As doenças sexualmente transmissíveis constituem um grande problema de saúde pública em todos os países. A relação entre a sífilis e a infecção pelo HIV é bem conhecida. O próprio comportamento sexual de risco é fator para a aquisição da doença, bem como para a infecção pelo HIV. Também as ulcerações genitais causadas pela sífilis ou outras DSTs, levando à ruptura das barreiras mucosas, predispõem à infecção pelo HIV. A prevalência desta doença é maior em pacientes homossexuais HIV-positivos, quando comparados com homossexuais HIV-negativos. Além disto, muitos estudos mostram um curso clínico mais rápido e agressivo em pacientes co-infectados, podendo a doença evoluir mais precocemente e, em maior percentual, para o acometimento do sistema nervoso central (SNC), além de maior falha no tratamento ou recaída da infecção. Outro aspecto relevante são as alterações em testes sorológicos para sífilis, relacionados tanto à sororeativação (por ativação policlonal inespecífica de linfócitos induzida pelo HIV) quanto à soro-reversão (por falha na produção dos anticorpos antitreponêmicos devido ao comprometimento progressivo da função imune). Neste estudo, realizado entre janeiro de 1998 e abril de 2000, avaliamos os resultados dos testes sorológicos para sífilis de 90 pacientes HIV-positivos atendidos no Ambulatório de Doenças InfectoParasitárias (CTR-DIP) do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cujas amostras foram processadas no setor de soro-imunologia do Laboratório Central desta instituição. Todas as amostras positivas para o VDRL foram confirmadas com um teste treponêmico, a hemaglutinação indireta (HAI). Deste total, 12 pacientes apresentaram HAI negativa (13,3%). Uma vez que dados da literatura mostram que 1,7% dos resultados de VDRL é falsopositivo em pacientes infectados pelo HIV, o grande percentual de discordância entre o VDRL e a hemaglutinação observado neste estudo alerta para a possibilidade de perda de anticorpos antitreponêmicos no decorrer da infecção pelo vírus. Além disto, 11 dos 12 pacientes que apresentaram HAI negativa mostravam VDRL menor ou igual a 1/32, sendo que este é, segundo alguns autores, um dos fatores de risco associado à perda de anticorpos antitreponêmicos ao longo da infecção pelo HIV. Desta forma, deve-se avaliar com cautela um resultado treponêmico negativo sempre que houver evidência de infecção sifilítica prévia ou atual.
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