A criação de uma rede articulada de cuidados em saúde mental apresenta um percurso que se inicia com a Reforma Psiquiátrica Brasileira, ao considerar que o processo de desinstitucionalização não se reduz à reforma de serviços e tecnologias de cuidado, mas envolve questões do campo político, sociocultural e relacional. Desse modo, um dos pontos discutidos pelas políticas de saúde mental no Brasil é a importância da assistência de base comunitária na reinserção social do indivíduo em sofrimento psíquico, sendo necessária a integração do cuidado entre diferentes setores e serviços. Para trabalhar tal integralidade, surge a estratégia institucional conhecida por Apoio Matricial (AM), formulada por Campos (1999), e é definido como uma metodologia de gestão do cuidado em saúde, em que duas ou mais equipes interdisciplinares se reúnem para construir em conjunto uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica. Frente a esse contexto, a presente pesquisa teve como objetivo geral compreender como o fenômeno do Apoio Matricial se configura subjetivamente em um médico de família de uma unidade básica de saúde do Distrito Federal. Em uma perspectiva cultural-histórica, utilizou-se como aporte teórico a Teoria da Subjetividade, desenvolvida por González Rey (2003, 2005, 2017). A subjetividade como opção teórica permitiu compreender qualitativamente a especificidade e a complexidade dos processos subjetivos envolvidos no AM, visto que sua definição se apresenta através de categorias que possibilitam a expressão, na unidade simbólico-emocional, da dinamicidade e multiplicidade de experiências dos indivíduos e grupos sociais inseridos no contexto desta pesquisa. Utilizou-se como base a metodologia construtivo-interpretativa, fundamentada pelos princípios da Epistemologia Qualitativa proposta por González Rey (2005, 2017). Através de dinâmicas conversacionais propostas em encontros que ocorreram quinzenalmente em um período aproximado de cinco meses, foi possível construir interpretações acerca da atuação do participante ao longo deste processo de pesquisa, buscando compreender como os sentidos subjetivos de um médico que atuou no apoio matricial se configuram na qualidade da assistência de saúde mental no âmbito de sua atuação. A partir desta construção, foi possível observar que o participante, apesar de atuar em uma realidade de saúde marcada por uma subjetividade social enrijecida e orientada a práticas biomédicas, busca colocar-se em horizontalidade com os usuários do serviço, além de dar uma atenção diferenciada à trama e contexto de vida destes. A atuação do médico de família permitiu refletir sobre a importância e urgência de o cuidado em saúde assumir uma dimensão subjetiva e dialógica na vivência de profissionais da área.
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