As práticas de recurso ao Judiciário, para lidar com as tensões, têm-se expandido, nas últimas décadas, em um processo de judicialização e criminalização da vida. . Nos dois casos, assinalamos uma relação entre sociedade e o Poder Judiciário pautada na busca de ampliação das leis e tipificações penais como maneiras de governar condutas, no campo de um legalismo securitário. O Poder Judiciário parece converter-se em uma espécie de arena única para a qual converge toda sorte de tensão e desentendimento, e as leis, assim, transformam-se na linguagem dessa mediação. Porém, abordamos igualmente uma descrição e análise histórica que opera pela normalização da lei, nos tribunais da norma. Desse modo, buscamos, nesta breve análise, refletir sobre tais questões, propondo analisar esses dispositivos de controle que se intensificam na atualidade e que provocam novas formas de assujeitamento.
Resumo: O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) privilegia a gestão da vida e dos direitos por meio de ações no campo da promoção, garantia e defesa. Para tanto, dos corpos higienizados pela oferta de saberes e de técnicas com manuais de saúde e de educação em direitos humanos para a gestão da vida, em termos de ampliação da produtividade de crianças e adolescentes; sobretudo, às quais, passou a denominar como estando em risco. A problemática de redução das possibilidades de existência à judicialização silencia os aspectos políticos, subjetivos, culturais e sociais que também fazem parte do governo das condutas. As tecnologias de poder e de saber de regulação da população pela entrada da vida na história, como espécie passou a ser chamada por Michel Foucault (1988) de biopolítica e necropolítica. A ligação entre biopolítica e disciplina passou a ser chamada de biopoder, por Foucault e esteve vinculada aos contextos judicializantes da existência, dos corpos, das relações sociais e da política.
Este artigo apresenta uma discussão sobre metodologia de pesquisa, especialmente, a respeito do trabalho com documentos, a partir da história com os estudos sobre biopolítica, governamentalidade e a Escola dos Annales, em Michel Foucault e na Nova História Cultural. Aborda-se uma perspectiva acontecimental e das práticas de saber, de poder e de subjetivação, em uma vertente analítica da Psicologia Social em interface com o trabalho com arquivos. O artigo propõe uma problematização tática dos discursos na gestão da vida e da saúde, na emergência do Estado neoliberal e na proveniência das resistências às práticas de segurança e empresariamento da vida. Assim, conclui-se que a pesquisa com documentos é relevante para trabalhos em Psicologia Social e na área da saúde e singularidade.
No contexto dos megaeventos no Brasil, foi lançada uma campanha pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) – “Está em suas mãos proteger nossas crianças” –, com o objetivo de prevenir e denunciar casos de exploração e violência contra crianças e adolescentes. As estratégias de comunicação utilizadas nos dão pistas de como os efeitos de poder circularam nesse processo, sendo importante uma análise mais minuciosa de algumas considerações genealógicas ancoradas em algumas ferramentas de Michel Foucault. Interrogamos que as estratégias usadas articularam o marketing às práticas de judicialização da vida, caindo em um denuncismo que opera a defesa e punição e pouco a rede de garantia de direitos dessas crianças e desses adolescentes. Ao dar uma resposta mais imediata, esses serviços tornam-se uma política de emergência e uma ferramenta de luta midiatizada, baseada na denúncia, na lógica penal e no negócio do social.
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