Resumo Este artigo apresenta uma análise crítica do quadro teórico da Escola de Psicossomática de Paris. Pretende-se demonstrar a hipótese de que tal matriz conceitual está sustentada em uma concepção iluminista de subjetividade, que concebe o corpo como algo a ser dominado pela mente. Argumenta-se que tal concepção se manifesta de forma implícita na hipótese defendida pelos autores dessa escola, segundo a qual a vulnerabilidade do indivíduo ao adoecimento somático seria resultante de uma insuficiência fundamental ou passageira do funcionamento mental. Demonstra-se que tal enunciado é herdeiro da concepção de psiquismo formulada no âmbito da metapsicologia freudiana, na qual a mente é entendida como um aparelho destinado a possibilitar a descarga de excitações, sobretudo as provenientes do próprio corpo (pulsionais).
Este artigo tem o objetivo de apresentar algumas ideias sobre medicina, doença, saúde e cura extraídas da obra do médico e psicanalista Georg Groddeck (18661934). A hipótese que norteia o trabalho é de que tais proposições podem contribuir ativamente para a discussão contemporânea sobre os limites da biomedicina e a necessidade de reformulação do modelo de cuidado em saúde ocidental. Primeiramente, são analisadas as origens históricas e filosóficas da biomedicina e alguns dos impasses enfrentados por usuários e profissionais de saúde em função do predomínio da racionalidade biomédica. Em seguida, são tecidas algumas considerações sobre a vida e a obra de Groddeck, culminando na apresentação de quatro importantes contribuições do autor avaliadas à luz dos limites biomédicos.
Resumo A matriz teórica proposta por Pierre Marty e outros analistas da Escola de Psicossomática de Paris (EPP) é, atualmente, o modelo hegemônico de abordagem do adoecimento somático em Psicanálise. Tal matriz está alicerçada na hipótese de que a doença orgânica estaria associada a uma insuficiência da capacidade de elaboração psíquica. Sándor Ferenczi, Georg Groddeck e Donald Winnicott formularam concepções sobre o adoecimento somático que não se coadunam com o modelo francês. O objetivo deste artigo é cotejar as contribuições desses autores a fim de demonstrar que elas revelam a existência de outra matriz de compreensão do adoecimento somático em Psicanálise. Foi realizado um estudo teórico-conceitual por meio da análise de alguns textos dos três autores que tratam direta ou indiretamente do adoecimento somático e das relações entre corpo e psique. A investigação evidenciou que os autores apresentam três principais pontos de convergência entre si: (1) uma concepção monista do indivíduo na qual corpo e psique são entendidos como expressões concomitantes de uma realidade integral; (2) a compreensão da psique não como uma máquina de descarregar excitações, mas como um movimento produtivo ininterrupto, que promove continuamente uma elaboração imaginativa do corpo; e (3) o entendimento de que o adoecimento é um fenômeno relacional, que só pode ser adequadamente compreendido à luz da história e do contexto atual do indivíduo. Esses três pontos constituem-se nos pilares de uma matriz teórica que, diferentemente da matriz francesa, enfatiza a complexidade do adoecimento somático e está alinhada com um modelo integral de cuidado em saúde.
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