A partir das contribuições conceituais de proxêmica e de proxêmica verbal, propomos, neste artigo, a construção do conceito de proxêmica linguístico-discursiva, que, em linhas gerais, constitui um mecanismo, ao mesmo tempo, (não)linguístico e discursivo, responsável pela regulação das distâncias interlocutivas. Para tanto, utilizaremos três textos empíricos, com a finalidade de dar visibilidade a esse mecanismo em três campos teóricos distintos: a teoria de (im)polidez e a noção de face; a noção de gêneros discursivos; e a indexicalidade comum às pistas contextualizadoras, à referenciação e à dêixis social/discursiva. Em suma, constatamos que a proxêmica linguístico-discursiva, presente nos três campos teóricos, se relaciona ao estabelecimento de interações mais/menos (as)simétricas.
A interação humana prevê, a todo instante, a negociação de sentidos entre os interagentes, a partir de suas enunci(ações). Estes, por sua vez, nem sempre revelam seus sentidos na superfície dos enunciados, o que demanda, assim, um exercício inferencial frente as ações do outro. Em relação a encontros interculturais, tal propriedade se torna ainda mais acentuada, em virtude das (possíveis) distintas convenções socioculturais. Este estudo visa a analisar como a professora de português brasileiro e as colaboradoras do estudo (colombianas) negociam, por meio de pistas de contextualização linguísticas e extralinguísticas, um enunciado irônico. Para a geração de dados, contamos com a participação da professora do curso e de duas estudantes (Laudiel e Mercedes), que permitiram o registro das imagens e se comprometeram com o visionamento das próprias ações e a reflexividade acerca destas. Por fim, constatamos que o enunciado irônico “filha do leiteiro”, proferido pela professora, foi adequadamente processado por Mercedes e pelos demais estudantes, com exceção de Laudiel, que sinalizou essa dificuldade com pistas de natureza não verbal e com posterior relato. O estudo de pistas de contextualização torna-se fundamental na prevenção de ruídos interacionais provenientes da não partilha de sentido entre sujeitos de culturas distintas.
Nesta pesquisa, investigamos, no contexto de ensino de português brasileiro como língua adicional, como se dá a negociação de estratégias linguísticas e não linguísticas de (im)polidez relacionadas à enunciação de pedidos. No debate concernente à (im)polidez, consideramos o ato de pedir (LABOV; FANSHEL, 1977; CODY et al., 1983; TRACY et al., 1984; CRAIG et al., 1986), inspirados em Kerbrat-Orecchioni (2004), um fenômeno universal (LAKOFF, 1973; LEECH, 1983; BROWN; LEVINSON, 1987) de distinta manifestação sócio/intercultural (BLUM-KULKA; OLSHTAIN, 1984; TRACY et al., 1984; CRAIG et al., 1986; CULPEPER, 2011; KERBRAT-ORECCHIONI, 2004, 2006; CONLAN, 2005; KALLIA, 2005; MENDOZA 2005; TSUZUKI et al., 2005; SRINARAWAT, 2005; BOUSFIELD, 2008). Metodologicamente, caracterizamos o nosso estudo como qualitativo, inscrito em uma perspectiva etnográfica (GREEN; BLOOME, 1997), ou melhor, microetnográfica (GARCEZ, 2008; GARCEZ et al., 2014). Os resultados da pesquisa revelaram, nos dois excertos sob análise, que a diretividade (e a potencial impolidez das ações linguageiras) foi mitigada por meio de recursos linguísticos e paralinguísticos, de modo a minimizar ruídos (e desconfortos) interacionais.
Neste artigo, almejo rediscutir a noção de competência metagenérica nas dimensões linguístico-discursiva, pragmática, sociocognitiva e sociointeracional, a partir de uma revisão de literatura de pesquisas que discutem atributos formais e funcionais do gênero resenha acadêmica. Relativamente aos dados gerados, propus um quadro com sete habilidades socioculturais, a partir dos vestígios de competência metagenérica encontrados na revisão de literatura, que dizem respeito à compreensão da função social do gênero, aos princípios de construção textual de sentidos; ao relato de resultados de pesquisas; à síntese de conteúdos; à avaliação de conteúdos; à manifestação autoral e expressão estilística; e à projeção no texto.
A partir deste trabalho, almejamos analisar de que modo dois internautas, a partir de uma postagem do Ministério da Saúde no próprio perfil do Twitter, utilizam, em sua argumentação, estratégias de impolidez na promoção de mútua violência linguístico-discursiva. No âmbito teórico, articulamos os estudos de (im)polidez, inscritos em domínios micro/linguístico, macro/sociodiscursivo e meso/sociointeracional, e os estudos da argumentação, com foco na argumentação erística, dada a sua intrínseca relação com a violência linguístico-discursiva. No âmbito metodológico, optamos por conduzir um estudo netnográfico, inscrito em uma episteme exclusivamente qualitativa, na seleção e na análise de textos relacionados a uma interação mediada on-line no Twitter que tivesse um caráter conflituoso e que discutisse a hidroxicloroquina como estratégia de tratamento precoce no combate ao COVID-19. No âmbito analítico, salientamos que, de modo geral, a impolidez se tornou gradativamente mais intensa entre o internauta e a internauta, instaurando-se uma argumentação erística, permeada por argumentos ad hominem e ad personam, na coconstrução de metapragmáticas de violência linguístico-discursiva. Acreditamos ser salutar que perfis institucionais possam instituir políticas de moderação de tais interlocuções, incentivando diálogos construtivos e agregadores.
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