Recorte de minha dissertação de mestrado, o presente trabalho, situado no campo da Linguística Aplicada, apoia-se nas teorias do círculo bakhtiniano (BAKHTIN/ VOLÓCHINOV, 2017) para apresentar as principais características do Palavreando: uma proposta de aplicativo educacional móvel para surdos, cujo objetivo central é auxiliar a aprendizagem de palavras em Português-Libras. Para o desenvolvimento da proposta, parti da ideia de que a aprendizagem de palavras realiza-se como um processo discursivo, plurilíngue e multimodal de construção de sentidos. Atualmente, o app é objeto de estudo de uma pesquisa doutoral em andamento e encontra-se em fase de pilotagem. Espera-se que o Palavreando venha a constituir-se como um recurso que possibilite aos surdos resistirem aos sentidos estabilizados, resignificá-los e construí-los segundo seus repertórios e experiências de vida. Para tanto, o aplicativo deve ser compreendido como um objeto que ganha vida no uso pela comunidade e que, portanto, está em constante processo de (re)construção.
Neste artigo, proponho-me a discutir o Palavreando: uma proposta de aplicativo educacional móvel voltado às comunidades surdas, cujo propósito é se constituir como um espaço em que essas comunidades, por meio da mobilização e ampliação de seus patrimônios vivenciais (MEGALE e LIBERALI, 2020), possam construir sentidos para palavras-sinais em Português-Libras. A partir de uma compreensão ontoepistemológica das pessoas surdas, de suas dores e de suas urgências em relação à educação linguística, a discussão aqui apresentada pretende ampliar as percepções já lançadas ao aplicativo e ao seu design em trabalhos anteriores, e, assim, discutir o potencial do Palavreando em possibilitar que as comunidades surdas expandam seus patrimônios vivenciais e, dessa forma, ampliem seus potenciais de agência e mobilidade.
Uma das principais dificuldades da comunidade surda em relação à aprendizagem da língua portuguesa está na aquisição de vocabulário. Os dicionários tradicionais não costumam ser eficientes para que os alunos entendam o significado das palavras, uma vez que apresentam verbetes com explicações em língua portuguesa, a partir de outras palavras desconhecidas por eles. Não se trata apenas de desconhecer o sinal da palavra em Libras, mas de compreender o significado dela. Dessa forma, a internet, por apresentar recursos multimodais como imagens estáticas, imagens em movimento, vídeos, etc., é uma grande aliada dos surdos na busca por esses significados. Pensando nisso, o presente projeto de pesquisa buscou investigar como as tecnologias digitais podem auxiliar o processo de aprendizagem do português como segunda língua por essa comunidade, principalmente, no que se refere à aquisição de vocabulários através de glossários construídos a partir de atividades contextualizadas, como é o caso dos Memes.
O arrojo do rio, e só aquele estrape, e o risco extenso d'água, de parte a parte. Alto rio, fechei os olhos. Mas eu tinha até ali agarrado uma esperança. Tinha ouvido dizer que, quando canoa vira, fica boiando, e é bastante a gente se apoiar nela, encostar um dedo que seja, para se ter tenência, a constância de não afundar, e aí ir seguindo, até sobre se sair no seco. Eu disse isso. E o canoeiro me contradisse: -"Esta é das que afundam inteiras. É canoa de peroba. Canoa de peroba e de pau-d'óleo não sobrenadam…" Me deu uma tontura. O ódio que eu quis: ah, tantas canoas no porto, boas canoas boiantes, de faveira ou tamboril, de imburana, vinhático ou cedro, e a gente tinha escolhido aquela. Até fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra! A mentira fossemas eu devo de ter arregalado dôidos olhos. Quieto, composto, confronte, o menino me via. -"Carece de ter coragem…"ele me disse.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.