O artigo aborda a relação entre crianças de terreiro e os seus etnosaberes produzidos no universo dos cosmosentidos do candomblé. Enquanto religião de matriz africana onde a biointeração é um dos princípios basilares, o candomblé e seu universo apresentam uma extensa gama de saberes tradicionais que são construídos e vividos no cotidiano. Compreender como as crianças de terreiro produzem seus conhecimentos traz consigo o intento de pensar a infância e seu poder criativo através de uma afroperspectiva onde a multidimensionalidade, multirreferencialidade e a polissemia do saber se mostram a todo momento, nas ideias nascentes vividas, por exemplo, quando as crianças exploram o território do terreiro com a astúcia de quem conhece o que nós, adultas e adultos, não conhecemos. Na produção desenhística das crianças e nas suas narrativas é possível aprender sobre etnosaberes, cultura e ancestralidade através de itans, orikis e neolinguagens próprias dos seus universos simbólicos onde imagens e rituais didáticos unem teoria e prática, sensível e racional. Ademais, as crianças apresentam um caleidoscópio inventivo de saberes como guias para outros caminhos e possibilidades educacionais a luz das relações étnicas.
Neste artigo nos detemos na análise dos desenhos de crianças de terreiro sobre o legado africano existente na festa de São Bartolomeu, que acontece na cidade de Maragojipe- Ba, situada no Recôncavo Baiano. O nosso objetivo centra-se em investigar como as crianças maragojipanas com identidade afro-brasileira desenham um dos territórios culturais do festejo a São Bartolomeu, santo católico sincreticamente relacionado ao orixá Oxumaré. Compreendemos que a cidade de Maragojipe possui um legado ancestral africano o qual faz parte da sua constituição histórica e cultural. Dessa forma, para além dos elementos da cultura ocidental católica, reverberados pela memória oficial, o espaço maragojipano apresenta também símbolos e mitos originários dos povos africanos e afro-brasileiros, os quais se territorializam através das identidades dos sujeitos, por exemplo, no momento de festejar o santo padroeiro da cidade. Na produção imagética das crianças, fez-se possível conhecer o universo cosmogônico dos seus territórios étnicos desde a preparação do festejo, até o momento em que os corpos, cores, cheiros e sabores celebram nas ruas da cidade São Bartolomeu e Oxumaré. Para tanto, desenvolvemos a investigação através de um estudo etnográfico, o qual possui em seus esteios básicos a prática da observação e análise das dinâmicas interativas e comunicativas dos sujeitos em seus espaços. Em diálogo com o método etnográfico a investigação teve como guia norteador a “Hermenêutica da Profundidade” que assevera o estudo das formas simbólicas como fundamentalmente e inevitavelmente uma questão de compreensão e interpretação. Assim, por meio das produção imagéticas das crianças foi possível conhecer o território cultural da festa de São Bartolomeu através do olhar de quem experiencia o festejo a partir do seu próprio território e das relações estendidas com o universo cultural africano e afro-brasileiro.
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