Resumo Este trabalho toma como ponto de partida o texto de Nestor Perlongher, intitulado “O desaparecimento da homossexualidade”, que descreve um esvaziamento da identidade homossexual masculina com o surgimento da aids e propõe uma nova leitura a partir da implementação da profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP) pelo sistema público de saúde no Brasil. Distribuída a partir do início de 2018 e considerada como uma das mais novas medidas de prevenção ao HIV/aids, a PrEP se configura como um esquema antirretroviral de uso contínuo direcionado aos sujeitos que não foram infectados pelo vírus. Tomando como referência empírica o Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas para PrEP, identificamos como, a partir da noção de risco, a profilaxia possibilita o retorno da homossexualidade aos consultórios médicos e, mais do que isso, opera como objeto discursivo de problematizações de caráter sanitário e social. Diante disso, a PrEP produz uma nova categoria de homossexual, atrelada a tecnologias disciplinares e biopolíticas, que se apoiam na individualização e responsabilização dos indivíduos pelo cuidado de si.
Não seria exagero dizer que as preocupações com o cuidado do corpo e da saúde atingiram recentemente um patamar nunca antes registrado nas sociedades modernas. Experimentamos hoje o que Michel Foucault (1976) definira, há mais de três décadas, como somatocracia, para fazer referência à centralidade do corpo como alvo da vigilância panóptica do indivíduo e como eixo fundamental das estratégias de gestão biopolítica da população.Trata-se de um conjunto de fenômenos que vem concitando crescentemente a atenção dos pesquisadores da área das ciências sociais em geral, mas também de cientistas sociais que se debruçam sobre objetos cuja localização teórica e/ou empírica corresponde ao campo da saúde. Esse caráter emergente da centralidade do corpo e da saúde para a existência humana, tanto individual como coletiva, interpelaria, de forma inédita, nosso equipamento intelectual, fundamentalmente epistemológico e teórico, "para que saibamos capturar as novas dinâmicas, as novas configurações e os novos processos do social e da relação entre dinâmicas sociais e saúde" (Cohn, 2013, p. 17).Inspirada nesse tipo de propósito, a perspectiva aqui adotada para problematizar a conversão do corpo e da saúde em alvos fundamentais do biopoder apoia-se em dois pilares conceituais: o funcionamento do risco como dispositivo biopolítico e a medicalização da vida social. O objetivo deste artigo consiste em *Este artigo baseia-se em resultados da pesquisa de pós-
O artigo analisa algumas dimensões socioculturais do campo semântico e dos modos de estruturação dos discursos da psiquiatria forense em torno da periculosidade criminal e de suas conexões com a saúde mental. A partir dos resultados de uma pesquisa baseada na análise de conteúdo de uma amostra de manuais e livros de psiquiatria forense, examinaram-se alguns significados e formas de enunciação da noção de periculosidade criminal, bem como as principais estratégias interpretativas que organizam os modelos etiológicos da criminalidade predominantes nessa área.
A ideia de risco tem se convertido em elemento nuclear da vida social contemporânea, o que pode ser observado, de maneira especial, no campo da análise, gestão e avaliação de ameaças e perigos associados a problemas ambientais. O presente trabalho tem o propósito de examinar o papel que desempenha a noção de risco nos estudos científico-técnicos sobre a problemática da água, do ponto de vista do seu estatuto conceitual na estruturação de modelos e estratégias interpretativas sobre a gestão dos recursos hídricos no Brasil.A perspectiva adotada corresponde a um estudo que apresenta todas as limitações próprias da fase inicial de uma pesquisa de caráter exploratório, na qual predomina uma intencionalidade basicamente "topográfica" de pesquisadores que vêm desenvolvendo esse mesmo olhar em outros "territórios" da vida social, não diretamente vinculados a questões ambientais, nos campos da saúde e da criminalidade. Com esse intuito, foram examinados quinze artigos científicos, publicados em periódicos brasileiros na última década, os quais foram selecionados de acordo com critérios de pertinência e relevância temática, a partir de consultas em bases referenciais de dados bibliográficos (Scielo, Portal de Periódicos CAPES, Banco de Teses CAPES, Google Acadêmico), mediante a utilização de palavras-chave (risco, ameaça, vulnerabilidade, perigo, incerteza) para a filtragem dos textos sobre gestão de recursos hídricos. Neste sentido, deve-se advertir que, se bem foi possível identificar um grande número de textos sobre tópicos vinculados à gestão dos recursos hídricos, quando estes passaram a ser classificados de acordo com a presença de conteúdos explícitos sobre a problemática do risco nessa área, o universo de materiais acabou diminuindo sensivelmente de tamanho. Ao mesmo tempo, faz-se necessário destacar que a construção da amostra não respondeu a critérios de representatividade estatística nem substantiva, no sentido de representação de variáveis. O propósito que norteou essa amostragem foi, apenas,
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