. O presente estudo traz uma análise inicial a partir da caracterização morfológica e do controle tectono-estrutural do tanque natural Jirau 01 (TF01), área de importante referência científica no município de Itapipoca (CE).
A Estrada Real entre as Minas Geraes e o Rio de Janeiro entre os séculos XVII e XVIII, partia inicialmente da Vila de Paraty, no litoral sul fluminense, e atravessava a Serra do Mar na altura da cidade paulista de Cunha, no vale do Paraíba. Utilizava uma trilha de índios Goianás que atravessava a Serra do Facão, antiga toponímia local. Com o novo traçado da Estrada Real finalizado em 1725, o trecho ficou conhecido como “Caminho Velho”. Em 2004, cerca de 4 km do Caminho Velho na localidade da Penha foram recuperados e abertos à visitação. Neste local é possível observar: a) pavimento com blocos rochosos com arestas e faces arredondadas ou retilíneas assentados em base de solo compactado com espessura de até 15 cm; b) geometria do pavimento em mosaico com rejunte de seixos arredondados centimétricos; c) matacões autóctones em matriz argilosa ao longo de trechos pavimentados e não pavimentados indicando que, neste trecho, ao caminho percorre um depósito de tálus; d) matacões maiores e proeminentes na paisagem utilizados como “pedra de vigia”; e) matacões semidesmontados indicando extração de blocos no local. Petrografia macroscópica de matacões e de blocos e seixos do pavimento revelaram constituição única por granito megaporfirítico da Suíte Paraty, composta por granitos pós-colisionais Eopaleozóicos. O mapeamento geológico na vertente da Serra do Mar acima de Paraty demonstra que, na região, ocorre um largo corpo intrusivo da Suíte Paraty, que produz afloramentos nas cotas superiores, matacões em depósitos de tálus nas encostas e seixos em pequenos alvéolos aluvionares. O material rochoso utilizado no pavimento mais antigo (século XVII) foi retirado em depósito aluvionar situado na transição entre o trecho de subida e a planície costeira. As rochas utilizadas na renovação feita no século XVIII foram extraídas de matacões de granito distribuídos ao longo do caminho.Palavras-chave: Estrada Real; arqueologia colonial; proveniência geológica. ABSTRACTPROVENANCE OF THE MATERIAL USED IN THE PAVEMENT OF THE OLD PATH OF THE ROYAL ROAD BETWEEN PARATI (RJ) AND CUNHA (SP). The Royal Road between Minas Geraes and Rio de Janeiro between the seventeenth and eighteenth centuries, initially departed from the town of Paraty, on the southern coast of Rio de Janeiro, and crossed the Coast at the city of Cunha, in the valley of Paraiba do Sul River. It used an old Indian trail crossing the Serra do Facão, ancient toponymy site. With the new layout of the Royal Road completed in 1725, the section was known as Caminho Velho (Old Path). In 2004, about 4 km from the Old Path in the Penha Village were recovered and open to visitors. At this site you can see: a) a pavement with boulders with rounded edges and faces seated on compacted soil base with thickness up to 15 cm b) a mosaic pavement filled with centimetric rounded pebbles c) boulders in clay matrix along paved and unpaved areas indicating that the path traverses a deposit of tálus d) prominent large boulders used as "stone guard" e) fractured boulders indicating extraction of blocks in site. Macroscopic petrography classify boulders, blocks and pebbles revealed as megaporphyritic granite. This is known as the Paraty Granite from a Eopaleozoci post-collisional granite suite. Geological mapping on the slope of the Serra do Mar shows that in the region there is a large body of the Paraty Granite that produces outcrops at higher elevations, boulders in tálus slopes and pebbles in small alluvial plains. The rocky material in the old pavement (seventeenth century) was extracted from a nearby alluvial deposit. The rocks used in the renovation made in the eighteenth century were extracted from granite boulders spread along the way.Keywords: Royal Road; colonial archeology; geological provenance.
ResumoAs estradas brasileiras no Período Colonial e no Império passaram de caminhos pioneiros de penetração a vias de transporte de mercadoria e pessoal. Inicialmente, estas vias não eram pavimentadas, a não ser em trechos restritos e de curta extensão, como os acessos íngremes de serra. Neste trabalho são descritos oito destes trechos situados na Serra do Mar, construídos entre os séculos XVIII e XIX: a Calçada do Lorena, o Caminho do Ouro, a Trilha do Ouro, a Estrada Imperial, a Serra da Calçada, a Estrada do Comércio, a Calçada de Pedra e a Estrada da Taquara, todos entre São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ). O Caminho do Ouro e a Calçada de Pedra são trechos do Caminho Velho e do Caminho Novo da Estrada Real, respectivamente. A Calçada do Lorena, em Cubatão (SP) e a Calçada de Pedra, em Magé-Petrópolis (RJ) se destacam pela ligação cultural e econômica entre o litoral e o interior, tendo como origem as duas maiores metrópoles brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro. Os padrões de calçamento e o tratamento do material variaram de acordo com o período da obra e com a disponibilidade de recursos e capacidade técnica dos executores. Em pelo menos dois sítios preservados (Caminho do Ouro e Calçada de Pedra), observou-se que o calçamento foi feito com rochas obtidas em jazidas próximas. A disponibilidade do material pétreo utilizado foi, portanto, condicionada à diversidade geológica local. Palavras Chave: patrimônio histórico, estradas calçadas, proveniência AbstractTHE STONES OF COLONIAL AND IMPERIAL PAVED ROADS FROM SOUTHEASTERN BRAZIL. The Brazilian roads in the Colonial Period and the Empire passed, from pioneering paths of penetration, to ways of transporting merchandise and personnel. Initially, these roads were not paved, except in restricted and short stretches, such as steep mountain access. This work describes eight of these stretches located in the Serra do Mar, built between the 18th and 19th centuries: Calçada do Lorena, Caminho do Ouro, Trilha do Ouro, Estrada Imperial, Serra da Calçada, Estrada do Comércio, Calçada de Pedra and Estrada da Taquara, all between São Paulo (SP) and Rio de Janeiro (RJ). The Caminho do Ouro and the Calçada de Pedra are sections from the Old and the New Imperial Road (Estrada Real), respectively. The Calçada do Lorena, in Cubatão (SP) and the Calçada de Pedra, in Magé-Petrópolis (RJ) stand out for the cultural and economic link between the coast and the interior, having as origin the two largest Brazilian cities, São Paulo and Rio de Janeiro. The pavement patterns varied according to the period of the work and with the availability of resources and technical capacity of the executors. In at least two preserved sites (Caminho do Ouro and Calçada de Pedra), it was observed that the pavement was made with rocks obtained in nearby deposits. The availability of the stone materials was, therefore, conditioned to the local geological diversity.Keywords: historical heritage; paved roads; provenance
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