Vestígios de um fio, semelhante ao novelo de Ariadne, porém, apontando para um futuro por estar preso à mão de um menino, que contempla com sua mãe o além-mar. O fio se faz resistente, à espreita das Moiras, tecedoras, talvez desses destinos humanos cujos olhos contemplam um horizonte, marcado por uma linha sem fim. Destinos que pleiteiam um mundo de possibilidades, de outras terras possíveis de serem alcançadas -destino certeiro da gaivota: uma [outra] ilha -quiçá a ilha do sonho, do drama estático pessoano "O marinheiro", antevista pelas veladoras na noite profunda. A ilustração que abre a apresente edição da Anuário de Literatura é de autoria de Hassis -tão prestigiado e reconhecido artista [naturalizado] catarinense -e faz parte do livro de contos "Este mar Catarina", de 1983.Então, a imagem que se afigura como mote, escorrega do "lado de dentro" do livro para o "lado de fora". Ressignificação movediça própria da literatura, da leitura que fazemos enquanto objeto de pesquisa, sintagma resultante das leituras plurais que compõem este número.Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
Resenha do livro de Eduardo Jardim, A doença e o tempo: aids, uma história de todos nós, lançado pela editora Bazar do Tempo, em 2019.
Vera Sabino, na tela Rendeira da Lagoa da Conceição, surpreende os devaneios de uma jovem mulher com paisagem ao fundo sem que os hábeis dedos descuidem do maneio dos bilros. Entre imaginação e labor a renda se faz. Inevitável não evocar a ideia já consagrada de que todo texto é um tecido, tessitura. Por sinonímia, especialmente dedicado ao estudo das condições de possibilidade das literaturas contemporâneas de expressão portuguesa, equivale dizer que o presente número foi urdido numa parceria entre a revista Anuário de Literatura, publicação do Programa de Pós-Graduação em Literatura (UFSC) e o Real Gabinete Português de Leitura, sediado no Rio de Janeiro, cuja concepção surgiu em decorrência das recentes comemorações do Ano de Portugal no Brasil e Ano do Brasil em Portugal. Concorde a esse horizonte de expectativas, o volume 18 número 2 se abre com Damas e Donas de si: leituras de Minha Senhora de Mim de Maria Teresa Horta eMinha Senhora de Quê de Ana Luísa Amaral, de Fabio Mario da Silva, que procura identificar no corpus de análise evidenciado no título do seu artigo uma poética na qual o "eu" lírico constrói uma obra sui generis dentro de uma perspectiva feminista (feminina). Lido como "o intelectual em trânsito", o poeta moçambicano falecido recentemente Virgílio de Lemos é palavra-chave do artigo de Luciana Brandão Leal. A autora investiga em que medida a poesia de Virgílio Lemos produzida entre 1944-1963 se revelou rebelde e transgressora em relação ao gosto literário predominante em Moçambique e, ao considerar a produção
Resumo: as imagens do cinema incorporam experiências humanas e tecem sentidos entrela-çados aos elementos da realidade. As histórias narradas no cinema compõem, de forma plástica, reverberações da arte da memória descrita por Cícero e Quintiliano. Diante disso, falaremos sobre os estilhaços da cultura nos movimentos estéticos e éticos ocorridos na modernidade e a conservação de ícones e emblemas que persistem na atualidade das imagens do cinema. Para tanto, pontuare-mos, nessas imagens, elocuções e ornamentos alusivos ao tempo e ao passado. Destacam-se os mitos e suas personificações precárias materializados em sentidos, tanto nas formas plásticas como nas literárias. Palavras-chave: Alegoria. Cinema. Memória. O tempo é o elemento material que constitui a condição de nosso "eu", de nossas "almas". As imagens do cinema incorporam essas alegorias e as inserem nas correlações com a cultura e a memória. Nesses suportes artísticos e temáticos, as relações com a materiali-dade do tempo ocorrem pela duração da imagem e seus emblemas visuais que, ao agrupar ruídos perdidos, imagens desconexas, resíduos, sensações e reminiscências que poderiam ser esquecidas, enfim, as imagens e signos do mundo ganham corpus luminoso sob a forma de reminiscência. O tempo é necessário para que o homem, criatura mortal, seja capaz de se realizar como perso-nalidade. Não estou, porém, pensando no tempo linear, aquele que determina a possibilidade de
De acordo com o calendário chinês e japonês, o ano de 2012 é o ano do Dragão, uma criatura que vislumbra o imaginário coletivo de inúmeras culturas, e que angaria para si peculiaridades inerentes ao olhar de determinados povos. No Japão e na China, por exemplo, representa a paz e é celebrado a cada Ano-Novo. Seja na lembrança de uma serpente ou de um réptil, sua marca primordial é a luz púrpura que divisa de suas narinas. Pela luz divisada, do fogo, luz que remete à tela do cinema, vemos na imagem do dragão, analogamente, a do refletor, o emissor da verdade que se transfigura pelo olhar. É por conta desse fogo, dessa luz divisada, que escolhemos para capa da presente edição a imagem de um Dragão (sem título, técnica sumi-ê, pintura em nanquim sobre papel) elaborada pela artista Nadir Ferrari, que adotou Santa Catarina para criar raízes. Um dragão em vias de movimento, que pressupõe preparação para o ataque, atitude que precede um ritual, em posição de reverência, circundado por peixes -discípulos que o cerceiam, ciceroneiam.O cinema inclui uma poética que está intrínseca à retina. Olhos e ouvidos atentos para o que se configura diante da imagem refletida: dragão-refletor. Luz viva, luz negra, vibrante furta-cor. Cinema, literatura, adaptar uma ação: adaptação. Diálogos. Polissemia. Vozes em movimento.Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
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