ResumoPartindo de exercícios etnográficos, o texto apresenta experiências diaspóricas de mulheres rezadeiras que, ao migrarem do Nordeste brasileiro para a “Amazônia Bragantina”, no Estado do Pará, a partir da década de 1950, tiveram suas vidas marcadas pelo processo de iniciação junto a entidades da encantaria brasileira (Prandi, 2004). Em viagens noturnas a cemitérios, transfigurações, transportes físicos, vidências e andanças em corpos de animais, ventos e águas, essas rezadeiras revisitaram “mundos” e “tempos” imemoriais, passando a dialogar com pajés e “poderosos” rezadores do Maranhão, Paraíba, Piauí e Ceará, deixando ver pessoas e encantados em outros sentidos de deslocamento. A crença na capacidade das entidades de acompanhar as pessoas detentoras do “dom de rezar” até o Pará, bem como de transitarem continuamente nesses locais, nomadizando-se (Deleuze; Guattari, 1995) entre o “lá” e o “aqui”, constitui o fenômeno da “diáspora dos encantados” (Brah, 2011; Hall, 1999, 2009). A convivência com essas mulheres ensina, entre outros aspectos, a defender concepções de encontros e deslocamentos de culturas que percebam a alteridade radical da cosmologia das ciências humanas, mesmo quando esta se crê fielmente situada em lugares de partida, movimentos de passagem ou chegada, esquecendo, muitas vezes, que se trata não de lugar, mas de trânsitos materiais e simbólicos.
ResumoEm Capanema, no nordeste do Pará, mulheres rezadeiras, motivadas por fotografias, tecem narrativas históricas desvelando trajetórias de migrantes nordestinos para o município, elaborando representações do conflituoso cotidiano da vida urbana. Por meio de sensibilidades urdidas em simbiose de corpo, voz e imagens, as narradoras produzem práticas de leitura que permitem questionar a escrita convencional da história local, consagrada nos jogos mentais de centenas de moradores. Este artigo, portanto, seguindo a metodologia da História Oral e dialogando com intelectuais dos Estudos Culturais e Antropologia da Religião, ao cruzar a leitura de imagens oficiais com a interpretação dada pelas rezadeiras sobre tramas e dramas da urbe, numa perspectiva "vista de baixo" e popular, esgarça imaginários cristalizados, trazendo para a escrita da história outras experiências e paisagens culturais comumente postas nas dobras de retratos emoldurados pelo discurso do poder hegemônico.Palavras-chave: Cidade, memórias, imagens. BENEATH OFFICIAL MEMORIES: CITY, IMAGERY, AND HISTORY IN THE VOICES OF PRAYER WOMEN FROM CAPANEMA-PA AbstractIn Capanema, northeastern Pará, prayer women, motivated by photographs, weave historical narratives unfolding trajectories of Northeastern migrants to the city, producing conflicting representations of daily urban life. Through sensibilities woven in symbiosis of body, voice and images, the narrators produce reading practices that allow questioning the conventional writing of local history, enshrined in mental games of hundreds of residents. This article, therefore, following the methodology of oral history and dialoguing with Cultural Studies and Anthropology of Religion scholars, when comparing the reading of official images with the interpretation given by the prayers on plots and dramas on the town, under a view "from below" and popular perspective, challenge crystallized imaginary, bringing to the writing of history other experiences and cultural landscapes, commonly placed in the folds of portraits framed by the discourse of hegemonic power.
Resumo O Caboclo Ataíde é uma entidade da encantaria amazônica que se manifesta próximo dos rios e mangues no litoral do nordeste paraense, município de Bragança, conhecido como um “caboclo” ou “encantado” que emerge das narrativas das populações locais sob a forma de animais. O artigo analisa a presença do encantado em dois aspectos. No primeiro, apreende-se o ato de “enrabar” pessoas em ambientes de pesca, retirada de caranguejo e festas, penetrando-lhes o “rabo” e “xiri” repentinamente, causando dores e doenças com variados efeitos; o segundo é a capacidade de proteger pessoas acometidas pela “malinação” de outros encantados, sendo evocado por rezadores e pajés da região para combater ou “tirar as cordas” dos chamados “caboclos brabos”. Narrativas acerca do ato de enrabar e proteger, alternativamente, visibilizam elementos da relação cosmológica da entidade em variadas formas de afetação nos espaços do trabalho, do prazer e da cura.
A Terra Indígena Mãe Maria está localizada próxima ao município de Bom Jesus do Tocantins, estado do Pará, na área nomeada de Amazônia Oriental. Na primeira quinzena do mês de Setembro de 2015, alguns povos indígenas da região realizaram uma quantidade de encontros objetivando aproximar as aldeias, dirimir conflitos, tensões passadas e manter as "tradições indígenas", conforme comunicou-nos o cacique Kýikatêjê, Pepkrakte Jakukreikapeiti Ronore Konxarti, conhecido entre os não indígenas como "Zeca Gavião". Reuniões entre lideranças, jogos de flecha, caçadas e partilhas de caça foram algumas das atividades desenvolvidas pelos respectivos grupos. O evento denominado de "1º Encontro do Hàk e Pán (Arara e Gavião) da Terra Indígena Mãe Maria" contava com a participação dos povos Kýikatêjê, os Kôjakati, Krijamretijê, Krijôhérekatêjê e Krâpeitijê.A culminância dos "jogos de integração" foi o "jogo da corrida de tora", atividade envolvendo a participação e a habilidade de homens e mulheres no deslocamento de toras de madeira por um determinado percurso. Para além do processo de feitura das toras -momento de profundo conhecimento no corte de árvores sumaumeiras e a devida paciência em permitir secá-las -e a especifica dinâmica de carregar as toras no centro da aldeia Kýikatêjê -disposição dos corredores e estratégias nos diferentes percursos -, buscamos priorizar, neste ensaio fotográfico, a relação que o ato de correr, materializado no corpo desses povos, mantém com as paisagens da mata na lente-retina fotográfica. A poeira erguida pelos pés dos corredores na terra de chão batido e o contato dos corpos com as toras, sob o sol em interação com a ventania e odores da mata, fazem da corrida de tora um cenário que implode a tradicional distinção entre a ideia de "figura central" e "pano de fundo", no que tange a experiência visual da cultura.
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