INTRODUÇÃOCondição rara, primeiramente descrita em 1899 por Eitel 1 , a torção do grande omento se apresenta como abdome agudo de difícil diagnóstico etiológico pré-operatório, guardando a elucidação, geralmente, para a laparotomia.Apresentamos dois casos operados no Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Cardoso Fontes nos últimos dez anos.
RELATO DOS CASOSCaso 1 -Homem de 37 anos, exibia dor em fossa ilíaca direita há três dias, com náuseas, anorexia e febre não aferida. Ao exame físico: abdome com descompressão dolorosa e massa palpável na fossa ilíaca direita. O leucograma evidenciou 10700 células e seis bastões. Com hipótese diagnóstica de apendicite aguda, foi submetido à laparotomia (incisão de Jalaguier) que evidenciou torção com necrose parcial do grande omento, achando-se os demais órgãos normais. Foram realizadas omentectomia parcial e apendicectomia. Evoluiu sem intercorrências no pós-operatório.Caso 2 -Homem de 26 anos apresentava dor abdominal há 48 horas, acompanhada por anorexia, febre de 37,8ºC, sem náuseas ou vômitos. Ao exame físico: defesa abdominal e descompressão dolorosa em quadrante inferior direito, e hér-nia inguinal direita, redutível, não dolorosa. A leucometria revelou 16400 células e a rotina radiológica foi inespecífica. Na laparotomia, encontrou-se apenas torção epiplóica no sentido horário, com necrose de sua porção distal, (Figuras 1 e 2). O apêndice e demais órgãos eram normais. Evoluiu sem intercorrências no pós-operatório.
DISCUSSÃOA torção do grande omento representa desafio diagnóstico pré-operatório no abdome agudo (apenas 0,6 a 4,8% de todos os casos). É descoberta, na maioria das vezes, durante a laparotomia 2 . Acomete qualquer idade, com predominância nas 4ª e 5ª décadas. Pode ser primária, na ausência de processos intra-abdominais associados, como descrito no caso 1 ou, mais freqüentemente, secundária, quando relacionada a hérnias (condição mais comum, conforme presente no caso 2), cistos, tumores, ou outras doenças intra-abdominais.A torção primária tem como fatores predisponentes as malformações anatômicas, como o epíploon bífido, projeções lingulares do órgão, alterações na distribuição de sua gordura (principalmente em obesos), e anomalias constitucionais em seu suprimento sanguíneo ou na formação de seuFiguras 1 e 2 -É demonstrada a torção do grande epíplon no sentido horário, com isquemia em sua porção distal.