ResumoOs estudos sobre a expressão da sexualidade das pessoas surdas são diminutos e muitas vezes não problematizam assuntos voltados às orientações afetivo-sexuais destoantes do padrão heteronormativo. A fi m de preencher a carência de pesquisas nessa área, o presente trabalho investiga as narrativas de sujeitos surdos sobre as suas primeiras experiências homossexuais e o enfrentamento do duplo preconceito; ser surdo e homossexual. Esta pesquisa se insere em uma abordagem qualitativa, tendo como instrumento metodológico a condução de entrevistas semiestruturadas. Os dados revelam que a condição homossexual entre os surdos ainda é pouco compreendida, pois há dúvidas, preconceitos e mitos acerca das experiências afetivo-eróticas. Além disso, as narrativas dos entrevistados evidenciam que a primeira relação sexual com pares de mesmo sexo, ocorrida em um ambiente próximo e relacional (doméstico e escolar) sem a anuência dos mesmos, é um marco que desencadeia os processos de constituição da sexualidade. Tais questões apontam para a necessidade de ampliação de investigações que considerem as relações entre emoção, linguagem e constituição da identidade sexual. Para além, sugere uma atenção 1 Endereço para correspondência:
Uma prece não é apenas a efusão de uma alma, o grito de um sentimento. É um fragmento de uma religião. Nela ouve-se ressoar o eco de toda uma imensa sequência de fórmulas; é um trecho de uma literatura, é o produto do esforço acumulado dos homens e das gerações. (Mauss 1979a:117) As palavras e as preces: considerações preliminaresO conceito de religiosidade, e não simplesmente de religião (uma vez que é válido para toda e qualquer denominação religiosa), deve ser entendido como um complexo pragmático-relacional entre as múltiplas partes constitutivas dos preceitos religiosos. Estes são ainda mais fortes quando observados não somente a partir das práticas rituais, orais ou corporais, cotidianas, mas especialmente quando relacionados às práticas rituais funerárias ou post mortem.Para o filósofo da religião Martin Buber (1987), tornar-se um indivíduo, a partir do entendimento de que todo homem é um ser único e individual, é condição primeira para a existência do sentimento de religiosidade, pois o indivíduo somente existe de fato quando é capaz de expressar-se por meio do que é dito, ou simbolicamente 166 Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, 30(1): 2010 representado, no diálogo entre este mundo presente e o outro mundo do porvir, concordando que, sob o ponto de vista religioso, pela experiência do ser único e individual que somos devem passar o tempo, a história e a geração, ou seja, devem passar os ciclos de vida e morte, do estar, do ser e do desaparecer, de não mais existir.Assim é que podemos entender a duplicidade -isto é: o caráter dialógico -da prece e seu poder simbólico, pois ao mesmo tempo em que a oração ajuda a estabelecer um elo de comunicação entre os indivíduos e o mundo espiritual, também representa aos enlutados um instrumento pragmático que determina um período de tempo para a reflexão e a reorganização da vida social de cada um em seu grupo e da comunidade como um todo.É dessa forma que, em seus aspectos discursivos, por meio das preces e das orações judaicas post mortem, o múltiplo tende a dissolver-se no único e a presença do duplo é subtraída ao se buscar a eternidade (ein-sof), onde o Um (Echad) predomina e ser Um significa Nele dissolver-se (tikkun), negando a morte e o esquecimento. Reforça-se, assim, a ideia de ser único a partir da existência plena em um todo eterno e contínuo, ainda que seja pela perpetuação de uma identidade grupal e religiosa única, indissolúvel e indelével. A questão de dissolução do ser concreto em um todo espiritual e abstrato é representada nas próprias palavras das preces e orações judaicas, as quais, pela exaustiva repetição, tornam-se vazias de sentido, perdendo seu valor e significado primário, como, por exemplo, as várias palavras que designam o nome de Deus, até chegar ao ponto de não haver mais um sentido exato, tal qual ocorre com a grafia impronunciável do tetragrama IHWH, como veremos mais adiante.Tamanho é o poder da palavra escrita e oral na cultura religiosa judaica que, a partir da proibição bíblica da representação material de figuras -"Não vos ...
Os estudos sobre a expressão da sexualidade das pessoas surdas são diminutos e muitas vezes não problematizam assuntos voltados às orientações afetivo-sexuais destoantes do padrão heteronormativo. A fi m de preencher a carência de pesquisas nessa área, o presente trabalho investiga as narrativas de sujeitos surdos sobre as suas primeiras experiências homossexuais e o enfrentamento do duplo preconceito; ser surdo e homossexual. Esta pesquisa se insere em uma abordagem qualitativa, tendo como instrumento metodológico a condução de entrevistas semiestruturadas. Os dados revelam que a condição homossexual entre os surdos ainda é pouco compreendida, pois há dúvidas, preconceitos e mitos acerca das experiências afetivo-eróticas. Além disso, as narrativas dos entrevistados evidenciam que a primeira relação sexual com pares de mesmo sexo, ocorrida em um ambiente próximo e relacional (doméstico e escolar) sem a anuência dos mesmos, é um marco que desencadeia os processos de constituição da sexualidade. Tais questões apontam para a necessidade de ampliação de investigações que considerem as relações entre emoção, linguagem e constituição da identidade sexual. Para além, sugere uma atenção
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