Os trabalhadores acometidos por doenças ocupacionais têm vivenciado muitas dificuldades para retornar ao trabalho devido às limitações funcionais e aos obstáculos vivenciados junto às empresas, à previdência social e aos serviços de saúde. Restrição laboral e retorno ao trabalho são aspectos dos mais complexos nas políticas de atenção à saúde do trabalhador. Visando identificar os facilitadores e as barreiras para o retorno ao trabalho de trabalhadores com longo período de permanência e sem resolutividade no serviço, em 2008, realizou-se um estudo exploratório, de natureza empírica, com abordagem qualitativa, desenvolvido a partir de estudo documental de 10 prontuários de trabalhadores acompanhados em grupo pela terapia ocupacional de um Centro de Referência em Saúde do Trabalhador da cidade de São Paulo. A organização e a análise dos dados foram realizadas segundo os componentes da CIF. O uso da CIF favoreceu ampliar a visão das condições de saúde dos trabalhadores e compreender a influência de serviços, sistemas e políticas nas diferentes áreas. As principais barreiras ao retorno ao trabalho foram: ausência de adequados programas de reabilitação profissional e insuficiente comunicação entre os atores dos diferentes níveis administrativos e políticos. Os principais facilitadores foram as atitudes e os comportamentos individuais dos profissionais de saúde do CRST, que forneceram acolhimento e suporte.
No contexto atual do mundo do trabalho, é fundamental que a Vigilância em Saúde do Trabalhador possa, por meio de mecanismos de investigação, análise e intervenção sobre os processos, os ambientes, as organizações e as relações de trabalho, promover a saúde dos trabalhadores e a prevenção de acidentes e de doenças relacionadas ao trabalho. O objetivo deste ensaio é refletir sobre o processo de Vigilância em Saúde do Trabalhador com ênfase no município de São Paulo. Com base em revisão bibliográfica e documental, abordamos o fluxo e os impedimentos das ações atuais nessa área, no contexto do Sistema Único de Saúde, enfocando a distância entre conhecimento teórico, sua apreensão e sua aplicação. Iniciamos por uma retrospectiva histórica e conceitual do campo da Saúde do Trabalhador. Na sequência, fazemos uma reflexão sobre as políticas de governo para Vigilância em Saúde do Trabalhador e sobre os conceitos de Vigilância em Saúde e Vigilância em Saúde do Trabalhador. Complementando a reflexão, a Vigilância em Saúde do Trabalhador é analisada a partir da perspectiva de diferentes autores. Concluímos que é preciso requalificar a estrutura organizacional da saúde pública no Brasil, incluindo indicadores qualitativos de avaliação do impacto das ações e contemplando os diferentes processos de trabalho e a diversidade de necessidades de cada serviço voltado à ST no âmbito do SUS.
Resumo A construção da intersetorialidade em Saúde do Trabalhador (ST), apesar de fundamental, tem se mostrado como um desafio para este campo de saberes e práticas. O objetivo deste artigo é apresentar e discutir como o conceito de intersetorialidade é tratado nas políticas públicas em ST - em quais contextos ele é empregado, como é definido e quais são as diretrizes para sua efetivação. Pesquisa documental de abordagem qualitativa. Analisou-se documentos promulgados entre 1986 e 2015, acessados pelas bases de dados do Ministérios da Saúde, do Trabalho e da Previdência Social, além dos sites da FUNDACENTRO e da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT). Há uma clara liderança do setor saúde nos documentos que propõem a construção de intersetorialidade. Termos como ações integradas, articulação, diálogo e integração e, finalmente, intersetorialidade, foram sendo usados ora como sinônimos, ora como avanços conceituais, expressões genéricas, polissêmicas e supostamente consensuais. Apesar da evolução do conceito intersetorialidade nas políticas da área e da participação crescente dos diferentes setores nesta construção, observa-se serem poucas as proposições claras sobre a efetivação desta prática entre gestores e entre os trabalhadores que compõem o campo.
