Resumo Na mitologia arawa, o tabaco é concebido “em chave de água”, enquanto a presença desta planta na vida cotidiana mostra, paradoxalmente, um movimento “em chave de fogo”. O tabaco e os venenos revelam, para os grupos indígenas do Purus, um cromatismo genuíno, no marco da “mitologia regressiva” que Lévi-Strauss encontrou em outros contextos ameríndios. Nas narrativas arawa, o tabaco é percebido como alimento, mas os seus efeitos eméticos, entorpecentes ou tóxicos permitem situá-lo entre os antialimentos. Tabaco e venenos operam uma lógica reversa, que transforma as presas em predadores dos seus predadores. O xamanismo efetiva um movimento de aproximação perigosa com a alteridade através dos venenos, ao associar o tabaco ao curare das flechas, ao veneno das serpentes, ao timbó. Nos mitos arawa (Suruwaha, Banawa, Deni...), o cromatismo dos venenos do xamã transtorna a diferença entre presas e predadores, e reverte a ordem instável do cosmos.
In the transformational world that Suruwaha from Purus valley conceive, animals are ex-human, because of metamorphoses originated in conflicts of sociality. The paper analyzes the Suruwaha ideas about animals and hunting, inscribed in the narratives and practices of this indigenous group inhabiting the lands of the Purus-Juruá interfluve. Hunting, as one of the activities par excellence for Suruwaha, is conceived from the experiences of tension between people, animals and their masters. Relations with animals oscillate between movements of predation and adoption, founding paradoxically conceptions of predatory adoption and counter-predation in human.
No tempo do Antropoceno, uma nova excepcionalidade humana emerge de forma crítica: não aquela que atribui aos humanos uma condição especial, uma singularidade que situa a nossa espécie numa posição de excelência isolante em relação aos demais habitantes do planeta terra. Trata-se, agora, da excepcionalidade que faz dos humanos os viventes mais poderosamente capazes de alterar o equilíbrio termodinâmico do planeta, dissolvendo desta forma as fronteiras entre geologia e história. De forma disruptiva, os humanos nos tornamos vetor de alteração climática e de mudanças ambientais irreversíveis em âmbito planetário, numa escala de impactos que nenhum outro vivente atingiu. Os animais da terra estão entre os viventes mais atingidos pelas transformações do planeta, e muitos deles estão se extinguindo em escala e ritmo inéditos. O desaparecimento de espécies animais levanta perguntas inquietantes sobre o mundo em que vivemos e sobre a nossa própria condição humana. Na compreensão das dimensões concretas que as mudanças planetárias alcançaram, desperta destacadamente a minha atenção o esforço de Rockström et al. (2009) em identifi car as fr onteiras planetárias que poderiam delimitar um "espaço operativo seguro para a humanidade" diante do cenário antropocênico. Mesmo sustentando-se numa percepção de governança e gerenciamento -na perspectiva da mitigação dos efeitos ambientais de mudanças que adquiriram escalas continentais e planetárias -, parece-me que estas fronteiras nos colocam alguns desafi os conceituais urgentes. Tratase de uma tentativa de atender às questões que o paradigma antropocênico levanta, no escopo de identifi car as pré-condições que a humanidade precisa respeitar para evitar o risco de uma catástrofe ambiental de dimensões planetárias. O trabalho destes cientistas identifi ca nove fronteiras: mudança do clima, acidifi cação dos oceanos, depleção do ozônio na estratosfera, taxa de aerossóis atmosféricos, interferência nos ciclos globais de nitrogênio e fósforo, uso da água doce, mudanças no uso do solo, poluição química e perda de biodiversidade. Nestas fronteiras foram estabelecidos critérios quantitativos (com exceção dos índices de poluição química e taxa de aerossóis na atmosfera). O resultado inquietante é que a estimativa do estudo aponta que a humanidade já transgrediu três fronteiras planetárias: em relação à mudança do clima, à perda de biodiversidade e às mudanças no ciclo global do nitrogênio.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
customersupport@researchsolutions.com
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.