As condições laborais da produção cultural têm positivado uma racionalidade neoliberal, normatizando a precarização do trabalho ao mesmo tempo em que responsabiliza os trabalhadores pelo sucesso individual e pelo sucesso da economia geral. No entanto, nos últimos vinte anos, houve um crescimento quantitativo dos estudos e do ensino em produção cultural. Dessa forma, propõe-se entender a profissionalização de produtores e produtoras culturais entre uma formação crítica dentro da Universidade e uma formação própria do mercado neoliberal. A questão central aqui é se as universidades devem adaptar os indivíduos a essas regras de mercado e/ou devem colaborar na construção de um discurso de enfrentamento. Para tanto, foi realizada: uma revisão de mapeamentos sobre formação em produção cultural no Brasil; um estudo sobre as condições laborais dispostas na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO); e uma análise, a partir de entrevista semiestruturada da trajetória de uma recém-graduada no curso de produção cultural da Universidade Federal Fluminense, a fim de entender como o ensino e o contato com políticas culturais nesse espaço podem modificar a atuação de um indivíduo no campo.
Partindo da trajetória da professora Marina Bay Frydberg e de suas análises sobre a Antropologia da Música em diferentes regiões do Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, dialogamos sobre as questões territoriais e como elas modificam as perspectivas dentro de um mesmo campo de estudo. Através dessas pesquisas, refletimos sobre novos e necessários olhares para as construções de identidades, tradições e mercados de trabalho.
A figura jurídica do microempreendedor individual (MEI) tem sido cada vez mais utilizada no mundo do trabalho. Embora idealizada para atribuir certa formalização para trabalhadores/as informais, diversas empresas a utilizam como substituição à carteira assinada, ampliando a desproteção social de trabalhadores/as. No mundo do trabalho cultural, a adoção do modelo por conta própria, que compreende o MEI, já é a principal forma de ocupação. O que se propõe investigar neste artigo é se a adoção do MEI se estende também para transformações subjetivas e sociais, para além das materiais. A partir do caso de produtores/as culturais, busca-se entender ainda quais estratégias os/as trabalhadores/as passam a realizar, quando se tornam MEI, para garantirem trabalho e renda. Para tanto, foram realizadas 05 entrevistas semiestruturadas e em profundidade com produtores/as culturais na cidade do Rio de Janeiro (2018-2020), a fim de entender como a modificação do mundo do trabalho nessas perspectivas reflete na vida dessas pessoas.
O presente artigo tem por interesse contribuir para o debate das muitas tensões entre a esfera laboral da cultura no Brasil e o domínio de um governo específico das condutas individuais no neoliberalismo, sendo a ocupação “produtor/a cultural” – concebido hoje como um mediador do mercado profissional de grande porte ou consagrado – seu foco objetivo. Assim, tomamos por análise a Classificação Brasileira de Ocupações, em específico seu catálogo de habilidades e competências sugeridas. Destacamos algumas de suas expectativas, onde procuramos estabelecer uma aparente justaposição com uma nova racionalidade típica do sujeito neoliberal contemporâneo.
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