O cenário político-econômico-social vivido desde 2015 traz novos desafios e caracterizações para o cuidado integral ao trabalhador. Objetivou-se dar visibilidade à perspectiva de formuladores e gestores de políticas públicas direcionadas ao trabalhador, no que se refere à intersetorialidade, no período de transição entre os três últimos governos. Atores vinculados à saúde do trabalhador (ST) de diferentes instâncias (Saúde, Trabalho, Previdência Social e Justiça) foram entrevistados. Houve um consenso quanto às dificuldades para concretização da prática intersetorial. De modo geral, isso enfraqueceu a construção de uma visão sistêmica do campo e de como um setor, mais do que completar ações do outro, faz parte de um sistema único que objetiva garantir a ST. Trata-se de uma vulnerabilidade do campo que dificultou a construção de estratégias coletivas de resistência frente às reformas trabalhista e previdenciária.
Esta pesquisa, de enfoque qualitativo, buscou compreender o processo de trabalho dos profissionais que atuam em Vigilância em Saúde do Trabalhador (VST), lotados na Subgerência de Saúde do Trabalhador da Coordenação de Vigilância em Saúde (COVISA) e nos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CRST) da Prefeitura Municipal de São Paulo. Procurou conhecer as estratégias, recursos e instrumentos utilizados por esses profissionais, além de identificar as ações reais e os significados atribuídos por eles a sua prática. Pretendeu, ainda, dar visibilidade a sua "inteligência no trabalho", acreditando que sua experiência e conhecimento podem colaborar para o aprimoramento e desenvolvimento das políticas públicas de saúde/trabalho e de suas próprias ações em (VST). Baseou-se nos referenciais teóricos da psicodinâmica do trabalho e da escola franco-belga da ergonomia. O método seguido foi o "estudo de caso". Foram consultados documentos governamentais, legislações e atas de conferências federais, estaduais e municipais, relativos à Saúde Pública no Sistema Único de Saúde e à área de Saúde do Trabalhador, em especial à VST. Foi feito um estudo da bibliografia pertinente à área, produzida entre 1980 e 2011. Esse material foi utilizado como fonte de dados simples e como informação para a compreensão dos referenciais teóricos, políticas e diretrizes que norteiam o trabalho dos profissionais em VST. A coleta de dados de campo partiu de um questionário, respondido pelos profissionais dos serviços em foco, a fim de caracterizar aquelas equipes multiprofissionais. Os dados permitiram fazer um diagnóstico do universo estudado e funcionaram como norteadores para a escolha, por critérios de representatividade, dos 13 profissionais que seriam convidados a participar de entrevistas semiestruturadas. Os dados das entrevistas realizadas foram tratados pelo método de "análise de conteúdo", com foco no processo de trabalho, na dinâmica do planejamento, desenvolvimento e avaliação das ações de VST, a partir da percepção dos profissionais que as realizam. Entre os resultados encontrados, verificamos que a VST não é um processo linear, está sujeita a tensões e conflitos de várias naturezas que deveriam ser considerados no estabelecimento dos critérios adotados para sua avaliação, na busca de avanços no alcance dessas ações. Insuficientes processos de reconhecimento e de troca de experiência e a aproximação da aposentadoria da maioria dos profissionais que atuam em VST no município evidenciam a possibilidade de que o 'saber-fazer" construído se perca. A carência de recursos matérias, humanos e de processos de capacitação podem trazer prejuízos ao trabalho. A forma desordenada como vem sendo acolhida a demanda de acidentes de trabalho no município e o número insuficiente de autoridades sanitárias para atender à essa demanda podem estar comprometendo a qualidade e a capacidade efetiva das ações de VST. Concluímos que a ausência de clareza sobre o papel dos CRST e da área de Saúde do Trabalhador de COVISA, em tempos de Rede Nacional de Ate...
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