Meu objetivo neste capítulo é descrever a Análise Crítica do Discurso (ACD) como um método que possa ser usado na pesquisa social científica. Pretendo referirme, especificamente, a aspectos selecionados de um objeto de pesquisa particular: o papel diferenciado da liguagem no novo capitalismo. Devo declarar previamente que guardo certas reservas quanto ao conceito de método. Não é difícil pensar em método como uma espécie de habilidade transferível se considerarmos a definação do termo como uma técnica, uma ferramenta numa caixa, da qual se pode lançar mão quando necessário e depois devolvê-la. A ACD, na minha visão, é muito mais uma teoria que um método, ou melhor, uma perspectiva teórica sobre a língua e, de uma maneira mais geral, sobre a semiose (que inclui a línguagem visual, linguagem corporal, e assim por diante) como um elemento ou momento do processo social material (WILLIAMS, 1977), que dá margem a análises linguísticas ou semióticas inseridas em reflexões
A presente entrevista nos foi concedida pela professora Dra. Kassandra Muniz, especialemnte para o dossiê “Perspectivas Queer nos estudos da Linguagem” da Revista Cadernos de Linguagem e Sociedade (UnB). A interação que deu corpo a este texto aconteceu entre o final de outubro e o início de novembro de 2020. Na verdade, o que aqui discutimos registra boa parte das tensões teóricas e políticas promovidas por linguistas aplicadxs e linguistas queer brasileirxs, engajadxs com a desnaturalização dos processos discurisvos que subalternizam sujeitos desviantes da cis-heteronormatividade e da branquitude, como eixos importantes de opressão. Dentre outras coisas, nossa conversa girou em torno da decolonização de epistemologias e de práticas políticas; da volta do corpo para os estudos da lingaugem; do potencial antiessencialista e estratégico da perspectiva de linguagem como performance nos estudos racais, de gênero e de sexualidade; da noção de “Linguagem como Mandinga” enquanto “artimanha ancestral” para (des)pensar colonialidades, cis-hetronormatividades e brancocentrismos; da consideração da interseccionalidade como lente analítica para a compreensão do cruzamento entre eixos de subordinação e de resistência; e, por fim, do papel dos processos educativos para a produção de subjetividades críticas ao cis-patricado, à heteronormatividade e à branquitude.
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