Vivemos ainda, em escala mundial, sob os reflexos da última grande crise financeira do capital que, em 2008, se alastrou a partir da economia e do sistema bancário norte-americano. Por conseguinte, assistimos à incessante busca para racionalizar o sistema de acumulação, e neste processo a terra ganhou papel fundamental, seja por meio da sua desnacionalização ou pelo controle dos produtos da cadeia do "Agro", exercido pelos "Impérios" agroalimentares (PLOEG, 2008). O ordenamento dos Impérios significa o controle do território e a disseminação de normas e padrões como forma de assegurar a apropriação das riquezas. Situação que sinaliza que o capital encontrou fôlego no sistema agroalimentar e no controle dos bens primários, em particular minérios, grãos, agrocombustíveis e celulose - grande parte transformada em commodities. A análise da questão agrária, em Andalucía-ES, representa a possibilidade de se pensar novas configurações da questão agrária, dentre elas, a aproximação entre a luta pela terra e o debate acerca da insatisfação com o atual sistema agroalimentar global - em outras palavras, a confluência do debate da posse e do uso da terra. Certamente, trata-se de um desenho da necessária aliança cidade-campo capaz de acelerar a democratização da terra e a transição agroecológica no horizonte de alternativas à crise neoliberal.
O Território Rural do Bolsão, área que compreende oito municípios na região leste de Mato Grosso do Sul, Brasil, tem sido palco da expansão dos monocultivos de eucalipto, acirrando as disputas territoriais entreo campesinato e a agricultura capitalista. As mulheres que residem nos assentamentos de reforma agráriainstalados nessa área têm protagonizado importantes ações para a construção da resistência camponesa. Para melhor compreensão desse protagonismo, buscou-se dar visibilidade às questões de gênero desenvolvidas no campo. A pesquisa foi feita por meio de levantamento de referencial teórico, coleta de dados, trabalhos decampo e entrevistas feitas com 23 mulheres de cinco assentamentos. Revelaram-se o aumento da participação feminina na esfera pública, bem como mudanças na divisão sexual de tarefas no âmbito privado. Tais mudançasdialogam com os debates da agroecologia e da soberania alimentar, e destacam a importância do esforçofeminista entremeado às questões de luta e permanência na terra no contexto neoliberal atual. Ideias destacadas: artigo de investigação sobre o protagonismo das mulheres dos assentamentos da reforma agrária na construção da resistência camponesa, no contexto da expansão de monocultivos, analisados por meio de levantamento de dados estatísticos e entrevistas com mulheres de cinco assentamentos do Território Rural do Bolsão, Mato Grosso do Sul, Brasil.
A natureza e os fundamentos da crise recente do capital aparecem como reflexos de um modelo econômico amplamente testado, cujo eixo de sustentação é o mito de que progresso (científico e tecnológico) é fonte de prosperidade universal. Embora não haja realmente soluções de pronto para a crise, os ensinamentos que ficaram de Hobsbawm (2012) apontam que o termômetro de um mundo melhor não é a maximização do crescimento econômico e das rendas pessoais, mas as decisões públicas voltadas para o desenvolvimento humano. Entretanto, o que assistimos é a busca incessante para manter a acumulação e o caminho seguido para este reencontro se deu no caso brasileiro, em especial, pela via do mercado de commodities. Situação que sinaliza que o capital transnacional encontrou fôlego nos bens primários, um arquétipo que permite o reencontro da acumulação pela combinação de elementos de insustentabilidade, a saber: concentração da terra, precarização do trabalho, crise agroambiental. Por conseguinte, este caminho de apropriação de bens primários em escala global e, portanto, revalorização do campo como parte do eixo de acumulação do sistema capitalista, implica numa reelaboração do debate cidade-campo e do local-global, tanto na perspectiva do capital como da resistência.
Os impactos socioambientais no campo, que estão na raiz da crise agroalimentar em escala planetária, foram gerados no Brasil a partir do modelo de desenvolvimento rural conhecido como Revolução Verde. A partir de 1960, este paradigma agrícola buscou modernizar o latifúndio via mudança técnica sem alterar a estrutura fundiária. Tornou-se crescente as consequências contraproducentes deste arquétipo de agricultura, tais como: concentração fundiária, erosão do solo, desertificação, poluição por agrotóxicos e perda de biodiversidade. Como contraponto, emerge mundialmente o tema “campesinato e agroecologia” como alternativa ao modelo convencional de agricultura, e se inicia no Brasil a construção deste novo paradigma produtivo. Apesar da hegemonia no Território Rural do Bolsão da propriedade capitalista da terra voltada à pecuária e à silvicultura, tem-se, contraditoriamente, a presença da pequena propriedade familiar camponesa voltada ao autoconsumo e a produção/comercialização de excedentes. A criação do Núcleo de Agroecologia do Bolsão-UFMS (NEA-BOLSÃO) é fruto desta realidade e representa a articulação que se iniciou, em 2013, entre o Laboratório de Geografia Agrária, da UFMS/Campus de Três Lagoas, o Instituto de Sociología e Estudios Campesinos (ISEC), Universidade de Córdoba-Espanha, e um grupo de famílias em transição agroecológica do assentamento de reforma agrária 20 de Março, em Três Lagoas. Este artigo visa resgatar esta experiência ainda em curso de transição agroecológica no PA 20 de Março, promovida pelo NEA-Bolsão, analisando as seguintes ações implantadas nas unidades de referência agroecológica: canais curtos de comercialização, feiras de resgate das espécies crioulas, cursos e oficinas sobre caldas e biofertilizantes e o estímulo ao associativismo.
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