Este artigo apresenta uma análise e reflexão sobre a produção da idéia da infância no Brasil. Religião, ciência, progresso, indústria, comércio e civilização são alguns dos signos que têm participado da configuração e construção desse conceito no contexto brasileiro. Diante da complexidade da questão e da proliferação dos discursos sobre a infância, examina-se aqui um deles, bastante expressivo no século XIX, que incide na combinatória entre regenerar e civilizar. Esta fórmula, cuja legitimidade foi forjada no interior da ordem médica, determinou que o trabalho viesse a focalizar a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (FMRJ), um dos lugares em que o tema da infância esteve presente regularmente ao longo do século XIX. Com a perspectiva de analisar as representações que a respeito da infância foram produzidas, trabalhou-se com parte da produção da FMRJ, sobretudo com as teses defendidas pelos alunos ao final do curso para a obtenção do título de doutor. Além disto, fez-se incursões precisas nas atas do I Congresso Brasileiro de Protecção á Infância e no conjunto das teses da I Conferência Nacional de Educação, na tentativa de indicar a permanência da infância na ordem do discurso médico, a ênfase na necessidade de sua higienização e certos deslocamentos das representações.
Ao explorar essa dupla indagação, trabalho com a hipótese de que os manuais adotados no tempo de formação dos médicos oitocentistas colaboraram para o delineamento e a confirmação da doutrina da higiene entre nós, que implicava, por exemplo, uma reordenação da idéia de medicina e de humanidade. Descrevendo o mundo que viam com base em um pêndulo no qual se marcava o certo e o errado, bem como o caminho que conduziria a um e a outro, os médi-cos formados na Corte Imperial, variando nas estratégias, incidiam, contudo, em objetivo assemelhado: produzir sujeitos higiênicos, higienizados e higienizadores. Grau de afinidade atingido graças ao que lhes era proporcionado, inclusive as leituras.Palavras-chave: Educação. Higiene. Higienização.
Estabelece o ciclo de vida da Revista Pedagogica, que foi o primeiro periódico especializado em questões educacionais financiado pelo poder público republicano, e que circulou entre 1890 e 1896. Com isto, se examinam o lugar de produção do discurso oficial (o Pedagogium), bem como suas motivações. São definidas as três fases distintas pelas quais o periódico passou ao longo de sua existência e, finalmente, é problematizada a idéia de que sua extinção teria representado apropria extinção do uso do impresso como dispositivo de modelação dos discursos e das práticas pedagógicas por parte do Estado. Para tanto, sugere-se que a continuidade dessa estratégia permaneceu, seja na revista que sucedeu imediatamente a Revista Pedagogica - a Revista Educação e Ensino -, seja em outro periódico mais recente e que continua sendo oficialmente publicado - a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEP). Abstract In this article, I establish the Revista Pedagógicas cycle of life, the first periodical especialized in the educational subjects financed by republican public power, between 1890-1896 and I consider the place of official discourse (Pedagogium) as well their motivations. I define the three distinct phases the periodical passed over its existence and finally I question the idea that its extinction represented the extinction of printed use as a device of modeling discourses and pedagogical practice on the part of the State, ¡suggest that the continuity of this strategy remained in the magazine that succeeded immediately the Revista Pedagogica - the Revista Educação e Ensino, and in other periodical more recent that remains being officially published- the Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEP). Résumé Dans cet article j'établis le cycle de vie de la Revista Pedagogica, premier périodique spécialisé dans les questions éducationnelles financé par le pouvoir publique républicain. Cette revue a existé entre les années 1890 et 1896. J'examine, ainsi, le "lieu " de production du discours officiel(Pedagogium) et quelques-uns de ses objectifs. Je difinis aussi les trois étapes distinctes par lesquelles a passé la revue tout au long de son existence et, finalement, je cherche à discuter de façon critique l'idée selon laquelle son extinction pourrait représenter la fin même de l'usage de la presse écrite en tant que moyen de formation d'un modèle de discours et de pratiques pédagogiques de la part de l'État. Par celà, je sugère que la continuité de cette stratégie s'est faite aussi bien par le revue qui a eté publiée immédiatement après la fin de la Revista Pedagogica - appelée Educação e Ensino -, que par un troisième périodique, plus récent, et encore aujourd'hui publié officiellement - la Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEP). Resumen En el artículo, establezco el ciclo de existencia de la Revista Pedagogica, que fué el primer periódico especializado en temas educativos financiado por el poder público, tiendo el mismo circulado entre 1890 e 1896. Con esto, examino el lugar de la "producción " del discurso official (Pedagogium) asi como algunas de sus intenciones. Defino, en el trabajo, las tres fases distinctas por las quales el periódico passó a lo largo de su existencia y por último procuro poner en duda la idea de que su extinción teria representado la propia extinción del uso del impreso como dispositivo de modelación de los discursos y prácticas pedagógicas por parte del Estado. Para tanto, sugiero que la continuidad de esta estrategia permaneció sea en la revista que sucedió inmediatamente a la Revista Pedagogica - la Revista Educação e Ensino -, sea en otro periódico más reciente y que permanece siendo oficialmente publicado - la Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEP).
