Considerando que na afasia o quadro sintomático de linguagem é marcado pela “insistência/persistência de uma diferença” (LIER­-DE VITTO, 2006, p. 186, grifos da autora), este trabalho tem como objetivo compreender o processo de reconstituição da escrita de um sujeito em estado de afasia, cuja linguagem foi gravemente perturbada.  De natureza exploratória com abordagem qualitativa, a pesquisa tem como corpus seis textos produzidos durante o período em que o sujeito esteve hospitalizado. O aporte teórico advém fundamentalmente de estudiosos da Afasiologia, da Aquisição e das Patologias de Linguagem, dentre os quais estão Freud ([1891] 1977; 2012); Jakobson ([1954] 2008); Morato (2012; 2013); Santana (2002); Lemos (1992; 2002; 2006); Lier-De Vitto (2006); Arantes (2006; 2009); Borges (2006; 2010); e Bosco (2010). Os resultados revelaram que o movimento de (re) composição da escrita do sujeito em questão foi marcado pela interação com o outro (terapeuta ou familiar), que como portador do texto-discurso conduziu o sujeito à escrita; significou e interpretou seus textos, por meio de atividades que envolviam situações cotidianas, (re) inserindo-o, com isso, no funcionamento linguístico-discursivo.

Colocamos em destaque o caminho empreendido pela pesquisadora brasileira Cláudia de Lemos, no campo da aquisição de linguagem, em busca de uma teoria que pudesse dar conta de questões relacionadas à investigação do percurso linguístico da criança. Apresentamos algumas de suas principais discussões acerca de uma proposição teórica sobre a linguagem que contempla a fala de crianças enquanto fala não-analisada, isto é, de uma teoria fundamentada na relação sujeito/língua, que se afasta da noção de aquisição como resultado de estágios de desenvolvimento. Nessa perspectiva, focalizamos a proposta de diálogo como unidade de análise e a visão estrutural de análise linguística. Além disso, retomamos pontos importantes da formulação teórica da autora como a noção de captura, em que a criança seria capturada pela linguagem antes mesmo de começar a falar, e, ainda, a noção de sujeito como efeito da linguagem, constituído a partir da relação com o outro-falante. Com isso, é ressaltada a importância de se admitir que as mudanças e reformulações do interacionismo, enquanto proposta teórica, mostram que a interação é a condição necessária para o processo de aquisição da linguagem.

Este trabalho consiste numa tentativa de colocar em relevo a importância do ensino saussuriano para as reflexões teóricas de Roman Jakobson acerca de uma teoria que pudesse explicar o funcionamento geral da linguagem. É importante dizer que não é nossa intenção retomar todo o pensamento de Saussure e tampouco o de Jakobson, mas destacar o caminho feito por esse último para fundar uma proposta de investigação do funcionamento da linguagem a partir da observação de dois mecanismos de elaboração do discurso: combinação e seleção. Apresentamos alguns pontos propostos por Saussure a respeito da Linguística Diacrônica e da Linguística Sincrônica e a crítica de Jakobson a essa secessão, no Curso de Linguística Geral. Dessas duas linguísticas focalizamos, especialmente, a última, visto ter sido o estudo sincrônico da língua que permitiu a proposição das relações sintagmáticas e associativas e auxiliou o estudo de Jakobson sobre as afasias. Assim, o ensaio presente focaliza a relevância da reflexão jakobsoniana sobre a linguagem de um ponto de vista funcional e seus processos estruturadores, com vista ao reconhecimento dos polos metafórico e metonímico como eixos que permitem explicar a linguagem em movimento, no processo de dissolução ou constituição.