Acta bot. bras. 24(2): 395-406. 2010. IntroduçãoDesde os primórdios da existência humana, os homens buscam na natureza recursos para melhorar suas próprias condições de vida, aumentando suas chances de sobrevivência. Tal interação é fortemente evidenciada na relação entre seres humanos e plantas, uma vez que os usos dos recursos vegetais são dos mais diversos e importantes, como é o caso da alimentação e das fi nalidades medicinais, bem como a construção de moradias e a confecção de vestimentas (Balick & Cox 1997). A Etnobotânica aborda a forma como as pessoas incorporam as plantas em suas práticas e tradições culturais (Balick & Cox 1997) ou, de acordo com Alcorn (1995, a Etnobotânica é o estudo das inter-relações entre humanos e plantas em sistemas dinâmicos. Segundo Hanazaki (2006), "abordagens etnobotânicas podem fornecer respostas importantes tanto para problemas de conservação biológica como para questões direcionadas para o desenvolvimento local".O emprego de plantas medicinais para a manutenção e a recuperação da saúde tem ocorrido ao longo dos tempos desde as formas mais simples de tratamento local até as formas mais sofi sticadas de fabricação industrial de medicamentos (Hamilton 2004;Lorenzi & Matos 2008). Os primeiros europeus que no Brasil chegaram logo se depararam com uma grande quantidade de plantas medicinais em uso pelos povos indígenas que aqui viviam. Os conhecimentos sobre a fl ora local acabaram se fundindo àqueles trazidos da Europa e os escravos africanos deram sua contribuição com o uso de plantas trazidas da África. A percepção sobre o poder curativo de algumas plantas é uma das formas de relação entre populações humanas e plantas e as práticas relacionadas ao uso tradicional de plantas medicinais são o que muitas comunidades têm como alternativa para a manutenção da saúde ou o tratamento de doenças. No entanto, sua continuidade pode ser ameaçada pela interferência de fatores como: maior exposição das comunidades à sociedade urbano-industrial e, consequentemente, às pressões econô-micas e culturais externas; e maior facilidade de acesso aos serviços da medicina moderna (Amorozo 2002). Por outro lado, como discutido por Amorozo (2004), a introdução da medicina moderna traz outra opção para as práticas de saúde locais já estabelecidas e pode não eliminar o uso da medicina popular. Ao invés disso, em muitas instâncias, procedimentos da medicina moderna e da medicina popular são complementares.Segundo estimativas, povos e comunidades tradicionais ocupam quase 25% do território nacional, mas pouco disso é legalmente reconhecido (Esterci 2008
Human populations along the Brazilian coast have undergone transformations in
The incorporation of traditional medicine in public health policies has been proposed by the World Health Organization (WHO). In Brazil this is reflected in RENISUS, an official list of medicinal plants of interest to the public health care system, with medicinal potential. Despite being an advance, this list reveals only a fraction of the biological and cultural diversity of Brazil. Using ethnobotanical data from two rural communities in Southern Brazil (Sertão do Ribeirão and Costa da Lagoa, Florianópolis municipality) we compared the RENISUS list with the lists of medicinal plants traditionally used. The similarity between the ethnobotanical lists was 26.32%, and between RENISUS and each ethnobotanical list was less than 5%. These results indicate the need to broaden the approach of the public health policies. The systematization of ethnobotanical data can be an interesting strategy for it. KEYWORDS: ethnobotany, Jaccard similarity coefficient, pharmacopoeias, RENISUS, traditional medicine RESUMO A incorporação da medicina tradicional em sistemas públicos de saúde tem sido proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil isso se reflete na RENISUS, uma lista oficial de plantas medicinais de interesse ao sistema público de saúde, com potencial medicinal. Apesar de ser um avanço, essa lista reflete apenas uma fração da diversidade biológica e cultural do Brasil. Utilizando dados etnobotânicos de duas comunidades rurais no Sul do Brasil (Sertão do Ribeirão e Costa da Lagoa, município de Florianópolis) nós comparamos a lista RENISUS com listas de plantas medicinais usadas tradicionalmente. A similaridade entre as listas de plantas medicinais foi de 26.32%, e entre a RENISUS com cada lista etnobotânica foi menor que 5%. Esses resultados indicam a necessidade de uma abordagem mais ampla para as políticas públicas de saúde. A sistematização de dados etnobotânicos pode ser uma estratégia interessante para isso. PALAVRAS--CHAVE: etnobotânica, coeficiente de similaridade de Jaccard, farmacopéias, RENISUS, medicina traditional
The incorporation of traditional medicine in public health policies has been proposed by the World Health Organization (WHO). In Brazil this is reflected in RENISUS, an official list of medicinal plants of interest to the public health care system, with medicinal potential. Despite being an advance, this list reveals only a fraction of the biological and cultural diversity of Brazil. Using ethnobotanical data from two rural communities in Southern Brazil (Sertão do Ribeirão and Costa da Lagoa, Florianópolis municipality) we compared the RENISUS list with the lists of medicinal plants traditionally used. The similarity between the ethnobotanical lists was 26.32%, and between RENISUS and each ethnobotanical list was less than 5%. These results indicate the need to broaden the approach of the public health policies. The systematization of ethnobotanical data can be an interesting strategy for it.
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