A influência do marxismo na Sociologia do trabalho e no feminismo foi e ainda é muito grande, o que trouxe uma ênfase nos estudos sobre o operariado. Com isso, o campesinato tornou-se um tema de difícil articulação dentro do marxismo e do feminismo. Havia uma crença generalizada de que liberação das mulheres passaria necessariamente por sua independência financeira, fruto da inserção individual no mercado de trabalho. Como 'encaixar' aí as mulheres em regime de trabalho familiar? Elas não foram bem 'encaixadas', havendo com freqüência um 'viés urbano' perpassando as análises do trabalho feminino no campo. O surgimento de vários movimentos de mulheres agricultoras no Brasil colocou em cheque a visão corrente de 'vítimas' que se tinha sobre elas, na medida em que estão se impondo como 'atoras'. Neste momento, porém, os movimentos feministas estão mais voltados para questões de reconhecimento, de identidade, que de redistribuição de renda, propriedades e, o que nos interessa mais, terra. Nosso objetivo neste trabalho é desvelar os preconceitos imbricados na análise do campesinato e trazer de volta questões sobre a condição econômica desigual das mulheres envolvidas na agricultura familiar, cujo acesso à terra se faz quase unicamente pelo casamento. O direito de tomar decisões sobre a própria vida pode ser desvinculado da obtenção de um salário individual, mas não do acesso a uma renda própria.
ResumoProcuramos mostrar a necessidade de uma prévia adequação das teorias feministas para tentarmos explicar o feminismo que faz parte dos ideais do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), organização presente no Brasil desde 1983, que só se considerou feminista em 2010. É preciso evitar certo evolucionismo presente quando se compara campo e cidade. Para isso, o conceito de "transmodernidade" de Rodríguez Magda (2007) torna-se frutífero, porque não trabalha com noções evolucionistas do feminismo, mas diz que elementos de diferentes correntes, antigas e recentes, aparecem combinados nas atuais. A autora não considera as novas correntes mais "corretas" que as antigas, prefere falar das "ficções úteis" que mobilizam os movimentos e, portanto, são "reais". Para buscarmos essas "ficções úteis" será preciso revisão histórica das correntes que trouxeram elementos ao feminismo das agricultoras. Para explicar a prática das militantes, propomos o uso dos conceitos de "experiência", de Scott (1999), e de "experiência próxima" e "experiência distante", de Geertz (2003). Acreditamos que só depois de uma reflexão teórico metodológica focada no problema de pesquisa poderemos levar a cabo essa investigação. Palavras-chave:Gênero. Feminismo. Mulheres rurais. Movimentos sociais rurais. Nota preliminarEste texto não é propriamente um artigo, é uma proposta de estudo para um fenômeno recentemente surgido no Brasil que é o "feminismo camponês". Sendo o feminismo um movimento muito urbano, enquanto a sociologia rural é uma disciplina que historicamente privilegiou a ideia de "família rural" como um todo unido, dando pouca atenção às questões de gênero, situação que felizmente vem se modi cando, temos que as revistas feministas e as dedicadas ao campo, juntamente com seus leitores, di cilmente se cruzam. Publicar um texto feminista em um dossiê sobre agricultura familiar é uma tentativa de aproximar essas duas áreas de estudo.
Copyright ã 2007 by Revista Estudos Feministas 1 Todas as entrevistas foram realizadas por Maria Ignez Paulilo. Para efeito deste trabalho, utilizaram-se as entrevistas e também o debate que se seguiu à palestra de D. Adélia Schmitz na UFSC em 5 de março de 2007. As transcrições foram feitas por Iraldo Matias, Lara Bauermann, Michele Bete Petry e Valdete Bonin. 2 Em 26 de setembro de 1996, Nova Itaberaba passou a ser município.
Embora o MMC tenha grande abrangência e fale em nome das mulheres agricultoras do Brasil, há no Nordeste um conjunto de movimentos autônomos que não aderiram à proposta unificadora apresentada em 2004 e permaneceram formando o Movimento de Trabalhadoras Rurais do Nordeste -MMTR-NE. Segundo Caroline Araújo Bordalo, no Brasil "atualmente existem duas articulação de mulheres 'independentes', o MMTR-NE e o MMC". A autora faz uma análise interessante das diferentes forças, instituições e motivações que formaram as duas organizações (ver BORDALO, 2007, p. 5) . ). ).). ). Diante disso, é preciso ficar claro que estamos falando neste artigo apenas sobre o MMC, mais bem consolidado no Sul do país. Resumo Introdução Introdução Introdução Introdução IntroduçãoOs objetivos deste artigo podem ser assim resumidos: a) a partir de uma breve revisão histórica dos conceitos de natureza, mostrar que são construções que variam no tempo e no espaço e em diferentes grupos sociais; b) perceber, então, qual são as construções do mundo natural que embasam as ideias e ações do Movimento de Mulheres Camponesa -MMC frente às/aos pesquisadoras/es acadêmicas/os ligadas/os ao feminismo; e c) diante da presença de diferenças na forma de entender o mundo humano e não humano, procurar construir pontes para um diálogo sem preconceitos.Para
são estabelecimentos familiares. Embora ocupem apenas 30,5% da área total nacional dedicada à agropecuária e recebam 25,3% do financiamento destinado a esse setor, são responsáveis por 37,9% de seu Valor Bruto da Produção. Além disso, a agricultura familiar é a principal geradora de emprego no meio rural brasileiro, sendo responsável por 76,9% do pessoal ocupado. Ainda de acordo com a mesma fonte, a região Sul é aquela em que a agricultura familiar se apresenta mais forte, sendo que 90,5% de seus estabelecimentos agrícolas pertencem a essa categoria. Em seu conjunto, ocupa 43,8% da área e é responsável por 57,1% do Valor Bruto da Produção do setor a que pertence. Porém, recebe uma porcentagem dos financiamentos menor que a da agricultura patronal, ou seja, 43,3%.O tema central deste Dossiê é a mulher rural, em uma perspectiva de gênero. Enquanto a categoria 'sexo' diz respeito a categorias biológicas associadas ao homem e à mulher, a noção de gênero abrange a idéia de que a sociedade, por razões culturais, sociais, econômicas e políticas, atribui diferentes papéis a ambos os sexos. Assim, as características biológicas de homens e mulheres são herdadas, enquanto as diferenças de gênero são construídas socialmente; portanto, podem variar no tempo e no espaço e são sujeitas a mudanças. E é somente através do reconhecimento dessas diferenças e da luta para mudar o quinhão das mulheres que se pode tornar as relações de gênero mais eqüitativas. Nesse sentido, as organizadoras e os autores dos trabalhos apresentados assumem uma posição política a favor da igualdade de gênero.Os oito artigos selecionados para comporem este volume procuraram não só tornar visível o trabalho feminino nos campos, mas também analisar as condições em que ele se dá. Outra preocupação foi compreender como as mulheres rurais vêem suas condições
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