Resumo O estudo do efeito da razão e das emoções na interpretação humana em uma perspectiva pragmática se justifica pelo fato de que no âmbito das ciências cognitivas as investigações que envolvem o uso da linguagem associada às emoções ainda são tímidas. Tomando como referência a teoria da relevância (SPERBER; WILSON, 2001), as neurociências cognitivas (GAZZANIGA; IVRY; MAGNUM, 2006; DAMÁSIO, 1994, 2004) e a psicologia cognitiva (LEDOUX, 1996; STERNBERG, 2010), o objetivo deste estudo é advogar em favor de uma arquitetura mental que congrega razão e emoções. A partir da modelação da interpretação de um enunciado noticiando a frustração de uma expectativa, argumenta-se que, em um ato comunicativo, o desejo - ao fazer uma ponte entre a razão, que opera a partir da valoração das representações contextuais, e as emoções, que atribuem níveis afetivos às representações mentais - é o gatilho para a atribuição de relevância.
O interesse pela influência das emoções sobre a linguagem humana remonta à Grécia antiga, sendo que, ao longo da história, a dicotomia corpo/mente mostrou-se bastante aguda, principalmente na Filosofia, com Espinosa, Santo Agostinho, Kant e Descartes, para quem as emoções seriam sinal de distúrbio e uma mente sadia seria aquela que estivesse livre das paixões. Tomando como referência a Teoria da Relevância (SPERBER; WILSON, 2001), emparelhada aos estudos de Damásio (1994, 2004), o objetivo deste estudo é advogar em favor de uma integração mental que congrega razão e emoções na interpretação discursiva. A motivação que norteia o estudo parte do pressuposto de que, na interpretação de enunciados conversacionais, o efeito do significado interpretado não é apenas um produto da razão, mas é também, em alguma medida, afetado pelas emoções e sentimentos. As conclusões apontam para a ideia de que o desejo é o gatilho mental disparador do processo inferencial humano
Resumo Este texto revisa o conceito de metáfora ad hoc e a hipótese de Sperber e Wilson (1995) sobre o significado metafórico como ajuste por implicação inferencial entre os conceitos lexicalizados e as informações contextuais via alargamento ou estreitamento do conceito (CARSTON, 2002, 2010; WILSON; CARSTON, 2006, 2008) e considera a hipótese da extensão de uma categoria do modelo relevantista ampliado (SPERBER; WILSON, 2008). Porém, apesar de promissores, essas abordagens ainda estão bastante restritas à presunção de efeitos racionais apenas. Partindo da premissa de que a metáfora é uma estratégia de ostensão comunicativa construída sobre conceitos de categorias e propriedades distintas, o texto discute a plausibilidade do enriquecimento de interpretação metafórico. A conclusão é que a metáfora criativa ad hoc, guiada pelo princípio de relevância, além de efeitos cognitivos também gera efeitos emocionais (SANTOS; GODOY, 2020; 2021).
A Coleção de Pragmática, organizada pelo Grupo de Pesquisa Linguagem, Comunicação e Cognição do CNPq, tem como objetivo apresentar pesquisas científicas realizadas nesta área em seus múltiplos diálogos com outras ciências, como a neurociência, biologia, psicologia, ciências sociais, estudos literários, direito, tradução, comunicação social, entre várias outras, como também difundir investigações aplicadas aos mais diversos contextos da atividade humana nesses âmbitos. Este primeiro volume, inaugural, conta com pesquisas de professores doutores nacionais e estrangeiros, assinadas em conjunto com colegas e alunos, com o propósito tanto de fortalecer o intercâmbio de ideias na ABRAP – Associação Brasileira de Pragmática, como de maximizar o alcance, originalidade, potencialidade de impacto e interdisciplinaridade desta ciência no Brasil.
Analisamos o comportamento patológico do personagem cervantino, Don Quijote, a partir da perspectiva da Teoria da Relevância (SPERBER; WILSON, 2001). Abordamos a loucura quijotesca como consequência de um enviesamento cognitivo decorrente da relação “custo-benefício” sob a qual trabalha a mente humana na interpretação do significado de novas informações. A análise parte das situações comunicativas narradas nos capítulos IV, VIII, XVIII, XXI e XXII da primeira parte do romance El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha, cujo protagonista desenvolve uma patologia mental após a intensa e contínua leitura de novelas de cavalaria, a mudança de sua conduta é evidenciada na restrição dos contextos aos quais ele recorre para interpretar o significado das informações que processa em suas interações. Assim sendo, os delírios de Don Quijote apresentam-se como disfunções pragmáticas, que podem ser explicadas pelo Princípio de Relevância que orienta a mente humana a processar apenas as informações mais relevantes.
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