O texto apresenta reflexões a respeito da potencial produtividade teórica e heurística do conceito de “discursos racializados” para o campo da análise de discurso materialista. Do ponto de vista teórico, o conceito proposto ressalta a compreensão de que a tensão racial é um problema constitutivo à formação social brasileira, tendo em vista o modo de produção que a domina, fato que coloca questões para a noção de condições de produção e para o eixo de constituição discursiva. Do ponto de vista analítico, o conceito em pauta impõe a necessidade de, na mobilização do dispositivo de análise, exercer uma profunda escuta discursiva que considere as determinações históricas dos processos de racialização na sua relação com as materialidades do discursivo, refletindo, então, sobre os eixos da circulação e da formulação dos discursos. Através da reflexão empreendida no texto, chega-se à conclusão de que os discursos racializados não se limitam a discursos de ou sobre raça, podendo então interferir em outras instâncias discursivas.
Este trabalho é uma análise discursiva do funcionamento dos discursos racializados a partir de entradas dos verbetes "moleque" e “pivete” em dicionários de língua portuguesa produzidos entre o séc. XVIII e o séc. XXI. O embasamento teórico está sustentado nos pressupostos da Análise do Discurso de perspectiva materialista e da História das Ideias Linguísticas. Nesse sentido, pretendeu-se analisar os deslizamentos de sentido dos verbetes tendo em vista os desdobramentos históricos da sociedade brasileira no tempo. O trabalho foi feito ao considerar dicionários como instrumentos linguísticos hegemônicos da colonização, e o racismo como componente estrutural da sociedade brasileira na história. Por fim, concluiu-se que a memória discursiva que atravessa os verbetes em questão permite a associação, ainda hoje, de discursos racializados e efeitos de sentido pejorativos associados às designações “moleque” e “pivete”.
RESUMO: Neste artigo, analiso a formulação "A cidade que queremos" posta em circulação a partir da produção discursiva de um movimento social urbano da cidade de Salvador, Bahia. O objetivo da análise é compreender o funcionamento do que chamo aqui de resistência possível e de efeito de resistência. Para tanto, parto da reflexão teórica de Michel Pêcheux em torno da noção de resistência, chamando atenção para a necessidade de compreensão deste conceito considerando múltiplas determinações que envolvem um sujeito descentrado o qual se constitui junto com o sentido, o equívoco como real da língua e a contradição como real da história. PALAVRAS-CHAVE: Discurso. Cidade. Movimento social. Resistência. RESUMEN: En este artículo, analizo la frase "La ciudad que queremos", propagada a partir de la producción discursiva de un movimiento social urbano de la ciudad de Salvador, Bahía. El objetivo del análisis es entender el funcionamiento de lo que llamo aquí "resistencia posible y efecto de resistencia". Para ello, parto de la reflexión teórica de Michel Pêcheux sobre la noción de resistencia, resaltando la necesidad de entender este concepto y teniendo en cuenta las múltiples determinaciones que envuelven: un sujeto descentrado que se constituye junto al sentido; el equívoco como la realidad de la lengua y la contradicción como la realidad de la historia.
FEDATTO, Carolina Padilha. Um saber nas ruas: o discurso histórico sobre a cidade brasileira. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2013. 215 p., il. ISBN 9788526810440 (broch.).
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