De "cidade maravilhosa" a "cidade partida": duas representações do Rio de Janeiro * Este artigo constitui um dos capítulos de minha tese de doutoramento sobre cidadania e violência no Rio de Janeiro, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob a orientação da professora dra. Regina Reyes Novaes, em conclusão. Em sua primeira versão foi apresentado no GT Rituais, Representações e Violência na Política, no XXIII Encontro Anual da Anpocs, Caxambu, MG, 19-23 de outubro de 1999. Agradeço aos colegas do GT pelos comentários, especialmente a César Barreira e a Márcio Goldman, debatedor, pelas pertinentes sugestões. Essa mesma versão do trabalho foi apresentada também no GT Violencia, Seguridad Ciudadana, Derechos Humanos y Gobernabilidad, no XXI Congresso da ALAS, Concepción, Chile, 12-16 de outubro do mesmo ano, beneficiando-se igualmente dos comentários dos colegas. Sou grata ainda a Patrícia Birman e a Haroldo Abreu pela cuidadosa leitura e discussão deste artigo.
Resumo: O artigo baseia-se em duas pesquisas qualitativas em favelas cariocas, especialmente em uma de suas atividades, aproximadamente 50 horas de dinâmica com 15 grupos focais (envolvendo 150 moradores de mais de 40 favelas). Designou-se de "coletivos de confiança" os grupos focais compostos a partir de relacionamento anterior dos participantes com algum dos pesquisadores, capaz de, através do conhecimento pessoal, gerar alguma confiança prévia. Pensada com vistas a minimizar os prováveis efeitos de uma "lei do silêncio" imposta pelos agentes da violência nessas localidades, esta forma de recrutamento demonstrou ter sido adequada. O texto analisa os enunciados colhidos durante os debates, claramente concentrados nas diferentes modalidades de presença e atuação dos bandos de criminosos e das forças policiais nas favelas cariocas. Sustenta que, menos que questionar a violência criminal e policial como um todo, eles expressam intensa preocupação com algumas de suas manifestações, aquelas que impedem o prosseguimento das rotinas diárias. Sem ser diretamente tematizado, este é o horizonte de atenção que organiza todo o discurso crítico "para fora" das favelas, bem como as atitudes e condutas nos locais de moradia. Os autores avançam um pouco mais, argumentando que, em suas descrições e denúncias, os moradores demonstram não lidar da mesma maneira com todas as formas de desestabilização de suas rotinas, evitando homogeneizar os responsáveis. Assim é que, de um lado, a violência deflagrada durante as famosas "operações" policiais e sempre presente na arbitrariedade da conduta regular * Professor titular do Iuperj/Ucam e professor associado do IFCS/UFRJ.
This article discusses the new modality of governance of the poor in border territories of Brazilian cities, specifically in their favelas and peripheries. We analyze, based on research carried out in Rio de Janeiro, dynamics that, at first glance, could appear to be local: the disciplinarization of inhabitants, the commodification of their territories and the militarization of their lives through the Pacifying Police Units. We argue that these units’ local implementation is an experiment in the production of order without democratic mediations for the management of social conflicts, which has the potential to be replicated in other territories and situations, as well as in relation to other populations under the logic of "urban militarism" (Graham).
O artigo discute a construção social das favelas do Rio de Janeiro como «margens do Estado». Analisa, com base em um caso de violência policial e acompanhando a trajetória da mãe da vítima em busca de justiça, os dispositivos discursivos, legais e administrativos acionados pelo Estado para gerir esses territórios e suas populações.
Este artigo examina a construção social das favelas como o território da violência na cidade do Rio de Janeiro em doiscontextos, enfocando, sobretudo, as políticas de segurança pública praticadas nessas localidades. O primeiro, dos anos 1990até quase o final da década de 2000, caracteriza-se pela promoção, por parte do Estado, de uma “guerra” aos traficantesde drogas ali sediados. O segundo abre-se em 2008, com a implantação de Unidades de Polícia Pacificadora – UPPs emfavelas com o objetivo de retomar o controle armado desses territórios e “civilizar” seus moradores como condição paraa integração desses territórios à cidade. O artigo discute os dispositivos que promovem e sustentam, em cada contextoconsiderado, a vinculação das favelas à violência e à marginalidade, justificando formas específicas de gestão estatal dessesterritórios e de suas populações, bem como delimitando as possibilidades de acesso de seus moradores aos equipamentosurbanos e serviços públicos (inclusive à segurança).
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