Resumo Desde o final dos anos 1960, há tentativas de produção de um contraceptivo masculino reversível com eficácia equivalente à da pílula anticoncepcional. Até hoje, esse produto não foi lançado, e as justificativas para tal baseiam-se em entraves de ordem política, econômica, cultural e biológica. O argumento do obstáculo fisiológico tem bastante proeminência nessas explicações e será o nosso foco neste artigo. Com base nos estudos de gênero e ciência, buscamos compreender como esse raciocínio aparece no trabalho de viabilização dessa tecnologia por um ator de destaque no campo, a organização não governamental (ONG) estadunidense Male Contraception Initiative. Por meio da técnica de análise de documentos e com base na metodologia de análise do discurso, buscamos compreender como o corpo masculino é representado e, consequentemente, materializado nesse processo de viabilização de uma “pílula masculina”, e debater o caráter generificado das concepções e intervenções biomédicas. Observa-se que a função reprodutiva dos homens cisgêneros é construída como complexa e, em certo sentido, resistente a intervenções farmacológicas. Tal caracterização se dá em comparação com o corpo feminino cisgênero, que é configurado como mais acessível para a realização da contracepção. A tradicional associação entre mulheres e reprodução e homens e sexo é facilmente reconhecida nessas perspectivas.
Resumo O objetivo do artigo é analisar como é concebido o usuário de um anticoncepcional masculino por um ator relevante no campo, a organização não governamental estadunidense Male Contraception Initiative. A partir de uma abordagem socioantropológica, utilizamos a técnica de análise de documentos para compreender como ali se configuram a aceitação e o perfil dos possíveis consumidores de tal tecnologia. Observamos que a construção do homem usuário se realiza com base em uma concepção igualitária dos direitos reprodutivos, enfatizando o direito de os homens - assim como as mulheres - terem autonomia e controle sobre a própria fertilidade. Há uma expansão do perfil do usuário em relação a tentativas anteriores de disponibilização de uma “pílula masculina”, mas, ao enfocar a noção dos homens como sujeitos de direitos reprodutivos, tal construção pode gerar conflitos com questões centrais dos movimentos feministas.
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