Neste artigo, buscaremos evidenciar alguns aspectos do método de composição de Machado de Assis, responsável pela elaboração de uma crítica sutil à sociedade de seu tempo. Para isso, analisaremos as técnicas discursivas utilizadas em uma série específica de crônicas, Bons dias!, publicada no final do século XIX no jornal Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro. Dentre os recursos observados, destacaremos o processo de estilização de tipos sociais diversos por parte do narrador-cronista, capaz de gerar caricaturas sofisticadas da sociedade da época.
RESUMO O objetivo deste artigo é problematizar algumas linhas de força da argumentação de Dominique Maingueneau sobre a constituição de um dispositivo teórico e metodológico para o estudo da literatura na perspectiva discursiva. Para isso, partimos do cotejamento de suas teses com pressupostos fundadores da análise do discurso de tradição francesa e com proposições coetâneas dos estudos literários. Se, por um lado, a proposta de Maingueneau figura como uma sistematização importante de concepções norteadoras de uma análise do discurso literário, por outro, posiciona-se lateralmente quanto à necessidade de consideração epistemológica pela especificidade do discurso literário, gerando o risco da descaracterização histórica e social da literatura.
RESUMOO propósito deste artigo é expor as linhas mestras de uma pesquisa de doutorado em fase inicial de desenvolvimento. Partiremos de uma discussão teórica a respeito de ethos, estilo e mímesis, com o interesse maior de proceder a uma revisão das duas últimas noções, advindas respectivamente da estilística tradicional e da Teoria Estética, na tentativa de adequá-las e situá-las no interior dos pressupostos discursivos e, além disso, avaliar a pertinência de um quadro teórico em que se possa conjugar essas categorias entre si e ainda articulá-las com o estudo da emergência das emoções no discurso, linha de pesquisa relativamente recente na Análise do Discurso (LIMA, 2006(LIMA, , 2007. Com a intenção de aproximar teoria e análise, procederemos também ao estudo de um diário, escrito entre 1893 a 1895 por Alice Dayrell Caldeira Brant. Em função de sua composição discursiva, que alia a natureza autobiográfica ao registro social e cultural da época, o diário apresenta características privilegiadas em função de nossos interesses. Embora nosso ponto de partida teórico seja o da Análise do Discurso de tradição francesa, buscaremos instrução também em outros campos do conhecimento como a Estilística, a Teoria Estética e a da Psicologia Social, devido à natureza híbrida de nossos objetivos.
Palavras-chave:Ethos discursivo, emoções no discurso, estilo, mímesis, análise do discurso.
QUESTÕES INICIAIS
Há quase trinta anos, Jaqueline Authier-Revuz já atestava o crescente interesse pelo estudo dos desdobramentos do sujeito na atividade comunicativa. Em artigo inaugural sobre o tema, a pesquisadora propõe alguns procedimentos de análise com o objetivo de identificar e interpretar as formas linguísticas e discursivas que inscrevem a voz do "outro" na sequência discursiva assumida por um sujeito. A partir desse trabalho, a complexidade enunciativa, que envolve a diversidade de aparições de vozes no enunciado de um sujeito, ficou conhecida como "heterogeneidade enunciativa".No campo de estudos da linguística da enunciação, a consideração da subjetividade como elemento constituinte do enunciado tem suas raízes mais evidentes em Émile Benveniste (2005), para quem o sujeito tem uma posição privilegiada no quadro teórico. Por mais disperso que esteja na própria enunciação, o sujeito deixa marcas linguísticas que evidenciam sua presença, identidade e posicionamento diante do dito. Nesta linha teórica, * UFMG.
publicação semestral do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em seu volume 22, n.1jan./jun. 2022, dedica o espaço ao dossiê "Análise do Discurso e Literatura: impasses e vias de acesso". Nesta edição, abrimos o volume com uma entrevista com Dominique Maingueneau,
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