A partir da década de 1970, a agroindústria canavieira passou por um processo de modernização e diversificação da produção que assegurou a sua expansão para além das regiões tradicionalmente produtoras. Nos últimos anos, esse processo ganhou mais visibilidade pelas condições favoráveis do açúcar e do álcool no mercado internacional e pela entrada dos investimentos internacionais nesse setor. Essas mudanças alteraram a dinâmica do mercado de trabalho, as formas de seleção, os tipo de contrato de trabalho, a organização do trabalho agrícola e o perfil dos trabalhadores. Nesse cenário é que os empresários continuam priorizando a contratação dos trabalhadores migrantes para o trabalho na safra da cana. A razão primordial dessa preferência se evidencia nos elevados níveis de produtividade desses trabalhadores no corte da cana. Eles foram habituados, desde criança, ao trabalho duro na terra para assegurar a sobrevivência da família. O trabalho nos canaviais não os amedronta, mesmo quando as exigências impostas os colocam no limite da sua capacidade física que deteriora seu corpo, trazendo sérias conseqüências para sua saúde. Este artigo mostra a deterioração nas condições de trabalho nos canaviais e explicita as medidas paliativas colocadas em prática pelos usineiros para melhorar as condições de trabalho, sem alterar as exigências e os níveis de produtividade do trabalho, as formas de remuneração e o controle da produção.
Resumo Beto Novaes é professor aposentado do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde coordena o projeto Educação através das Imagens. Desenvolve desde meados dos anos 1970 pesquisas e atividades de extensão baseadas no uso de imagens sobre trabalho e trabalhadores, em sua maioria no setor rural. Imagens são o meio que utiliza para aproximar a pesquisa e o saber acadêmico da sociedade, descontruindo hierarquia de saberes na qual o conhecimento acadêmico seria superior. Suas produções têm origem em demandas sociais para tratar de problemas com pouca visibilidade social, dentre eles: a exploração do trabalho e as migrações no mundo rural; trabalho infantil e das mulheres; resistências dos trabalhadores; agroecologia e enfrentamento aos agrotóxicos. Seu olhar etnográfico faz contraponto ao exercício da dominação por meio das narrativas dos trabalhadores, “dando voz para quem não têm voz” e, desenhando caminhos de enfrentamento e mudança da realidade. Seus documentários são ensinamentos da arte da etnografia e da prática de intervenção, não apenas para participar da mudança da realidade social, mas também para influenciar a práxis acadêmica. Seus filmes são também peças artísticas onde a beleza convive com a sensibilidade, generosidade, engajamento e esperança.
O objetivo deste artigo é questionar a ergonomia a partir do documentário-intervenção de Roberto Novaes, "Mulheres das águas", onde são descritas e comentadas as atividades das pescadoras nos manguezais do Nordeste do Brasil. Seu modo de vida, seu trabalho e a sobrevivência de suas famílias estão ameaçados pela poluição das grandes indústrias e pelo turismo que danifica o ecossistema. O documentário destaca o compromisso e a resistência dessas mulheres em busca de preservar seus territórios de pesca, manter e ampliar seus direitos sociais e melhorar suas condições de trabalho e saúde. Exploramos questões levantadas pelo documentário que desafiam a ergonomia contemporânea e convocam : a categoria de análise da interseccionalidade, a noção de nocividade ampliada, a tradição de formação freireana, e a abordagem do território como moldado na atividade de trabalho.
O artigo considera como atividades de extensão universitária todo um conjunto de pesquisas que se desdobraram em produção de filmes documentários e de apresentações teatrais, utilizados em atividades de formação, de mobilização para participação em lutas por acesso e permanência na terra e por melhorescondições de trabalho assalariado. A ideia é refletir sobre uma experiência do Grupo de Estudos e Assessoria Sindical (Geas), que teve lugar na UFPB, Campus Campina Grande, no final da década de 1970 e início dos anos de 1980, enquanto uma modalidade de extensão universitária que pode contribuir para ultrapassar as fronteiras que separam o mundo universitário e a sociedade, marcada pela concentração fundiária e pela superexploração da força de trabalho. Sem o objetivo de oferecer um receituário com definições e caminhos a seguir, o artigo enfatiza a importância da produção de vídeos-documentários como expressão de uma modalidade de trabalho de extensão – pautada no paradigma participativo – que conecta estudiosos da área de ciências humanas e ativistas de sindicatos e movimentos sociais.
A expansão e a modernização da agroindústria canavieira no Brasil ampliou o mercado de trabalho e as migrações, diferenciou e precarizou o trabalho, modifi cou o perfi l dos trabalhadores. As usinas alteraram os critérios de seleção, gestão e controle da mão de obra. Os trabalhadores jovens e migrantes passaram a ser preferidos para o trabalho no corte da cana das modernas usinas paulistas. A força física passou a ser um critério relevante na seleção dos trabalhadores por assegurar melhores índices de produtividade. Nesse cenário os jovens migram de suas regiões, trocam a enxada pelo facão, a liberdade pelo cativeiro nos canaviais. Até quando o uso do facão e da enxada cercearão o manuseio da caneta e dos livros para esses jovens, trabalhadores, migrantes?
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