Resumo: Mudanças no perfil da epidemia de HIV/Aids ampliaram discussões sobre condições materiais e subjetivas de vida e seu impacto como elemento estruturante da vulnerabilidade à contaminação. Neste contexto, estudar as relações de gênero e a submissão das mulheres aos parceiros é relevante para uma análise da vulnerabilidade entre elas. Este artigo apresenta resultados extraídos de estudo que analisou como mulheres, vulneráveis ao HIV pela própria relação de gênero, lidam com parceiros e com seus direitos reprodutivos. Realizaram-se entrevistas semiestruturadas com dez gestantes soropositivas ao HIV em atendimento pré-natal em ambulatório de ginecologia e obstetrícia especializado no atendimento a pacientes portadores de doenças infectocontagiosas, inserido em um hospital da rede pública de saúde no interior do estado de São Paulo que é considerado referência para a região em que residiam as participantes. Os resultados apontam dificuldades para a distribuição do poder nas relações de gênero como elemento estruturante da vulnerabilidade ao HIV. Entre as participantes, a maioria reconhece a si como vítima da ação de seus parceiros, culpando-os pelo contágio. Aponta-se a necessidade de reestruturar práticas de saúde no atendimento psicológico a mulheres soropositivas, considerando a necessidade de fortalecimento de recursos cognitivos/afetivos para o enfrentamento das vicissitudes do contágio e consequente ruptura com a naturalização como vítimas. Dentre as estratégias para fortalecimento destas mulheres estão: discussão da apropriação do processo do contágio; problematização do aceite tácito da pretensa superioridade masculina e das exigências do parceiro ou da família. O efeito da proposta é reconhecer a passividade feminina como elemento de vulnerabilidade das mulheres e fragilidade das práticas preventivas. Palavras-chave:Vulnerabilidade em Saúde, HIV, Maternidade.
Resumo A Atenção Domiciliar (AD) promove desospitalização de usuários em condição clínica estável e humanização da atenção à saúde em contraposição à valorização exclusiva do saber médico; organizada pelo Serviço de Atenção Domiciliar (SAD), coaduna-se ao Sistema Único de Saúde (SUS) e dá especial importância à participação ativa de usuários e cuidadores. Este artigo deriva de estudo que analisou efeitos da interface equipe SAD-cuidadores na gestão do processo de cuidado em município do interior paulista. Investigou-se a experiência de cuidadores e profissionais na parceria assistencial dedicada a usuários do serviço: foram entrevistados dez cuidadores e sete profissionais participaram de grupo focal. Análise de Conteúdo Temática foi utilizada para compreensão dos dados, permitindo identificar quatro categorias: hierarquização da relação de cuidado; efeito terapêutico da relação equipe-usuário; infantilização do usuário; e influência do gênero no cuidado. Considerações da equipe no grupo focal corroboram percepção dos cuidadores entrevistados, legitimando necessidade de estratégia para aproximação entre equipes e cuidadores. A gestão compartilhada do cuidado, modalidade que pretende promover retomada da autonomia e apropriação do processo de trabalho pelos profissionais, tende a diminuir a fragmentação e favorecer interdisciplinaridade e integração, promovendo ativamente condições para integrar saber de usuários e cuidadores no cuidado.
The first AIDS cases appeared at the begining of 1980s provoking fear reactions, prejudice and impotence on the population and also on the scientific community. Epidemical studies indicated, in that time, a larger number of cases incidence among homosexual individuals demonstrating, at the beginning, a relationship between the illness cases and the group integrals marginal behaviour historically. Parallel, clinical investigations demonstrated immunology weakness among the onset individuals and conducted the researches to find out an infectious agent, HIV (Human Immunodeficiency Virus). Changes on the form of understanding and describing the HIV/AIDS epidemic followed these processes and at the end turned into considering material and subjective conditions of life as structural elements of the vulnerability among women and its effects for the prevention practices. This study searched to identify, concerning to HIV-positive pregnant women, considering their married, family and social relationship life history, familiarity with positive serum, reproductive health and maternity experience, analysing them under a perspective of female gender vulnerability relations. Individual interviews with ten HIV-positive pregnant women, who were pre-natal assisted in a gynaecology and obstetrics infectious deseases ambulatory (AMIGO) in Hospital das Clinicas da Faculadae de Medicina de Ribeirão Preto USP (HCFMRP-USP), a public health service as well as a reference for the region, were carried out. The results show that difficulties to the power distribution on gender relations and precariousness conditions of life are structural elements of HIV vulnerabity; yet there is a break of social relations and life perspectivity discontinuity due to prejudice and fear of death coming from the positivity serum and also an effort to redeem their children's care, besides strategies to reorganize their lives' occurences that will appear together with facing the contagion process. In the majority of the analysed cases, these women recognize themselves as being her partner's actions, victims, blaming them for the contagion. Practice structures needs, in health attendance to these women, are pointed out, considering the necessity to reenforce their cognitive and affective resources, in order to face contagion vicissitudes and consequently rapture with the naturalization as victims. Among the strategies to the reenforcement of these women, the discussion of their appropriation contagion process as well as the assumed male superiority tacit acceptance problematic and families' and husbands' demandings are proposals to female passiviness as an element of women vulnerability, besides weakening preventive practices (CAPES).
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