Fábio Wanderley ReisO vivo interesse deste trabalho de Jessé Souza é função direta da ousadia da tarefa que ele procura realizar: confrontar as idéias de Jürgen Habermas, provavelmente o mais influente pensador social da atualidade, e as de Max Weber, o mais atual dos grandes clássicos da Sociologia, para extrair do confronto um diagnóstico da modernidade que escape a certas parcialidades ou distorções da leitura habermasiana de Weber. Na parcimônia de um pequeno livro, a tarefa é cumprida com rigor e inteligência, para grande proveito do leitor.As teses principais do livro são bem claras. Temos, com Habermas, a busca dos fundamentos de uma solidariedade pós-tradicional, que, na fase mais madura de seu pensamento, desemboca numa teoria da ação comunicativa, a qual pretende dar chão firme à crítica da ênfase excessiva ou unilateral na razão instrumental e de certa distorção na avaliação do papel da ciência e da tecnologia no mundo moderno. Na leitura de Habermas, essa distorção se encontraria não somente no laivo cientificista do marxismo, mas também em Weber, cujo diagnóstico da emergência do racionalismo ocidental e dos problemas da modernidade estaria baseado numa concepção unilateralmente instrumental de racionalidade, aplicada à análise da economia e da política, do capitalismo e da burocracia.Na verdade, porém, sustenta Jessé Souza, teríamos igualmente em Weber a concepção de uma racionalização prático-moral, que é referida ao "potencial moral-evolutivo da sociologia religiosa weberiana" e que seria complementada, ainda, pela diferenciação da esfera estético-expressiva e a racionalização que dela decorre. Como resultado, temos, por um lado, o individualismo ético que se dá em correspondência com a "ética da responsabi- O coroamento é a idéia de que Habermas, e não Weber, é que seria unilateral: teríamos nele uma visão "unilateralmente racionalista", com "assimilação excessiva" da razão prática a uma razão comunicativa de natureza teórica e discursiva. Isso seria especialmente válido por referência à concepção habermasiana da "natureza subjetiva", com a expressividade que é própria dela, em contraste com os tipos de ação que corresponderiam ao mundo objetivo e ao mundo social. Em Weber, ao revés, a "sublimação" que resulta na fruição consciente remete também à obscuridade da natureza humana subjetiva, e a consideração do momento estético-expressivo "em toda a sua riqueza e especificidade" revela que aquela natureza não é passí-vel de total transparência e racionalização. Daí adviria, para Weber (não obstante a possibilidade da produção autônoma de valores que se dá com o individualismo ético e da reflexividade característi-ca do "especialista com espírito" e do "homem do prazer com coração", que não são percebidos por Habermas em sua leitura deficiente de Weber), o reconhecimento do caráter necessariamente aporé-tico e conflituoso da modernidade e da consciência ou personalidade moderna -ou seja, a ambivalên-cia e o componente trágico do diagnóstico weberiano da modernidade.Jessé Souza elabora detidamente es...
Agradeço a todos os colegas e a todos os estudantes que colaboraram nos diversos estágios até aqui desenvolvidos. Em especial, gostaríamos de agradecer as sugestões, críticas e encorajamentos de Clarissa Baeta Neves, Elizabeth Balbachevsky e Helena Sampaio.
Diante da expansão e diversificação recentes do sistema de ensino superior brasileiro, este artigo discute as possíveis tendências à sua modernização e democratização. O artigo busca desenvolver questões fundamentalmente associadas aos valores socialmente atribuídos aos diplomas do ensino superior, principalmente na relação entre o domínio quase absoluto de uma visão patrimonialista sobre o ensino superior e o esgarçamento dos conteúdos científicos e (ou) pedagógicos associados aos diversos diplomas. O patrimonialismo aparece na preferência pelo bacharelado, em detrimento dos diplomas de licenciatura e tecnológicos, nas vocações socialmente marcadas, nos horários e turnos dos diferentes cursos e modalidades, no desinteresse pelas áreas técnicas e na pedagogia do cultivo. Mais ainda, o patrimonialismo aparece na dialética entre saberes e a força social dos diplomas. A possível instalação de um credencialismo radical no Brasil permite analisar a relação entre o domínio patrimonial e a cultura profissional, indicando os limites da democratização do sistema de ensino superior. Dulci (1983;2002) sobre os pactos das elites mineiras indicam que nem tão distintas são as faces diferentes desse grupo. Já na primeira metade do século XX, doutores e coronéis se davam muito bem na organização e regulação da vida social. "Os donos do poder" conhecem as regras do jogo social e as estratégias de convivência dentro desses quadros.No entanto, nas últimas décadas, como mostrou Carlos Benedito Martins (2006), formou-se, no país, um complexo campo acadê-mico, desenvolvendo-se um sistema de ensino superior relativamente ampliado e inclusivo. A matrícula desse sistema, em todos os seus níveis, passa de 1 milhão de estudantes em 1998 para, aproximadamente, 7,5 milhões em 2012, segundo o Censo do Ensino Superior do MEC. Tanto por essa expansão significativa da matrícula -que, mesmo assim, ainda nos deixa bastante distante dos níveis de participação atingidos em países desenvolvidos: 42% dos jovens entre 18 e 24 anos nos Estados Unidos em 2011 (dados do National Center for Education Statisitcs) contra os nossos atuais 15,10% de matrícula líquida em 2012 -quanto pela implementação de diversas políticas institucionais, principalmente as cotas, verifica-se uma entrada importante de estudantes negros e de oriundos das classes populares.Martins (2006 p. 1002) destaca o caráter global desses processos:Uma das tendências centrais do ensino superior contemporâneo, em escala internacional, diz respeito à ampliação do seu acesso, fenômeno que se iniciou a partir da segunda metade do século XX.Um conjunto de fatores tem contribuído para esse http://dx
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