<p>Questões como a influência da tecnologia no cotidiano e as soluções e problemas que poderiam advir da relação cada vez mais próxima entre homens e máquinas e a observação mais científica do mundo e mais humana das ciências, são as chaves pelas quais pretende-se desvendar os contos que perfazem um percurso repleto de imagens corpóreas, sensações, devires no livro <em>Histórias naturais</em>, publicado em 1966 pelo escritor italiano Primo Levi (1919-1987). As metáforas levam significado de um domínio ontológico para outro, criando uma relação que não se encontra na natureza, assim o texto busca na linguagem da ciência e na obsessão pelos arquivos todo um arcabouço semiológico, de forma a dar relevo aos processos de submissão do humano à máquina e à tecnologia. A partir da obsessão contemporânea pelo arquivo, como descrita por Jacques Derrida e das noções de biopoder de Michel Foucault, do poder de promover a vida ou desautorizá-la ao ponto da morte, pretende-se observar as metáforas literárias em <em>Histórias naturais</em>, do qual emergem a ciência e o arquivo, com suas linguagens e técnicas como alegoria bem construídas a favor do poder, da dominação e da destruição do outro.</p>
Entoar cânticos à terra natal deixada para trás é comum àqueles que migram. O poeta Gonçalves Dias dedica versos à terra amada, num cântico de saudade e lamento pela ausência. Na epígrafe retirada de Contos amazonenses, 1 de Leão Esaguy, o narrador, parodiando o escritor romântico, lamenta não a terra deixada para trás, mas a vontade de conhecê---la e, assim, poder cantá---la. Na repetição, em diferença, o narrador deixa vislumbrar ao leitor a expressão da busca por uma identidade, por uma terra que seja sua. Leão Pacífico Esaguy nasceu em Itacoatiara, uma pequena cidade no interior no Amazonas, em 1918, filho de imigrantes judeus oriundos da África. Sua obra, tem, como pano de fundo, o fluxo migratório de judeus provenientes do norte da África para todo o Amazonas que, desde o século 19 e início do 20, marca sua presença. Em Itacoatiara, muitos judeus se dedicaram à venda e à troca de castanhas, peles e pedras preciosas. 2 Esaguy, que realizou seus primeiros estudos em Portugal, presenciou o declínio da presença judaica na região e, segundo Henrique Veltman, em Hebraicos da Amazônia, o último judeu deixou Itacoatiara em 1980. 3 Esse homem, apelidado de Chunito, em entrevista, lembra---se dos tempos em que havia minian 4 na casa de sua prima Ester Esaguy e, também, dos grandes homens da família Peres, importantes comerciantes e políticos da época áurea em que a presença dos judeus era marcante na cidade. Os dois contos que compõem Contos amazonenses -"ʺSatã, o felino maldito"ʺ e "ʺOs fantasmas da comadre Maroquinha"ʺ ---refletem muito da paixão de Esaguy pela selva amazônica e sua cultura.
Por meio de uma análise crítica do conto “Os dragões” de Murilo Rubião, seu detalhamento e sua comparação com dois textos bíblicos, pretendese demonstrar como uma comunidade coesa tem dificuldade em aceitar o diferente em seu meio. Considerado um grave delito pela cultura judaica bíblica, a quebra da lei da hospitalidade, será analisada, neste ensaio, tendo por cruzamento os textos “Ló recebe em sua casa os dois anjos” (Gn 19:2-22) e “O levita e sua concubina” (Jz 19) e também a inserção do monstro ou do estranho no meio de uma comunidade homogênea.
