Chelonians represent an important resource in the Amazon, either as a source of protein at the base of the food chain of aquatic and transition ecosystems, or in the dispersion of seeds of plants from floodplains and flooded forests. The consumption and predatory exploitation of their meat and eggs by local populations has been, and still is, one of the main threats to these animals. Community-based conservation projects allied to official protection programs have been restoring populations of chelonians of the genus Podocnemis throughout the Amazon since 1974. In this study, we analyzed the historical time series of protection data of Podocnemis expansa, P. unifilis, P. sextuberculata and P. erythrocephala in areas protected by the government and communities in the Amazonas state and northwest of Pará state. Between 1974 and 2019, 230,444 nests and 21,350,201 hatchlings of P. expansa, 170,076 nests and 3,229,821 hatchlings of P. unifilis, 647,715 nests and 6,410,092 hatchlings of P. sextuberculata and 24,617 nests and 168,856 hatchlings of P. erythrocephala were protected. Community protection schemes emerged in 1990, and covered 80.7% of the areas and produced 64.2% of P. unifilis hatchlings and 44.6% of P. sextuberculata hatchlings. The areas with the highest production of P. expansa remain under government protection (57.4%). Using the time series of production of nests and hatchlings per beach, logistic growth curves were estimated, and the values of r and K were compared between the two protection systems (government and community). Beaches controlled by the government showed higher support capacity in the production of nests (1,910.7 ± 1,035) and hatchlings (211,513 ± 93,031) of P. expansa and P. sextuberculata (81,160 ± 34,924 hatchlings). However, the communities were more efficient in protecting nests (r = 0.102 ± 0.2315) and hatchlings (r = 0.282 ± 0.166) of P. unifilis. Community-based protection and monitoring programs are an important component that should be incorporated by the government’s environmental agencies for the management and conservation of turtles in the Amazon.
O consumo de quelônios faz parte da culinária amazônica. O manejo de base comunitária do Programa Pé-de-pincha/UFAM tem recuperado populações de tracajás (Podocnemis unifilis) e tartarugas (P. expansa) em 123 comunidades do Amazonas e Pará. Em 2017, no Amazonas, foram criadas normas para o sistema de criação comunitária de quelônios. Este estudo objetivou buscar informações sobre os itens alimentares de filhotes de tartarugas e tracajás na natureza, avaliar seus valores nutricionais, e testá-los na dieta de filhotes em berçários de criações comunitárias em Barreirinha/AM. Foram realizadas 4 expedições (seca, enchente, cheia e vazante) quando foram coletados, identificados e feita análise bromatológica de frutos, folhas e sementes consumidos por quelônios que pudessem ser usados como ingredientes em rações alternativas. Foi feita a captura de tracajás e tartarugas com redes trammel-net, mergulho e viração nas praias, para coletar amostras do conteúdo estomacal pela técnica de flushing e identificação dos itens alimentares. Foram identificados 55 frutos (14 na seca; 41 na cheia) com 7,4±2,9% (4,3-14%) de proteína bruta (PB) na sua composição. Foram capturados 77 tracajás e 3 tartarugas, dos quais foram coletadas 58 amostras de conteúdo estomacal, com vestígios de sementes, frutos, folhas, conchas bivalves e gastrópodes. Foi realizado um ensaio de competição entre filhotes de tracajá e tartarugas alimentados com 50% ração+50% frutos versus filhotes alimentados com a ração TC-45, Nutrispiscis©, alevinagem. Não houve diferença entre o peso de filhotes de tracajás e tartarugas alimentados exclusivamente com ração TC45 e a ração alternativa/frutos locais, tornando viável seu uso na dieta dos filhotes.
Alimentos vegetais podem representar mais de 90% da dieta das espécies de tartarugas aquáticas podocnemis. Grande parte desses alimentos vêm das florestas de várzea ou igapós, morada dos ribeirinhos que dominam o conhecimento das plantas, e também é habitat dos quelônios que as usam como alimento. Portanto, entrevistamos 39 ribeirinhos no período de 2019 a 2021, nas comunidades Granja e Piraí, Barreirinha, Amazonas. Com o objetivo de conhecer as plantas consumidas pelas tartarugas, através do saber tradicional dos ribeirinhos. Utilizando técnicas de pesquisa etnobiologica, usando métodos qualitativos e quantitativos de coleta dos dados: bola de neve, lista livre com análise do índice de Smith e rede social. Nas entrevistas foram indicadas 83 etnoespécies, catalogamos 59 espécies, distribuídas em 55 gêneros e 29 famílias botânicas. O capitarí (Handroanthus barbatus) apresentou maior índice de Smith, portanto foi a mais conhecida, seguido do tucuribá (Couepia paraensis), marajá (Bactris riparia), camu-camu (Myrciaria dubia) e o jauari (Astrocaryum jauari). Destacamos as famílias Fabaceae, Myrtaceae e Arecaceae por comtemplarem mais espécies indicadas. Dentre as plantas que catalogamos, as previamente descritas para as espécies de podocnemis na literatura pertenciam a 22 famílias (76%), 26 gêneros (47%) e 30 espécies (51%). Assim, 24% das espécies referem-se ao primeiro registro desses itens alimentares na dieta desses quelônios. Os conhecimentos tradicionais dos ribeirinhos devem ser considerados como informações prioritárias na formulação de estratégias de manutenção e restauração das florestas riparias, para conservação das populações de podocnemidídeos, orientando as legislações para que garantam a conservação dos sistemas sociobiodiversos considerando também o saber do caboclo ribeirinho.
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