A partir de pesquisa etnográfica e documental, o artigo apresenta uma genealogia do movimento LGBT moçambicano desde sua origem até os dias atuais. Nesse sentido, ele aborda as primeiras festas homossexuais; o primeiro jornal do movimento; a institucionalização do movimento na organização “LAMBDA”; e a relação desta última com o Estado moçambicano. Dois são os argumentos aqui apresentados: respondendo aos debates sobre os discursos de exogenia da homossexualidade em África, argumento que a história do movimento LGBT local é uma das razões pelas quais faz sentido para o senso comum, em Moçambique, atribuir a “homossexualidade” aos estrangeiros, aos brancos e à cidade. Em segundo lugar, o artigo busca se contrapor aos africanistas que enfatizam a homofobia no continente, demonstrando a particular ambiguidade que há na relação do Estado Moçambicano com o movimento LGBT local.
RESUMO No presente artigo, fruto de pesquisa histórica e etnográfica, apresento alguns arquivos coloniais portugueses e estrangeiros no que concerne à vida (homo)sexual pretérita dos homens do sul de Moçambique. Ao trazer tais dados, que vão desde a literatura de viagem até os boletins oficiais da Província, argumento pela escassez de registros sobre o homoerotismo na história colonial de Moçambique até o século XX. Ao analisar os casamentos entre homens moçambicanos nas minas sul-africanas, e os processos - até agora inéditos - sobre a penalização das práticas homossexuais no período tardo-colonial em Moçambique, argumento que o silêncio sobre a sexualidade, atribuído aos bantus desta região, pode ser também efeito do pudor do colonizador português, ainda que tenha sido ele o instaurador, naquele território, de uma nova categoria: a “homossexualidade”.
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