WEBER (1993, p. 362) Desde os escritos seminais de Max Weber, a sociologia da religião tem desenvolvido uma linha de raciocínio bastante curiosa a respeito do significado cultural e histórico da profecia hebraica. Por um lado, esta última tem sido vista como nada menos que o empreendimento intelectual que gerou a singularidade da nossa civilização ao conceber a idéia de um Deus universal (que recompensa quem obedece a Seus mandamentos e pune quem os transgride) e estabelecer, a partir dessa concepção, o preceito, incompatível com "todo pensamento genuinamente asiático", de que "por meio de um comportamento prosaico, dirigido às 'demandas do dia', é possível obter salvação" (Weber, 1960, pp. 332, 342). 1 Por outro lado, tem lhe sido atribuída a promessa de um futuro no qual Israel prevaleceria sobre todas as outras nações, a qual, após a devastadora experiência do exílio na Babilônia (século VI a.C.), teria transformado os judeus em um "povo-pária", auto-segregado, ressentido, ritualista, legalista, orientado por uma ética dual (isto é, com um padrão de comportamento em relação aos judeus e outro em relação aos gentios) e, como tal, incapaz de difundir o "padrão racional de conduta" que a doutrina profética de um Deus universal havia estabelecido. 2 Essa linha de raciocínio conduziu à tese de que, se, por um lado, a doutrina profética hebraica anterior ao exílio desencadeou o processo
Esse trabalho discute os sentidos em que se pode dizer que a sociologia tem avançado ou não no Brasil e as direções que ela tem seguido ou pode vir a seguir. Sugere-se que tem havido avanço por meio de inovações metodológicas, da aposta no potencial heurístico de esforços mais abrangentes de teorização e da emulação de estudos bem sucedidos realizados nos Estados Unidos. Avanços ocorridos nas áreas de mobilidade social, religião e criminalidade ilustram exemplarmente essas possibilidades. Compara-se o modo como o conhecimento tem avançado em cada uma dessas áreas e os limites e potencialidades inerentes a cada um desses modos.
Esforços de grandes sínteses teóricas são raros no cenário biológico e se multiplicam facilmente no cenário sociológico. Ao mesmo tempo, enquanto no primeiro caso os esforços ganham status paradigmático, no segundo eles conduzem a uma 'balcanização' da disciplina. O artigo questiona as razões dessa diferença e procura a resposta reconstruindo um esforço de síntese teórica na biologia que já se estende por mais de duas décadas.
Alexandre Koyré sugeriu uma vez que a revolução científica do século XVII foi a desforra de Platão. Quero sugerir que o século XX tem assistido a uma desforra bem menos espetacular: a do projeto naturalista de David Hume. Como é sabido, a grande realização de Hume foi ter mostrado que a inferência indutiva não se justifica logicamente. Hume ensinou que não há conexão necessária entre os fenômenos da natureza, isto é, que não há conexão necessária entre, por exemplo, beber água e saciar a sede, ou comer e saciar a fome e, portanto, que o fato de termos tido até hoje a nossa sede saciada pela água e a nossa fome saciada pela comida não nos autoriza a concluir que no futuro isto se repetirá. Se não há conexão necessária entre beber água e saciar a sede, ou entre comer e saciar a fome, então não há qualquer razão especial para alguém acreditar que a água sacia a sede e a comida sacia a fome. Mas, usualmente, as pessoas acreditam nisto. Como isto é possível? Que linha de raciocínio as conduz a tais conclusões? Nenhuma linha de raciocínio, responde Hume. Se as pessoas acreditam que terão a sede saciada pela água e a fome saciada pela comida é simplesmente porque se habituaram a ver uma coisa (ter a sede ou a fome saciada) seguir-se à outra (beber água ou comer). Esta resposta aponta para um paradoxo colossal: nossa capacidade de raciocinar não nos ajuda a estabelecer uma conexão entre aquilo que já experimentamos (termos sempre tido o apetite saciado por um prato de comida, por exemplo) e aquilo que ainda não experimentamos (a expectativa de ter o apetite saciado pelo próximo prato de comida) mas, não obstante, estamos sempre estabelecendo tal conexão. Embora não haja raciocínio que autorize a inferência de que a água sacia a sede e a comida sacia a fome, não hesitamos em procurar água quando temos sede e em procurar comida quando temos fome. Willard Quine, em seu célebre artigo "Naturalized epistemology", pronunciou-se a este respeito dizendo que o paradoxo humiano é o paradoxo humano.A tese de Hume de que é vital para as pessoas acreditar naquilo em que nenhum raciocínio ou argumento pode levá-las a acreditar encerra dois convites. O primeiro, a investigar empiricamente como as pessoas vêm a acreditar no que acreditam (ou a inferir o que inferem) em circunstâncias determinadas. O segundo, bem mais ousado, a renunciar a qualquer projeto epistemológico em favor de tal investigação, isto é, a assumir que não
O colapso do ideal baconiano de boa ciên-cia, consumado com o advento da teoria da relatividade, o subseqüente insucesso dos empiristas do Círculo de Viena em estabelecer um ideal substituto e a pertinência da crítica de Pierre Duhem ao ideal racionalista levaram a reflexão sobre o que é boa ciência a subordinar-se a uma análise naturalística do processo de aquisição de conhecimento ou, simplesmente, a dissolver-se em uma sociopsicologia do conhecimento. Gostaria de sugerir que nenhuma dessas formas de capitulação é necessária. A reflexão sobre o que é boa ciência, ou, para usar um termo mais familiar, a metodologia, pode reencontrar seu caminho se assumir a posição que, por assim dizer, lhe é de direito: a de carro-chefe da história da ciência. É verdade que há algo de megalomaníaco em supor que a metodologia possa assumir tão elevada posição, mas não consigo vislumbrar um caminho intermediário entre o recuo a uma das formas de naturalismo a que acabo de fazer menção e uma operação de altíssimo risco. Receio que a metodologia tenha sido conduzida ao fundo de um poço do qual não há mais como sair a não ser dando um salto vertiginoso. O objetivo deste artigo é discutir a viabilidade deste salto. O ideal de boa ciência na encruzilhadaO ideal de boa ciência que por mais tempo seduziu a ciência moderna foi, sem dúvida, a concepção indutivista de Francis Bacon. Eu o resumiria assim: boa ciência é a que se mostra capaz de inferir leis naturais a partir do acúmulo de observações. Mais precisamente, é a que dispõe de princípios que, uma vez postos em prática, permi-
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