Escrita no fim dos anos 1960, a peça A lata de lixo da história se insere num momento da maior importância da vida social brasileira e, igualmente, da de seu autor, Roberto Schwarz. Seu contexto de produção foi, do ponto de vista nacional, de acirramento repressivo da ditadura civil-militar brasileira e, do ponto de vista pessoal de Schwarz, de sedimentação de uma virada crítica bastante significativa. Nesse sentido, é interesse deste trabalho analisar a peça à luz das transformações pelas quais passava o país em articulação com uma certa sedimentação de derrota histórica da ideia de formação nacional que ia se afigurando ao jovem Roberto Schwarz. No centro de nossa análise está a noção de dialética, tão central ao ponto de vista materialista de Schwarz. A despeito de variados estudos que têm sido feitos a respeito de sua obra, pouco tem se discutido, a não ser em chave celebratória, sobre o modo como a dialética se opera em seu trabalho. Refiro-me, sobretudo, ao modo como a luta de classes em sua acepção brasileira é figurada pelo crítico, levando em conta, sobretudo, sua visão sobre a margem de arbítrio praticamente absoluto das elites brasileiras e uma noção algo estática das relações escravistas. A escolha pela peça se deu justamente porque ela cristaliza uma convivência de temporalidades contraditórias que revela um certo sentimento de época diante do que significava a ascensão dos militares ao poder em 1964, bem como elucida aspectos contraditórios da produção schwarziana pouco comentados em sua fortuna crítica.
Em meados de 2020, o Brasil já somava meses de quarentena em decorrência da pandemia de Covid-19. Em respeito aos protocolos de segurança, a entrevista foi feita por Skype. A despeito de recorrentes falhas de conexão, a conversa se deu por quase quatro horas.Carlos Berriel é professor de Teoria e História Literária na Universidade Estadual de Campinas. Há alguns anos tem se dedicado ao estudo e tradução de utopias. Suas primeiras pesquisas acadêmicas, no entanto, se debruçaram sobre outro assunto: o Modernismo paulista. Escreveu uma dissertação de mestrado sobre o romance Macunaíma, de Mário de Andrade, e, no doutorado, analisou a figura de Paulo Prado, um dos mentores da Semana de Arte Moderna de 1922. Nesses trabalhos, orientados por Roberto Schwarz, Berriel procurou situar o chão histórico e ideológico sobre o qual o movimento modernista estava situado. Na pena do crítico, despontou, então, um movimento artístico de relação bastante significativa com as oligarquias cafeeiras paulistas. Algo um tanto distante das visões mais consagradoras do movimento, que muitas vezes o qualificam como um momento da cultura brasileira de ruptura estético-social com um certo marasmo político-cultural predominante no país até então.A ideia desta entrevista era retomar esses estudos, os quais Berriel tem abordado apenas ocasionalmente desde sua defesa
Em uma entrevista realizada em 2004, Chico Buarque pontuou uma certa agonia da forma canção no Brasil por conta da emergência do rap no cenário musical. Na visão do artista, menos do que a impossibilidade de se fazer canções, o que estaria em jogo seria o declínio de uma certa forma de sociabilidade brasileira que estaria no seio da formação do sistema cancional brasileiro. É intenção deste trabalho pensar o manejo que Chico Buarque procura mobilizar do sistema cancional brasileiro, bem como as saídas que procura elaborar na literatura. Nesse sentido, o que é posto em discussão são as especificidades que a tradição brasileira da canção ofereceria para lidar com a matéria histórica brasileira quando comparada com as possibilidades oferecidas pelo sistema literário local. Para tanto, procuraremos analisar tais sistemas (e suas respectivas possibilidades) por meio da fortuna crítica interessada em debater suas respectivas especificidades históricas, bem como pelas perspectivas que Chico Buarque levantou na entrevista de 2004 e em outros momentos.
Categoria de grande importância na vida intelectual brasileira, a ideia de “formação do Brasil” guarda relação profunda com os projetos de modernização nacional que se foram estabelecendo no país, sobretudo, a partir da década de 1930. Tendo em vista que os diferentes projetos de modernização nacional possuem divergências significativas entre si, reduzi-los a um modelo único seria uma “abstração violenta” (SAYER, 1987). Por outro lado, ao assumirem certa tarefa histórica de “fazer o país”, permitem-nos pensá-los em conjunto. Não é por acaso, portanto, que tal noção figure, em título ou “em espírito”, em alguns dos textos mais importantes do pensamento social brasileiro. No caso da crítica literária, ela é central na modulação do pensamento de dois de seus agentes de maior prestígio: Antonio Candido e Roberto Schwarz. Normalmente associados pela continuidade de seus métodos e avaliações críticas, procurarei neste trabalho discutir e historicizar a maneira pela qual estes críticos acabam por mobilizar um cabedal metodológico comum, associado à ideia de “formação”, mas apontam para horizontes históricos distintos e, assim, apresentam diferenças das mais significativas entre seus trabalhos. Dessa forma, algo da visão consagrada de Schwarz como continuador do trabalho de Candido é posto em discussão.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
customersupport@researchsolutions.com
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.
Copyright © 2025 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.