IntroduçãoAs festas de santo têm se mostrado um objeto privilegiado pelos cientistas sociais interessados no estudo das relações entre religião, cultura e sociedade através da análise de rituais. Desde os estudos de comunidade dos anos 1940-1950, desenvolvidos em sociedades camponesas tanto na América Latina, como nas regiões mediterrânicas, nos quais invariavelmente encontrava-se um item sobre devoções e festejos, passando pela literatura das décadas de 1970-1980, interessada em discutir as diversas configurações da cultura popular, as análises sobre festas constituem um patrimônio considerável da Sociologia e da Antropologia.Identificar a existência desse patrimônio, no entanto, não implica considerar que o interesse pelo tema seja constante, pois há períodos de maior ou menor efervescência dessas análises. Além dos dois momentos mencionados no parágrafo anterior, o que notamos é que, desde a segunda metade dos anos 1990, os estudos das festas vêm passando, no Brasil, por um reaquecimento, o que uma consulta ao banco de teses e dissertações da Capes poderia confirmar.A renovação do interesse pelas festas poderia relacionar-se a alguns processos concomitantes: de um lado, sugiram possibilidades de reinterpretação
A partir de experiências etnográficas com enredos de escolas de samba do Rio de Janeiro que contêm referências religiosas, este artigo tem por objetivo apontar possibilidades de articulação entre festa, arte, cultura e religião. Toma-se por base o acompanhamento dos desfiles da Renascer de Jacarepaguá, em 2016, em homenagem aos Ibeijis, santos e orixás gêmeos, e da Estação Primeira de Mangueira, em 2017, com um enredo que tratava das relações entre santos e devotos. As etnografias foram realizadas de forma coletiva por membros do Grupo de Pesquisa em Antropologia da Devoção do Museu Nacional/UFRJ, que partiram de um repertório acumulado de discussões na área da “antropologia da devoção” e no estudo das religiões ou das festas religiosas stricto sensu. Porém, o processo de aproximação ao universo das escolas de samba produziu uma abertura de horizontes, provocada pela experiência de abordar a religião como temática carnavalesca. São as descobertas e os impasses dessa mudança de contexto em um percurso de pesquisas que procuraremos explorar aqui.
Apresentação em vídeo: https://youtu.be/uDLKJcDKpgM
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