Esse artigo discute o apoio matricial em saúde mental na Atenção Primária à Saúde (APS) no contexto da pandemia da covid-19. Para isso, foi realizada uma análise de conteúdo temática dos portfólios produzidos durante a Residência Multiprofissional em Saúde da Família. Após a análise dos materiais foram criadas quatro unidades temáticas de discussão: a saúde mental na APS; o apoio matricial em saúde mental na APS; a APS na pandemia de covid-19 e os impactos para o apoio matricial; e as estratégias para o apoio matricial na APS. Diante disso, discutiram-se os principais desafios encontrados para a saúde mental na APS, bem como algumas potencialidades para a organização de um cuidado em rede e de base territorial. Ainda, observou-se que o caráter emergencial adotado pela APS no contexto da pandemia gerou impacto significativo para o apoio matricial. Quanto à prática do apoio matricial, destacaram-se os processos de comunicação entre as equipes e de educação permanente em saúde mental como aspectos importantes para a construção de um cuidado ampliado e compartilhado. O apoio matricial é base para a produção de uma saúde mental de qualidade na APS e, quando caracterizado como práxis, se mostra potente para superar os desafios já existentes e as eventuais crises de saúde, como a da pandemia de covid-19.
Esta apresentação discute o apoio matricial como espaço dialógico privilegiado para compreender os processos educativos em saúde mental na atenção primária. O apoio matricial, ou matriciamento, corresponde a uma estratégia de gestão do cuidado em saúde, em que duas ou mais equipes interdisciplinares se reúnem para construir em conjunto uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica (CAMPOS & DOMITTI, 2007; COREEIA
A criação de uma rede articulada de cuidados em saúde mental apresenta um percurso que se inicia com a Reforma Psiquiátrica Brasileira, ao considerar que o processo de desinstitucionalização não se reduz à reforma de serviços e tecnologias de cuidado, mas envolve questões do campo político, sociocultural e relacional. Desse modo, um dos pontos discutidos pelas políticas de saúde mental no Brasil é a importância da assistência de base comunitária na reinserção social do indivíduo em sofrimento psíquico, sendo necessária a integração do cuidado entre diferentes setores e serviços. Para trabalhar tal integralidade, surge a estratégia institucional conhecida por Apoio Matricial (AM), formulada por Campos (1999), e é definido como uma metodologia de gestão do cuidado em saúde, em que duas ou mais equipes interdisciplinares se reúnem para construir em conjunto uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica. Frente a esse contexto, a presente pesquisa teve como objetivo geral compreender como o fenômeno do Apoio Matricial se configura subjetivamente em um médico de família de uma unidade básica de saúde do Distrito Federal. Em uma perspectiva cultural-histórica, utilizou-se como aporte teórico a Teoria da Subjetividade, desenvolvida por González Rey (2003, 2005, 2017). A subjetividade como opção teórica permitiu compreender qualitativamente a especificidade e a complexidade dos processos subjetivos envolvidos no AM, visto que sua definição se apresenta através de categorias que possibilitam a expressão, na unidade simbólico-emocional, da dinamicidade e multiplicidade de experiências dos indivíduos e grupos sociais inseridos no contexto desta pesquisa. Utilizou-se como base a metodologia construtivo-interpretativa, fundamentada pelos princípios da Epistemologia Qualitativa proposta por González Rey (2005, 2017). Através de dinâmicas conversacionais propostas em encontros que ocorreram quinzenalmente em um período aproximado de cinco meses, foi possível construir interpretações acerca da atuação do participante ao longo deste processo de pesquisa, buscando compreender como os sentidos subjetivos de um médico que atuou no apoio matricial se configuram na qualidade da assistência de saúde mental no âmbito de sua atuação. A partir desta construção, foi possível observar que o participante, apesar de atuar em uma realidade de saúde marcada por uma subjetividade social enrijecida e orientada a práticas biomédicas, busca colocar-se em horizontalidade com os usuários do serviço, além de dar uma atenção diferenciada à trama e contexto de vida destes. A atuação do médico de família permitiu refletir sobre a importância e urgência de o cuidado em saúde assumir uma dimensão subjetiva e dialógica na vivência de profissionais da área.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
customersupport@researchsolutions.com
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.