Resumo: A cultura judaica é baseada em fortes tradições familiares, predominantemente religiosas, que, somada ao caráter gregário de sua fé, como o sempre necessário minyan, ou quórum mínimo de dez homens para as celebrações e cultos, conseguiu manter os grupos unidos em meio a diversas culturas. As necessidades do culto e o grande poder exercido pela tradição promoveram certa coesão de grupo, entretanto, elementos oriundos das culturas em contato, de certa forma, influenciaram as minorias judias, acrescentando novos elementos ou alterando as suas práticas diárias. A coletânea de contos Os dispersos, da escritora carioca Janette Fishenfeld, enfoca esses contatos e os conflitos criados por eles: um casal que percebe a impossibilidade de ficarem juntos pela tradição; o velho Zeide, o avô, interno de um asilo que relembra o passado no momento que se dirige ao brit-milá do bisneto, em meio a família completamente assimilada -essas e outras situações em que as tradições judaicas entram em conflito em face das novas possibilidades de vida no Brasil, sua cultura, suas necessidades de adaptação para sobrevivência. Este artigo pretende, assim, apresentar como esta escritora recria, em seu texto, a aculturação, a assimilação e os conflitos com a tradição judaica.Palavras-chave: Assimilação. Cultura. Tradição. Imigração. Judaísmo.Abstract: The Jewish culture is based in strong familiar traditions, most of them religious, which added to the gregarious character of their faith, as the always necessary minyan of ten men for the celebration and worship, it has succeeded keep united their groups in the middle of different cultures. All the needs of the Jewish worship and the wide power of the tradition have created certain cohesion of group, however, elements originated of the cultures in contact somewhat have influenced the Jewish minorities, adding new elements or changing some of their daily practices. The book Os dispersos, a collection of seven short stories, from the Brazilian writer Janette Fishenfeld, focuses these contacts and the conflicts created by them: a couple that understand that it is impossible to be together, separated by the tradition; the old Zeide, the grandpa, inmate of a home for old people, that remembers the past, in the moment that he goes to the brit-milah of his great-grandson, among his assimilated family -those and other situations in which the Jewish traditions crash against the new life possibilities in Brazil and among the Brazilian culture, and their needs of adaptation for survive. This article intends to present how this writer recreates in her text all this situations of acculturation, assimilation and the conflicts with the Jewish tradition.
Mors Omnia Solvit" (Brocardo latino) Um livro de Salmos e uma máxima em latim, tudo guardado no mais absoluto segredo dentro de um cofre, são alguns dos elementos presentes em A morte tudo resolve, de Luiz Kignel. A frase, em epígrafe, com sua tradução homônima ao título do livro, aparece logo nas primeiras páginas. Brocardos são princípios ou axiomas jurídicos que expressam um conceito ou regra maior, com um conteúdo didático, principalmente por resumirem em poucas palavras uma sabedoria e transpô-la para um entendimento universal.Esses antigos ensinamentos ocorrem, ainda, no discurso de juízes, promotores e advogados, porque o Direito brasileiro se baseia no romano e, para além de um recurso retórico ou argumentativo, a utilização desses termos denota conhecimento e erudição. Assim, à sombra da morte que a tudo poderia resolver, uma trama de espionagem em indústrias e sucessão empresarial, heranças e crimes se desenrolam com a abertura de um testamento, numa trama na qual advogados se desdobram, também, para além de seus encargos, em detetives e espiões. Na história, Thomas Lengik, advogado da área cível, em uma viagem a trabalho à Argentina, conhece, no aeroporto de Ezeiza, Benjamin Stein, que também retornava ao Brasil, num avião distinto. O voo de Stein para São Paulo é, porém, cancelado, e ele viaja, coincidentemente, com Lengik, que lhe cede, gentilmente, seu assento para melhor acomodar o industrial já idoso. Benjamin Stein é sobrevivente da Shoah, tendo trabalhado duramente no Brasil, para onde imigrou após a guerra. Ele, segundo relata ao novo amigo, tornara-se um rico empresário, dono de um vasto império industrial no ramo alimentício, fato esse que despertava a inveja de muitas pessoas, devido aos grandes lucros que * Doutorando em Letras no Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários da Universidade Federal de Minas Gerais.
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