Em entrevista concedida a Michel Laban, em 1988, e publicada no livro Angola -encontro com escritores , ao falar sobre Muana Puó e as diferentes fases de sua obra, Pepetela observa:"Parece-me que as preocupações de fundo, em Muana Puó são as mesmas de todo o resto que foi escrito depois. Há um tema que é comum, que é o tema da formação da nação angolana. Isso faz o denominador comum." 1 Antes de buscarmos a pista dada pelo autor, é interessante, para nos aproximarmos de "todo o resto que foi escrito depois", examinar a sua bibliografia, tarefa que permite também situar a sua dimensão no sistema que integra. Reunindo já treze títulos , dos quais apenas três publicados no Brasil, Pepetela divide com José Luandino Vieira o estatuto de escritor mais conhecido e premiado de Angola. Para citar apenas dois, apontamos o "Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte" (em 1993) e o Prêmio Camões (em 1997). O levantamento de sua produção demonstra ainda que a repercussão de seu trabalho já vai além das fronteiras da língua portuguesa. Para muito além, eu diria mesmo, uma vez que Mayombe , foi publicado inclusive no Japão, numa edição "linda, onde só se pode reconhecer os números das páginas e um mapinha de Angola na contracapa", segundo bem humorada declaração do próprio romancista.
No projeto poético de José Craveirinha, o sentido de pertença envolve o dever e o direito a uma expressão em que o combate à exclusão define também uma pedagogia orientada pela centralidade da terra e das gentes vistas sob a ótica do movimento, opção que partilha com alguns de seus contemporâneos, como o poeta angolano António Jacinto. Em sua constituição, a linguagem busca a oralidade e situa a diferença nas coordenadas históricas, redimensionando os sentidos identitários, para fazer da poesia um espaço de reflexão sobre as contradições do seu presente.
P rofundamente marcada pela História, a literatura dos países africanos de língua portuguesa traz a dimensão do passado como uma de suas matrizes de significado. A brusca ruptura no desenvolvimento cultural do continente africano, o contato com o mundo ocidental estabelecido sob a atmosfera de choque, a intervenção direta na organização de seus povos constituíram elementos de peso na reorganização das sociedades que fizeram a independência de cada um de seus países. Tão recentes, e feitas no complexo quadro da conjuntura internacional dos anos 70, essas independências não dariam conta do desejo de acertar o passo na direção do projeto utópico que mobilizara os africanos. Como herança, o colonialismo deixava uma sucessão de lacunas na história dessas terras e muitos escritores, falando de diferentes lugares e sob diferentes perspectivas, parecem assumir o papel de preencher com o seu saber esse vazio que a consciência vinha desvelando.Uma visão panorâmica da literatura angolana, por exemplo, permite ver que a valorização do passado é, sem dúvida, um dos tópicos do programa elaborado pelo grupo de escritores que se propõe a fundar a moderna poesia de Angola. Em fins dos anos 40, reunidos em torno da revista Mensagem , António Jacinto, Agostinho Neto, Viriato da Cruz, para ficar com apenas três nomes, vão formar a famosa "Geração dos Novos Intelectuais", que, elegendo como palavra de ordem a frase "Vamos descobrir Angola", procura lançar uma nova concepção de poesia. A expressão "Novos Intelectuais" alude a um grupo anterior que sacudiu Luanda em fins do século XIX com propostas que, embora menos radicais, foram objeto de repúdio e perseguição por parte do
ituado sob um céu de contradições, o debate em torno das teorias pós-coloniais, a par dos equívocos que obviamente abriga, vai abrindo um espaço fértil à discussão acerca dos problemas que a expansão colonial impôs ao mundo. Com origem na crítica literária e nos estudos culturais, esse campo de estudo tem propiciado olhares diversificados e renovados sobre questões fundamentais nos espaços localizados fora dos centros metropolitanos, ou seja, aqueles em que foram geradas as chamadas narrativas mestras que serviram de base à leitura de textos e interpretação do mundo durante tanto tempo. Muito embora estejam esmaecidas as cores das bandeiras em que se projetaram as utopias libertárias, as mudanças processadas nos territórios colonizados convidam a novas visões de velhos problemas. Já um clássico em nosso tempo devorador de conceitos e valores, há algumas décadas, Edward Said apontou-nos a urgência do combate contra os "universalismos fáceis e as totalizações generalizadoras", sugerindo enfaticamente a necessidade de se descentralizar a história metropolitana e, com isso, acessar outros modos de ler o passado e o presente.É nessa perspectiva que podemos compreender a benvinda publicação dos textos que Manuela Ribeiro Sanches reúne para compor o volume Malhas que os impérios tecem . Textos anti-coloniais, contextos pós-coloniais, com selo das
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