O Complexo do Ver-o-Peso é maior feira atacadista e varejista do norte brasileiro. Situado em Belém, na capital do Estado do Pará, reúne variada biodiversidade amazônica, assim como costumes, práticas e saberes comuns a região. A partir da sua etnografia, em especial o Setor das Ervas, tradicional seção da feira, a pesquisa examina a inferência da qualidade patrimonial acerca da imagem das mulheres feirantes ali trabalhadoras – as erveiras. Apoiando-se na análise dos processos de patrimonialização e inventário dos elementos históricos, paisagísticos, arquitetônicos e culturais do Complexo do Ver-o-Peso, discute-se o valor do patrimônio e bem cultural como formas de destaque para o consumo turístico e de lazer da feira. As erveiras, associadas com os saberes tradicionais populares intrínsecos as suas atividades, são perspectivadas por discursos patrimoniais que percebem nelas potencial cultural atrativo para tais fins. Essas intenções apoiam-se no recorte de gênero, objetificação e exotização, causando essencializações das suas figuras, propiciando estigmas e desbotando suas agências e configurações como sujeitas cidadãs, comerciantes, profissionais e sabedoras.

O Setor das Ervas é uma das seções distintas da Feira do Ver-o-Peso, principal ponto turístico de Belém, Pará. A seção comercializa produtos naturais medicinais advindos da biodiversidade amazônica, associados aos usos etnoecológicos locais. Constrói-se aqui uma avaliação da circunstância do turismo corrente nesse ambiente comercial e cultural, observando como propostas e direcionamentos institucionais sobre o mercado turístico operam em tal configuração. Debate-se o potencial cultural e patrimonial como atrativo turístico; processos de fetichização e descaracterização dos produtos, dos saberes tradicionais e das feirantes erveiras/os; relação entre urbanismo, cidades criativas e turismo; gerenciamento das/os erveiras/os através do uso do lugar.Turismo; Cidades criativas; Mercantilização Cultural.