Ocupar terras e nelas montar acampamentos tornou-se, nos últimos vinte anos, a forma apropriada para reivindicar a reforma agrária no Brasil. Dela se valem o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o movimento sindical e outras tantas organizações existentes no mundo rural. O Estado brasileiro tem conferido legitimidade à pretensão dos movimentos (como se autodenominam e são denominadas essas organizações), ao desapropriar as fazendas ocupadas e redistribuir as terras entre os que se encontram nos acampamentos.Esse tipo de ocupação constitui fato novo na história brasileira. As ocorridas no período anterior a 1964, como as do Rio Grande do Sul e do estado do Rio de Janeiro 1 , não tinham as mesmas características e amplitude das que se generalizaram nos últimos vinte anos, nem se tornaram a forma adequada de demandar desapropriação de terras. Havia outras maneiras de fazê-lo, notadamente as mobilizações pela mudança na Constituição 2 . Com o golpe militar de 1964, tornou-se impossível promover ocupações. As terras assim obtidas foram devolvidas aos seus proprietários e os militantes das organizações de trabalhadores rurais tornaram-se alvo da repressão policial e militar.
Por ocasião do golpe de Estado de 1964, os militares desencadearam operações de repressão sistemática contra os que haviam participado ativamente das lutas sociais. Foi o que ocorreu na zona canavieira de Pernambuco, onde desde os anos 50, com as Ligas Camponesas, e do início da década de 60, com os recém-criados sindicatos de trabalhadores rurais, tinha havido enfrentamentos com os donos de terra, greves e grandes manifestações pelo cumprimento dos direitos trabalhistas recém-estendidos aos homens do campo. Em Rio Formoso, município do litoral sul da mata pernambucana, o sindicato foi invadido e fechado: os dirigentes sindicais que não conseguiram escapar foram presos; outros desapareceram sem deixar rastros; os delegados sindicais tornaram-se alvo de perseguição policial e/ou militar, após serem denunciados pelos patrões, fossem eles senhores de engenho ou usineiros. Foi nesse contexto que Amaro Pedro, delegado sindical do engenho 1 Porto Alegre, sentindo-se em perigo, pediu a proteção do patrão do engenho Amaragi, que tinha reputação de ser um homem "bom". José Bezerra -este era seu nome -acolheu Amaro Pedro em suas terras, como um de seus mo ra do res , como eram denominados aqueles que residiam e trabalhavam nas plantações.Passados alguns meses do golpe, graças à mediação de padres da Igreja Católica junto aos militares 2 , os sindicatos foram reabertos e começaram a se reestruturar. As greves e manifestações pelo cumprimento dos direitos eram impensáveis na nova conjuntura. Os militares, no entanto, mantiveram a Justiça em funcionamento e não revogaram o Estatuto do Trabalhador Rural, a lei votada pelo Congresso Nacional em 1963 estendendo a legislação trabalhista ao campo. Os dirigentes sindicais empenharam-se então em estimular os mo ra do resa encaminharem reclamações à Justiça do Trabalho, com base na nova lei. Tendo retomado seus contatos com o sindicato, Amaro Pedro apresentou, no ano de 1965, uma
D esde os anos 1980, centenas de milhares de indivíduos têm ocupado terras no Brasil. Nelas montam acampamentos e passam a reivindicar sua redistribuição. Tais ocupações distinguem-se das que, ao longo da história do país, foram e ainda são feitas em áreas desocupadas por interessados em formar lavouras. Enquanto naquelas a entrada nas terras era diluída no tempo, agora elas são realizadas de uma só vez e em grupo, implicando a formação de um acampamento. Se antes as ocupações não necessariamente vinham acompanhadas de reivindicações ao Estado, atualmente se apresentam como demandas de reforma agrária e são assim interpretadas pelas autoridades da República que as têm acolhido e redistribuído as terras entre os acampados.Até recentemente, as ocupações com acampamentos não atraíam a atenção dos estudiosos do mundo rural. A maioria deles, preocupada em examinar o que ocorria após a redistribuição das terras, interessou-se pelos assentamentos implantados pelo Estado nas áreas que haviam sido ocupadas (Medeiros e Leite, 1999;Martins, 2003;Spavorek, 2003;Leite et alii, 2004) e não se interrogou a respeito das ocupações que lhes haviam dado origem. Outros centraram o olhar nos movimen- 107
The article examines a 30-year experience of collective ethnography in the sugarcane plantations of Brazil's Northeast. Over this period, the research group has worked in different temporal and spatial contexts, continually exchanging its findings. The author draws on her experience as part of the research group in order to focus on the conditions of entering the field, the seasonal variations and geographic displacements, the research group's morphology and the overall implications for anthropological knowledge. Debates over ethnography have neglected the relationship between the social conditions in which anthropologists carry out their work and what they are able to write about the social world. This article sets out to fill this gap.
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