O artigo trata da actualização da memória dos descobrimentos do Brasil em função da comemoração do seu quinto centenário. Considerando a memória colectiva como o conjunto de representações sociais acerca do passado, tomou-se como referencial teórico a abordagem psicossocial estrutural, segundo a qual o sistema central de uma representação está ligado à memoria colectiva e à história do grupo que a sustenta. Para o levantamento do conteúdo do sistema central e dos elementos periféricos, aplicou-se, por volta de Abril de 2000, a técnica de evocação livre a sujeitos adultos com escolarização mínima de oito anos, sendo 500 portugueses, em Lisboa, 789 brasileiros, distribuídos pelas cinco regiões geográficas do país. Os dados foram tratados através do software EVOC, de análise das evocações. Os resultados obtidos a partir das duas amostras globais mostram que o central na representação social do descobrimento é a imagem descritiva maciçamente divulgada no nível elementar da educação escolar: os índios, as caravelas, Cabral, o mar (para os brasileiros) e as praias (para os portugueses). A essa memória primordial acrescentam-se, em nível periférico, duas outras ordens de evocação: em primeiro lugar, a escravidão e a exploração das riquezas brasileiras, como um juízo crítico consolidado no âmbito das duas amostras; em segundo lugar e evocados apenas pela amostra brasileira, o massacre dos índios e o termo invasão, para desqualificar o descobrimento, como críticas mais recentes, geradas pelo contexto polémico da comemoração do quinto centenário de 1492. Em lugar deste último juízo, os portugueses preferem exaltar a figura dos navegadores e a aventura a que se lançaram para descobrir o Brasil. São, ainda, apresentados e discutidos resultados comparativos entre os seguintes recortes da amostra brasileira: quando ao grau de escolaridade (primária, média, superior); quando à idade (18 a 34 anos, 35 a 49 anos, 50 anos ou mais); quanto à orientação política (direita, esquerda e sem definição política); quanto à pertença ou referencia nacional/étnica (brasileira, latino-americana, descendente de portugueses, branca, índia e descendente, negra e descendente). Conclui-se que as estruturas das representações dessas subdivisões da população brasileira são muito semelhantes, mas apresentam diferenças suficientes para confirmar a proposição clássica de que as memórias colectivas são tão numerosas quanto aos grupos sociais que buscam recordar o seu passado ou representá-lo.DOI: http://dx.doi.org/10.17575/rpsicol.v172.448
Resumo A atualidade vivencia complexas ameaças à privacidade na saúde (PS), no contexto de crescente virtualização dos corpos e de biografias expostas nas redes sociais. O artigo objetiva conhecer as abordagens sobre a PS na produção científica brasileira à luz da Saúde Coletiva (SC). Realiza estudo exploratório, analítico-descritivo, com revisão de artigos de periódicos brasileiros de excelência da SC de 2000 a 2017. Foram selecionados artigos que adotam a PS como objeto. Evidenciou-se que, em comum, ancoram-se na perspectiva de que o ‘medo do profissional à punição’ é a fronteira para inibir ações de violação da PS. Porém, nem o arcabouço jurídico-normativo, nem o apparatus tecnológico de segurança, tem sido suficiente. No SUS, ameaças se intensificam em iniciativas do Cartão SUS, PEP, Centrais de Regulação e Telessaúde. Os resultados corroboram com a hipótese de que existe uma lacuna na produção sobre a temática em periódicos de excelência da SC. Discute-se: omissão das instituições; adoção de TCLE para uso de dados individuais; opacidade sobre o faturamento dos gastos públicos no apparatus tecnológico de segurança. O respeito à PS precisa tornar-se fruto de um pacto político-ético, onde todos passem a agir eticamente na defesa da privacidade por opção e não por coação e medo de penalidades.
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