Nos últimos vinte anos, a formação acadêmico-científica arqueológica cresceu exponencialmente no Brasil, culminando com o reconhecimento da profissão em 2018. No entanto, pouco sabemos sobre os perfis socioeconômico e profissional das pessoas atuantes na área, assim como de estudantes em processo de formação, em nível de graduação e pós-graduação. Para que se tenha uma visão geral do quadro da Arqueologia no país, propomos a realização de um levantamento demográfico, cujos primeiros resultados estão compilados neste manuscrito. Esta iniciativa nos possibilita delinear os desafios da inclusão e da representatividade no exercício da profissão, cujas reflexões nos auxiliarão na concepção de medidas práticas para uma mudança desse quadro, no futuro.
O texto discute as questões de gênero e representatividade observadas a partir de uma análise bibliométrica das disciplinas obrigatórias do curso de Antropologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), suas consequências e desdobramentos, apontando as assimetrias acadêmicas, bem como as omissões e os apagamentos perpetuados e institucionalizados pela produção científica a partir da formação e propagação de um conhecimento hegemônico.
Após o assassinato da vereadora socióloga negra, feminista e defensora dos direitos humanos Marielle Franco em 14 de março de 2018, começaram a eclodir diversas formas de manifestações de repressão e resistência envolvendo sua imagem. O caso desencadeou também em uma movimentação maior da produção e circulação de materiais (físicos ou digitais) envolvendo o genocídio do povo preto e o feminicídio que acontece em âmbito nacional e que atinge de forma particular as mulheres negras. Este trabalho se propõe observar esse fenômeno específico enquanto estudo de caso, abordando também de uma forma mais ampla o panorama material que envolve as vivências de mulheres negras sob uma ótica antropológica e arqueológica e poética no que tange às questões de repressão e resistência.
Partindo de um incômodo pessoal construímos o presente texto procurando refletir sobre as redes acadêmicas operadas nos cursos de Arqueologia em universidades públicas brasileiras. Acessando os sites dos departamentos e programas de pós-graduação em Arqueologia e/ou Antropologia (com concentração em Arqueologia) e a Plataforma Sucupira, coletamos informações sobre docentes titulares e suas respectivas instituições de formação (mestrado e/ou doutorado). Foi possível vislumbrar tendências de “vínculos” entre programas e departamentos específicos, cujos números evidenciam sistemáticas desigualdades e hierarquias, que em nossa análise, podem ser explicadas por influências de instituições tradicionais de formação, bem como redes acionadas por relações docentes de elevado prestígio acadêmico. Contextualizamos tais dados considerando aspectos de gênero, étnicos, de classe e geopolíticos, e acreditamos que podem contribuir para um debate amplo que deve ser feito sobre reprodução de desigualdades nos espaços institucionalizados da prática arqueológica no caso brasileiro.
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