Este ensaio visa compreender como as atletas paralímpicas com doenças degenerativas Susana Schnarndorf, da natação, e Elizabeth Gomes, do atletismo, lidam com a dicotomia do tempo que o esporte lhes confere. Uma luta “contra” o relógio para conquistas de índices e a “favor” da extensão do tempo de vida. Paradoxalmente, traz falas da velocista belga Marieke Vervoort, que preferiu romper com o tempo de vida e das competições. A metodologia usada são as narrativas biográficas, que partem de um convite para que as atletas contem suas histórias de vida. Resultam das narrativas elementos de subjetividade, que lidam não apenas com o papel social dessas mulheres como atletas, mas como seres humanos, que sofrem com a condição da mortalidade e de uma finitude breve, marcada pela doença. A aproximação com personagens literários é uma forma de metaforizar a aspereza desse vislumbre tão tênue entre a finitude e a eternidade.
A INFLUÊNCIA DA ELEGIBILIDADE NA CARREIRA DO ATLETA PARAOLÍMPICO Resumo-A elegibilidade no esporte paraolímpico é o momento da definição da classe que um atleta irá competir. Envolve avaliação, presunção de capacidade e nível de competência. Neste artigo, baseado em narrativas biográficas das atletas paraolímpicas Susana Schnarndorf e Elizabeth Gomes, a classificação funcional ou elegibilidade do atleta paraolímpico é destacada em âmbito sociológico. Especificamente, por ser não só uma prova de aptidões do atleta, em que ele comprova que sua deficiência é relevante no desempenho esportivo, mas, um ponto norteador da sua carreira como atleta profissional. As duas colaboradoras da pesquisa têm doenças degenerativas, casos raros no esporte paraolímpico o que as fazem ser submetidas periodicamente ao processo reclassificatório e com isso, viverem a cada ano, a tensão sobre a continuidade ou não de suas carreiras como atletas. Os dois casos citados são praticamente os únicos na história da delegação brasileira, rumo aos Jogos Paraolímpicos Rio, 2016 salvo algumas outras exceções, que também merecem serem estudadas.
O presente artigo tem como objetivo discutir a kalokagathía (o bom e o belo) na passagem do atleta que transcendeu as limitações físicas, ou imperfeições, impostas pela deficiência para a posição de excelência alcançada na carreira de atleta paralímpico. Em se tratando de esporte, cabe a metáfora “imperfeito” para situar quem são e onde estão as pessoas com deficiência, quando e por que as práticas esportivas tornam-se acessíveis e onde elas se encontram na atualidade. Para tanto, foi utilizado como método as narrativas biográficas, que permitiram entender os processos de transição dos atletas estudados. Todos eles estavam em trajetória de carreira olímpica quando sofreram um acidente ou doença que os limitou fisicamente. O que se viu e se ouviu desses atletas é o amor à vida reluzindo acima de qualquer musculatura atrofiada, de qualquer penumbra no campo visual ou de qualquer parte faltante do corpo.
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