IntroduçãoCiclos. Etapas. Momentos. Fases. Níveis. Está-gios. Períodos. Idades. Estes substantivos, apesar das diferenças que guardam entre si, contêm e auxiliam na construção da idéia de vida segmentada, aspecto que consiste em um ponto de articulação comum entre eles. Remetem e reforçam a tese de que é possível, valendo-se de recursos variados, reconhecer aspectos comuns nas diferentes partes da cronologia da vida. É, portanto, no interior dessa crença que a idéia de infân-cia vem sendo formulada e reproduzida, acoplando-se a ela a criação e reordenação de instituições que passaram a ser estreitamente vinculadas à etapa "mais tenra da vida", como diria Fénelon, no final do século XVII.Nesse sentido, caberia indagar: o que há de mais homogêneo nessa "primeira idade" da vida? Responder a essa questão supõe estar atento para os critérios empregados na identificação dos seus traços comuns. Ariès, em seu conhecido trabalho História social da criança e da família, chama a atenção para os elementos da fantasia, tradição e exatidão que envolvem a inscrição de um novo ser no mundo civil. Fantasia na escolha do nome. Tradição no sobrenome. E exatidão na definição das idades. Exatidão que convive, segundo ele, com a heterogeneidade dos critérios adotados para descrever/compreender o desenvolvimento humano. Assim, a vida já foi repartida de acordo com o número de planetas, signos do zodíaco, ou mesmo meses do ano. Repartição e terminologia que nos parecem estranhas, mas que à época traduziam noções partilhadas pelos representantes da "ciência", correspondendo igualmente a um sentimento popular e comum da vida (Ariès, 1981, p. 38).Com a popularização das "idades da vida" indicadas pela iconografia e outras fontes consultadas por Ariès, estas passaram a ser associadas não apenas a etapas biológicas, mas também às funções sociais.
RESUMO: Neste artigo, procuro analisar três aspectos que funcionarão como ferramenta para pensarmos a emergência da infância. Em um primeiro momento, refiro-me a algumas experiências-limite da vida, na medida em que elas ajudam a arranhar as visões que naturalizam a vida e a infância, em especial aquelas forjadas no interior do campo médico. Na sequência, tento demonstrar que a ideia de infância não pode ser pensada no exterior das instituições que lhe são associadas, como a casa e a escola. Por fim, procuro chamar atenção para o fato de que a institucionalização geral da infância se encontra profundamente acoplada a projetos de governo da população, inclusive da "população infantil", projeto este que, por sua vez, se vê ancorado em saberes oriundos da demografia, da higiene pública e do urbanismo, por exemplo. Palavras-chave: Infância; História da Infância; História da Educação. THE EMERGENCE OF CHILDHOOD ABSTRACT:In this article, I try to look at three aspects which will serve as a tool to ponder over the emergence of childhood. At first, I refer to some limit of life experiences, in a way that they help scrape the visions that naturalize life and childhood, in particular those forged within the medical field. Next, I try to demonstrate that the idea of childhood cannot be disconnected from associated institutions, such as home and school. Finally, I try to draw the attention to the fact that the children's general institutionalization is deeply bound to government projects aimed at the population, including the so-called "child population", a project which, in turn, is anchored on the knowledge of demography, public hygiene and urbanism, for instance.
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