As cavernas são consideradas “armadilhas” naturais de sedimentos e outros materiais externos que normalmente são transportados e depositados em seu interior, podendo ser acumulados em um ambiente relativamente estável por muitos anos, proporcionando condições adequadas para estudos sedimentológicos e paleoambientais. Estudos sobre a estratigrafia e cronologia de sedimentos presentes em cavernas quartzíticas são escassos e podem contribuir para a reconstituição paleoambiental. Este estudo teve como objetivos mapear a Caverna do Galo, situada no reverso do maciço quartzítico Serra São José (MG) e caracterizar física, química e cronologicamente um pacote de sedimentos de seu interior. A caverna foi mapeada e o pacote de sedimentos com 2,5 m de comprimento, 0,47 m de altura e 0,5 m de espessura foi descrito e amostrado in situ, com base em atributos morfológicos (textura e cor de suas camadas). Foram coletadas 17 amostras, caracterizadas por meio de análises granulométrica, geoquímica e do teor de carbono orgânico. Destas, três amostras foram selecionadas, em função da posição no pacote (base, centro e topo) e do teor de carbono orgânico, para datações radiocarbônicas. Os resultados foram utilizados na análise de componentes principais para a visualização conjunta das variáveis (resultados das análises laboratoriais) e das observações (camadas amostradas). A Caverna do Galo foi formada pelas águas meteóricas e sua morfologia foi influenciada pelo falhamento NNW/SSE e pela diferença de dureza entre as rochas componentes (quartzito e filito). O pacote de sedimentos foi depositado preenchendo da base ao teto de uma curva convexa da lateral norte da caverna, onde o fluxo d’água encontra um obstáculo, diminuindo sua velocidade e favorecendo a sedimentação. A morfologia e as composições granulométricas e químicas dos sedimentos e a idade radiocarbônica variam ao longo do pacote, evidenciando oscilações na intensidade e duração de eventos de precipitação, que podem estar associados a mudanças climáticas holocênicas.
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