Ao longo da última década, pautas e bandeiras feministas se popularizaram, alcançando importante aderência junto à juventude. Como aponta pesquisa conduzida pela Fundação Perseu Abramo (2010), entre 2001 e 2010 houve um aumento de 10% no número de brasileiras que se consideram feministas (31%). A identidade é ainda mais presente entre jovens de 15 a 17 anos (40%), número que pode ser maior se cruzado com outros indicadores, como escolaridade e região.A juventude emerge como um lugar político dentro do feminismo (Maluf 2006), muitas vezes através de uma trajetória comum: já sensibilizadas por discussões virtuais sobre o tema, é nas universidades onde as jovens estudantes têm acesso aos estudos de gênero, à teoria feminista e ao que aqui nos é mais relevante: a militância e os coletivos feministas. Contudo, o ensino superior não é vivido por elas apenas como lugar de aprendizado, mas também como um espaço de hierarquias tradicionais e estruturas patriarcais violentas. Nos Estados Unidos, estima-se que um quarto das estudantes universitárias já sofreram o chamado "campus rape" 1 . As denúncias de estudantes da UFPR elencadas no relato a seguir demonstram que agressões como essa parecem ser intrínsecas à cultura universitária.Como professora substituta do Departamento de Antropologia nos anos de 2015 e 2016, acompanhei de um lugar privilegiado, ao mesmo tempo aproximado e distante, os embates dessa nova geração feminista dentro da Universidade Federal do Paraná. O objetivo desse texto 2 é descrever uma série de eventos que ocorreram no fi nal do primeiro semestre de 2015, envolvendo alunas, alunos, coletivos feministas, paredes, reitoria, professores e diretores de curso, em torno de denúncias relativas à violência sexual. Destacarei as transformações de sensibilidades envolvidas nesse processo e o lugar da universidade na reprodução, ou enfrentamento, de violências machistas.
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