O presente artigo visa analisar o processo de construção das estratégias identitárias e de ação política do Movimento Negro no Brasil contemporâneo. A atuação do Movimento provocou, a partir do final dos anos 70, uma rediscussão da identidade nacional e um processo de ressignificação identitária. Nos anos 90 mudanças ocorreram no interior do Movimento Negro, que, através do diálogo com o Estado brasileiro, teve sua agenda política alçada à esfera pública. Contudo, enfatiza-se que é no contexto da participação do Movimento na Conferência Mundial contra o Racismo da ONU, realizada em Durban, na África do Sul, em 2001, que o antirracismo e a "questão racial" sofrem mudanças profundas no Brasil. No contexto pós-Durban, as "ações afirmativas" tornam-se a principal bandeira do Movimento Negro, que, paralelamente a um processo de diferenciação interna, tem seu discurso político-identitário transnacionalizado, através do deslocamento de uma identidade nacional para uma identidade étnica.
Resumo Pretendemos nesse texto interpelar criticamente o cânone da história da historiografia brasileira por meio das posturas (in)disciplinares de intelectuais afrodiaspóricos como Beatriz Nascimento e Clóvis Moura. Para isto, em um primeiro momento, buscaremos esboçar sinteticamente a construção da história da historiografia enquanto campo autônomo nos últimos anos, evidenciando que a sua constituição esteve eivada por uma geopolítica do conhecimento que reiterou uma supremacia branca na memória disciplinar nacional. Em seguida, evidenciaremos, através das interrogações de Beatriz Nascimento e Clóvis Moura ao cânone historiográfico, as possibilidades de reconstrução disciplinar e descolonização desse campo do saber por meio de um olhar racializado, que subverta os silêncios e historicize o lugar epistêmico de um campo predominante branco, masculino e eurocentrado.
Resumo: O presente artigo procura analisar aspectos da produção intelectual pública do sociólogo negro Eduardo de Oliveira e Oliveira de meados da década de 1970, especialmente a Quinzena do Negro da USP (1977), um evento-chave em sua trajetória de pensamento e de ação sociológica. Consideramos que seu trabalho ajudou a constituir os fundamentos intelectuais das lutas políticas negras em São Paulo e no Brasil nos anos 1970 por meio de um projeto epistemológico, projeto composto, por um lado, de uma discussão acerca do lugar epistêmico do negro como sujeito do conhecimento, e por outro, de um diálogo crítico com a Escola Sociológica Paulista, o Movimento Negro brasileiro e referenciais dos African American Studies dos Estados Unidos.
RESUMO O presente artigo realiza uma análise histórica dos intercâmbios intelectuais, culturais e políticos entre bibliógrafos brasileiros e norte-americanos através do processo de produção da Afro-Braziliana, bibliografia sobre o negro no Brasil compilada pela bibliotecária afro-americana Dorothy Porter entre 1943 e 1978, ano de sua publicação. Por meio de uma história sociocultural da prática bibliográfica, examinamos a formação da obra relativamente aos tensionamentos teóricos, às lutas narrativas, aos dissensos interpretativos e às leituras contrastantes que o trabalho de Porter provocou, tanto em sua constituição quanto em sua recepção. A hipótese principal é a de que as problemáticas engendradas pela Afro-Braziliana reposicionaram politicamente diferentes entendimentos e disputas narrativas de padrões de categorização social dos sistemas raciais atribuídos ao Brasil e aos Estados Unidos.
No transcorrer dos anos 1970, no contexto de formação do Movimento Negro contemporâneo no Brasil, um significativo trânsito de intelectuais e ativistas antirracistas negros tomou lugar entre os Estados Unidos e o Brasil. Com base em uma perspectiva transnacional, discutimos as relações estabelecidas nesse campo pelo sociólogo brasileiro Eduardo de Oliveira e Oliveira e a Black Sociology (Sociologia Negra) afro-americana em meados da década de 1970. A Black Sociology propunha uma abordagem teórica organicamente conectada às vidas e aspirações políticas dos afro-americanos em oposição à White Sociology (Sociologia Branca), que analisava negros como objetos, e não sujeitos. Argumentamos que Oliveira traduziu (em eventos acadêmicos, textos e projetos institucionais) esses referenciais para o Brasil em uma proposta de Sociologia Negra que seria instrumento teórico para a mudança social e a criação de novas referências epistemológicas para os afro-brasileiros, um processo que ajudou a construir os fundamentos intelectuais das lutas políticas negras contemporânea no Brasil.
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