ResumoA estenose aórtica é a valvopatia mais frequente nos países desenvolvidos e uma doença valvar com importância crescente nos países em desenvolvimento. Na história natural da doença, o surgimento dos sintomas se correlaciona com piora significativa no prognóstico e a substituição valvar aórtica é o único procedimento capaz de alterar a sobrevida desses pacientes sintomáticos. No entanto, o tratamento de pacientes com estenose aórtica importante assintomática ainda permanece controverso, pois classicamente os riscos inerentes à cirurgia pareciam suplantar o benefício oferecido pela troca valvar nesses indivíduos. A importância da ecocardiografia na detecção precoce da estenose aórtica, na classificação da sua gravidade e no seu acompanhamento evolutivo já está estabelecida. O objetivo deste trabalho é discutir de que forma os dados ecocardiográficos permitem avaliar o risco na estenose aórtica importante assintomática e, dessa forma, facilitar o seu manejo clínico.
IntroduçãoA estenose aórtica (EAo) é uma doença crônica, progressiva, com importante morbimortalidade em nosso meio. Merece destaque por sua relevância clínica e pelo seu impacto socioeconômico crescente. Estima-se que, em 2050, 10% da população brasileira terão idade superior a 75 anos, e dados epidemiológicos recentes indicam que 3% a 4,5% da população dessa faixa etária apresentarão EAo de etiologia degenerativa 1,2 . Apesar de os sintomas corresponderem ao maior marco prognóstico nessa doença, dados ecocardiográficos permitem uma melhor estratificação, o que pode significar indicação cirúrgica de exceção em indivíduos assintomáticos de alto risco, ou naqueles em que a caracterização dos sintomas é duvidosa. O ecocardiograma, como principal método diagnóstico de imagem na EAo, além de avaliar dados anatômicos e funcionais, pode fornecer dados prognósticos e de evolução dessa valvopatia.O presente trabalho tem por objetivo revisar de forma consistente os principais parâmetros ecocardiográficos prognósticos na EAo importante assintomática e discutir como as novas tecnologias ecocardiográficas podem auxiliar numa estratificação de risco mais efetiva nesse grupo.
Grau de calcificação valvar, velocidade de pico transvalvar aórtico, gradientes e área valvar aórticaEm estudo pioneiro publicado em 1997, Otto e cols. No estudo prospectivo de Rosenhek e cols.4 com 128 pacientes portadores de EAo assintomática e VP > 4m/s, com a troca valvar aórtica (TVA) adiada até o surgimento de sintomas, a sobrevida livre de desfechos (morte ou TVA devido surgimento de sintomas) foi de 67% em um ano e de 33% em cinco anos, e a taxa de progressão da VP foi maior nos pacientes que desenvolveram sintomas em relação àqueles que permaneceram assintomáticos (0,45 ± 0,38 versus 0,14 ± 0,18 m/s por ano, p < 0,001). Nesse estudo os pacientes foram classificados quanto ao grau de calcificação valvar aórtica, e a intensidade da calcificação foi o único fator preditor de desfechos em análise multivariada. Evolução livre de eventos ocorreu em 92 ± 5% em um ano e 75 ± 9% em quatro ...