Este artigo aborda a profunda reorganização do campo político-identitário no Brasil, que vinha sendo avançada gradualmente através de redes sociais, mas que ganhou força e projeção repentinas com a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018. Partindo de uma perspectiva cibernética inspirada em Gregory Bateson, explora alguns dos dilemas emergentes que a digitalização da política tem colocado para a dupla problemática da identidade e representação na antropologia, a partir de três ângulos: representação populista e formação do “corpo digital do rei”; bivalência reconhecimento-redistribuição; e formação fractal de identidades por meio de mídias digitais.
In the past decade or so, populism and social media have been outstanding issues both in academia and the public sphere. At this point, evidence from multiple countries suggest that perceived parallels between the dynamics of social media and the mechanics of populist discourse may be more than just incidental, relating to a shared structural field. This article suggests one possible path towards making sense of how the dynamics of social media and the mechanics of populist mobilization have co-produced each other in the last decade or so. Navigating the interface between anthropology and linguistics, it takes key aspects of Victor Turner’s notion of liminality to suggest some of the ways in which social media’s anti-structural affordances may help lay a foundation for the contemporary flourishing of populist discourse: markers of social structure are suspended; communitas is formed; the culture core is addressed; mimesis and anti-structural inversions are performed; subjects become influenceable. I elaborate on this claim based on Brazilian materials, drawn from online ethnography on pro-Bolsonaro WhatsApp groups and other platforms such as Twitter and Facebook since 2018.
Como a antropologia pode abordar fenômenos transnacionais, dado que seu método e o tipo de conhecimento construído a partir dele foram originalmente estruturados com base no estudo de pequenas comunidades locais? O artigo tratará do trânsito entre escalas micro e macro a partir de uma das vertentes (meta)teóricas que tem sido propostas desde a "virada interpretativa" nos anos 1980, inspirada na obra de Marilyn Strathern. Essa perspectiva, baseada no primado da relacionalidade e da reflexividade entre as duas faces do ofício do antropólogo (trabalho de campo e escrita etnográfica), aborda operações de produção de conhecimento rotineiramente empregadas tanto pelos antropólogos quanto por seus "nativos", envolvendo o acionamento de escalas, contextos, domínios e analogias. O artigo buscará operacionalizar esse instrumental analítico no caso da cooperação Sul-Sul brasileira com o continente africano, entendida enquanto composição (assemblage) emergente marcada por esforços de produção de contexto e busca de robustez relacional.
O artigo propõe uma explicação cibernética (Bateson, 1972) para a pós-verdade partindo de reflexões clássicas no campo CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) sobre como a verdade é produzida, notadamente Thomas Kuhn e a etnografia de Bruno Latour, Vida de Laboratório. Argumenta-se que o termo pós-verdade indica um ambiente de entropia informacional crescente derivado da intensificação extensiva (global) e intensiva (personalização) do duplo processo de digitalização e neoliberalização. A perspectiva estrutural permite ver, como parte de uma mesma infraestrutura emergente, fenômenos que vimos tratando separadamente em tópicos como neoliberalismo, política populista, desinformação, mídias sociais, punitivismo, entre outros. Além de indicar, com base em pesquisa sobre a digitalização da política no Brasil, como o ambiente epistêmico tem se reestruturado como consequência da crise confiança no sistema de peritos, o artigo elabora paralelos estruturais que atravessam toda a constelação contemporânea do neoliberalismo digitalizado: colapso de contexto, performatividade, verdade como a posteriori, sujeito influenciável, mediações (i)mediatas, invisibilização de assimetrias emergentes, conteúdo gerado pelos usuários e estruturas organizacionais do tipo pirâmide.
This article explores some of the challenges and potentials that the emerging phenomenon of South-South cooperation (SSC) might pose to major approaches in the international literature on the anthropology of development. Irrespective of particular politico-conceptual preferences, the latter's analytics have been largely crafted based on ethnographic work about development aid provided by Northern agencies or North-led multilateral organizations. Based on my own fieldwork experience with Brazil's contemporary provision of official technical cooperation in tropical agriculture to various countries in the African continent, I propose a discussion about four sets of themes: Foucauldian approaches to development based on notions of governmentality and discourse; the associated question of politics/depoliticization; the institutional aspect of development cooperation as a national and global industry and bureaucracy; and the question of ethnographic authority and the transit between what David Mosse has referred to as field (relations entertained with informants during fieldwork) and desk (relations entertained with academic peers during ethnographic writing).
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